Mercado de trabalho dos jovens no Vale dos Sinos durante o governo Lula

  • Segunda, 21 de Maio de 2012

O ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU,  tem o objetivo de reunir e publicizar indicadores de base de dados públicas, assim como promover o debate e análise destes dados em confronto com as políticas públicas.

Esta semana Anderson Bonetto Carraro, economista pelo Curso de Ciências Econômicas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS e orientando da Profa. Dra. Angélica Massuquetti, utiliza as informações destas bases de dados analisando o mercado de trabalho para jovens durante o governo Lula (2003-2010).


Eis a análise

O Vale do Rio dos Sinos é uma das regiões com maior potencial econômico do Rio Grande do Sul e com algumas das maiores empresas do estado e do Brasil instaladas em seu território. A região tem uma forte tradição no setor calçadista, sendo o quarto polo da área no país, e representa, atualmente, cerca de 20% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho.

Forte demandante de mão de obra, o setor calçadista vem passando por várias crises nos últimos anos. Esta situação acaba afetando todos os trabalhadores da região, em especial os jovens, público que, segundo Raul Luís Assumpção Bastos (2007), tem sua entrada no mercado de trabalho geralmente de forma difícil, se caracterizando por elevadas taxas de desemprego e de informalidade, bem como por baixos níveis de rendimento e de proteção social. Conforme afirma Rogério Nagamine Constanzi (2009), embora os setores do mercado de trabalho nos quais os jovens estão inseridos estejam sujeitos às flutuações da economia, em geral, a juventude é atingida mais severamente em momentos de retração e menos beneficiada em períodos de melhoria e de recuperação econômica. De acordo com a OIT (2009), jovem é o indivíduo com idade entre 15 e 24 anos de idade. Porém, neste estudo, optou-se por utilizar a faixa etária de 16 a 24 anos, pois, no Brasil, a idade mínima de ingresso legal no mercado de trabalho é de 16 anos, conforme emenda de 1998 à Constituição Federal. Cabe destacar que alguns estudos consideram, como jovens, as pessoas que tem entre 15 e 29 anos de idade.

A entrada ao mercado de trabalho por necessidades econômicas, geralmente, afasta o jovem de baixa renda do aumento da escolaridade e da qualificação profissional. Como, atualmente, o sistema educacional brasileiro, na sua quase totalidade, é frágil, tendo em vista que o país está sempre nos últimos lugares em leitura, matemática e ciências, dentre as 65 nações pesquisadas pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), organizado pela Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE), esta característica vem a ser uma forte variável da inserção juvenil ao mercado de trabalho. Esta disparidade ocorre pela baixa qualidade, na média, do ensino, principalmente nas escolas públicas brasileiras. Tal situação influencia os parâmetros de emprego dos jovens do Vale do Rio dos Sinos, assim como no resto do país.

Mas qual a população de jovens que se inseriram no mercado de trabalho da região na última década, durante o governo do presidente Lula e qual a remuneração média recebida por eles neste período? Este questionamento visa analisar a inserção dos jovens no mercado de trabalho do Vale do Rio dos Sinos durante o governo Lula, ou seja, de 2003 a 2010, durante a primeira década e o primeiro governo federal eleito deste século.

Formada por 14 municípios, a região tem algumas disparidades, tais como número de habitantes e setores econômicos predominantes em cada cidade. A seguir, apresenta-se a tabela 1 com o número de trabalhadores jovens do Vale do Rio dos Sinos, por setor, em 2003 e 2010.

Verifica-se que mais de 50% dos trabalhadores jovens da região concentram-se em apenas três municípios (Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo) e que todos os setores econômicos cresceram em número de empregados nesta faixa etária, com exceção do industrial, influenciado pelo período de forte recessão pelo qual passou o setor calçadista. Nota-se, ainda, uma crescente transferência da empregabilidade do setor industrial para os setores do comércio e de serviços, em especial este último.

Já na tabela 2 expõe-se a remuneração deste público jovem na região, sendo medida em salários mínimos. Verifica-se uma forte retração na renda recebida por eles em 2010 em comparação com 2003, isto em todos os municípios.

Mais uma vez percebe-se a forte influência negativa que o setor calçadista teve sobre o emprego dos jovens na região. Os três municípios (Araricá, Portão e Sapiranga) com maior queda nos rendimentos juvenis são predominantemente calçadistas, além de serem pequenos, o que revela uma maior dificuldade destes em lidar com uma maior mobilidade de mão de obra entre setores econômicos, como ocorreu nos maiores municípios.

Na tabela 3, contempla-se uma exposição dos valores dos salários mínimos vigentes em cada ano do governo do presidente Lula. Adicionalmente, analisa-se o percentual de reajuste do salário, bem como o nível de inflação que vigorava na época.

Uma possível explicação para a queda nos níveis de remuneração, em salários mínimos, no período, pode ser observada: percebe-se que o salário mínimo teve um aumento real maior do que 53% durante os mandatos do último governo. Este índice é muito maior do que o crescimento do número de trabalhadores jovens na região (7,15%), durante o mesmo espaço de tempo.

Conclui-se, portanto, que durante os últimos dois mandatos presidenciais, de 2003 a 2010, o mercado de trabalho juvenil no Vale do Rio dos Sinos cresceu pouco, tendo sido influenciado pela crise no setor calçadista. Durante o período, o jovem da região teve uma sensível queda da renda recebida, quando medida em salários mínimos, mas esta situação se explica pelo elevado acréscimo real que teve o principal balizador de remuneração do Brasil. Há, por outro lado, uma evidente tendência de mobilidade de mão de obra juvenil do setor industrial para o comércio e serviços, em especial nos maiores municípios da região.