Ao longo do mês de maio o ObservaSinos deu vistas a uma série de indicadores do trabalho, como uma forma de despertar para o debate sobre a realidade que temos e a realidade do mundo do trabalho que queremos na região. A análise publicada no dia 21 de maio tematizou o mercado de trabalho dos jovens no Vale do Sinos intitulado “Mercado de trabalho dos jovens no Vale dos Sinos durante o governo Lula”. Foram comparados os dados do emprego e desemprego entre os anos 2003 e 2010, apontando uma sensível redução na quantidade de jovens no mercado de trabalho junto ao setor da indústria, em contraposição a um aumento da ocupação no setor de serviços e comércio, no Vale do Sinos. No entanto, ao comparar no mesmo período o item remuneração dos jovens, a média que era 2,18 salários mínimos, em 2003 cai para 1,63 salário mínimo em 2010, uma redução em 25,10%.
Para aprofundar e debater esta realidade foi convidada a mestranda em Saúde Coletiva pela Unisinos, Assistente Social e Coordenadora da ONG Trilha Cidadã, Fabiane Asquidamini. Seu enfoque analítico deu-se a partir do contexto da juventude. Antes de mais nada, Fabiane destacou que é preciso ter presente que falamos de “juventudes” que enfrentam esses dilemas próprios de uma sociedade capitalista, onde “não ter educação e trabalho é não ter acesso à vida com dignidade”.
Um dos principais desafios que se coloca, portanto, é a questão da precarização do mundo trabalho, que acaba tendo significado especial para as “juventudes”. Para a Coordenadora da “Trilha Cidadã”, essa realidade “tem sido uma constância na vida dos jovens... a inserção tem se mostrado cada vez mais precária, as ocupações que são destinadas aos jovens onde em sua maioria, são posições ocupacionais de baixa qualidade, com vínculos empregatícios precários, com baixa remuneração, e, muitas vezes pertencentes ao setor informal, realidade essa confirmada pelos dados acima mencionados.”
Não se pode, pois considerar o problema apenas mediante os desafios imediatos. Faz-se necessário problematizar a realidade do trabalho para além da falta de qualificação, conforme Fabiane. Assim “precisamos repensar o modelo de desenvolvimento e de produção do nosso País. Produzimos para quem? Para que tipo de desenvolvimento? Ampliar a discussão do trabalho e da renda para a juventude exige integrar outras dimensões nesta discussão, precisamos romper a soberania do olhar econômico e do mercado”, completa a Assistente Social.
Repensar a realidade do trabalho sob o foco do binômio educação/emprego apenas sob o olhar referencial do mercado pode significar uma armadilha, uma vez que para o mercado a resposta final sempre incidirá no aumento do consumo. Neste sentido, Asquidamini problematiza: “Precisamos pensar em profissionalização ou em cidadania? Em inserção no consumo ou em direitos de participação?”.
Não há, portanto, como compreender tal questão sem pensar nas suas implicações principalmente em relação à necessidade de ‘implementar e desenvolver políticas públicas de geração de trabalho, emprego e renda para a juventude da nossa região”, conforme Fabiane. No entanto, tais políticas precisam estar ligadas ao “acesso à educação de qualidade, tempo livre, lazer, convívio social”, pois são estas condições indispensáveis para “qualquer ser humano se desenvolver e viver em sociedade”, complementa a Coordenadora da “Trilha Cidadã”.
Em sintonia com estas reflexões o ObervaSinos mantém a convicção de que os fatores se entrecruzam e se complementam. Por isso, a discussão sobre a realidade do trabalho instiga também a análise e compreensão da realidade da educação, suas finalidades e significados. Neste sentido, para instrumentalizar os profissionais e a sociedade em geral na compreensão da realidade o “Programa ObservaSinos” estará promovendo a Oficina de Indicadores educacionais no dia 06.06.2012 (primeira etapa) e dia 20.06.2012 (segunda etapa). As inscrições são gratuitas e poderão ser feitas na página de eventos do IHU.