O mercado de trabalho da Região Metropolitana de Porto Alegre apresentou mais admissões do que demissões nos meses de agosto e setembro. Apesar do maior número de trabalhadores jovens, observam-se contratos com remuneração mais baixa, especialmente salários menores que R$ 1.500,00. Para os municípios do Vale do Sinos, destaca-se o enxugamento das contratações no setor da indústria de transformação. Confira abaixo o texto com as informações mais detalhadas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED.
Geração e gênero
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED publicados nos meses de agosto e setembro foram sistematizados pelo Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU. O mercado de trabalho formal da região metropolitana de Porto Alegre apresentou mais contratações do que demissões. Para o mês de agosto, houve um saldo positivo de 1.050 trabalhadores e para o mês seguinte esse valor subiu para 2.138. Em termos absolutos, foram 38.381 admissões e 37.331 demissões para o primeiro mês e 35.871 contratações e 33.733 desligamentos para o último mês.
Houve um maior número de demissões entre os homens para os dois meses de análise, se comparados com os registros do sexo feminino. Em setembro, por exemplo, foram 18.216 desligamentos para o sexo masculino e 15.517 para as mulheres.
Infográfico: Número de contratações, demissões e saldo de trabalhadores por sexo na RMPA (agosto e setembro/2019)
Analisando os dados por faixa etária, percebe-se que em agosto houve maior contratação de pessoas entre 17 e 29 anos. Por outro lado, trabalhadores acima de 30 anos registraram um maior número de desligamentos. Aqueles entre 50 e 64 anos chegaram a apresentar um saldo negativo de 751 cidadãos.
Já em setembro, a faixa de maior admissão que demissão se estendeu também para os trabalhadores entre 30 e 39 anos de idade, isto é, houve um saldo positivo de 109 trabalhadores. Destacam-se as 4.861 contratações de empregados entre 18 e 24 anos em Porto Alegre, assim como 448 contratados em Novo Hamburgo com idade entre 25 e 29 anos. Já em Canoas, houve 423 admissões de pessoas entre 40 e 49 anos.
Infográfico: Saldo de trabalhadores por faixa etária na RMPA (agosto e setembro/2019)
Renda
As faixas salariais entre 0,5 e 1,5 salário mínimo foram as únicas que apresentaram saldo positivo de empregados no mês de agosto, ou seja, houve maior admissão de trabalhadores que recebem salários de até R$ 1.500,00. Todos os salários acima deste valor apresentaram saldos negativos. A faixa entre 2,01 e 3 salários mínimos, por exemplo, chegou a registrar 607 postos de trabalho a menos.
Gravataí recebe destaque por demitir 802 pessoas que recebiam entre 1,01 e 1,51 salários mínimos, bem como 340 cidadãos com faixa salarial entre 1,51 e 2 salários mínimos. São Leopoldo, da mesma forma, registrou 333 desligamentos na faixa de 1,51 e 2 salários mínimos e Esteio contabilizou 102 demissões com pessoas que recebiam entre 2,01 e 3 salários mínimos.
Infográfico: Saldo de trabalhadores por faixa salarial na RMPA (agosto e setembro/2019)
Salvo mínimas alterações, o mês de setembro replicou o comportamento do mês anterior. Observa-se um saldo positivo de 3.295 entre as faixas salariais de 0,5 a 2 salários mínimos. Em contrapartida, contabilizou-se um saldo negativo de 1.157 trabalhadores que possuíam rendimentos acima de 2 salários mínimos.
Enquanto Cachoeirinha registrou 168 contratações com rendimento entre 0,51 e 1 salário mínimo e Canoas 1.441 admissões de trabalhadores que recebem entre 1,01 e 1,50 salários, os municípios de Novo Hamburgo e São Leopoldo contabilizaram, juntos, 349 demissões de pessoas que recebiam entre 2,01 e 3 salários mínimos.
Setores da economia
No mês de agosto, os setores de atividade extrativa mineral, indústria de transformação, construção civil, comércio e administração pública registraram conjuntamente um saldo de -898 postos de trabalho. A indústria de transformação, sozinha, contabilizou um sado negativo de 318 trabalhadores, sendo 89% deste valor localizado nos municípios do Vale do Sinos. Novo Hamburgo, por exemplo, contabilizou 737 admissões e 886 desligamentos, resultando em um saldo de -149 empregados. Esteio e Campo Bom também apresentaram saldos de -50 e -31 trabalhadores, respectivamente.
Por outro lado, o setor de serviços registrou um saldo positivo de 1.838 postos de trabalho. Este valor se deu graças aos municípios de Porto Alegre, com saldo de 1.055 contratações a mais; Gravataí com um saldo de 102 pessoas contratadas; e Viamão com um valor positivo de 97 admissões.
Infográfico: Saldo de trabalhadores por setores na RMPA (agosto e setembro/2019)
Em setembro, apenas os setores de serviços industriais de utilidade pública e de administração pública registraram mais demissões do que contratações. Em termos numéricos, foram -40 postos de trabalho para os serviços industriais e -6 para a administração.
Analisando o setor da indústria de transformação, observam-se 6.016 contratações contra 5.992 demissões. Também, percebe-se que Araricá, Dois Irmãos, Esteio, Ivoti, Nova Hartz, São Leopoldo e Sapucaia do Sul somam um saldo de -224 postos de trabalho. Em contrapartida, estes mesmos municípios apresentam um saldo positivo de 33 trabalhadores no setor de serviços, bem como registram 33 contratações a mais para o setor da construção civil.
Infográfico: Número de contratações e demissões por setores na RMPA (setembro/2019)
Setor industrial no Vale do Sinos
Ampliando a análise do número de contratações e desligamentos no mês de setembro deste ano nos setores da indústria de transformação localizados no Vale do Sinos, observam-se importantes indicativos. A indústria de madeira e mobiliário apresentou o maior saldo negativo entre as demais (-24), seguida da indústria de produtos alimentícios com -10 e da indústria mecânica com -9 postos de trabalho. A indústria calçadista registrou 9 contratações a mais no mês de setembro, valor influenciado principalmente pelo município de Viamão com saldo positivo de 71 postos de trabalho e Portão com mais 12 admissões.
Infográfico: Número de contratações, demissões e saldo de trabalhadores por setores no Vale do Sinos (setembro/2019)
Por outro lado, o setor de comércio varejista registrou o maior saldo positivo, foram 200 contratações a mais, seguido da construção civil com 156 trabalhadores a mais e os serviços gerais de alojamento, alimentação, reparação, manutenção, com um saldo de mais 133 admissões.
Fragilização da renda, desemprego e desigualdades sociais
“Nem mesmo em 1989, que constitui o nosso pico histórico de desigualdade brasileira, houve um movimento de concentração de renda por tantos períodos consecutivos.” Essa frase foi extraída da reportagem de Giovanna Galvani, publicada por CartaCapital e republicada em agosto deste ano na Revista IHU On-Line. A matéria segue evidenciando que “já são 17 trimestres analisados em que a fatia mais abastada dos brasileiros se distancia cada vez mais da parcela mais carente. Enquanto a renda da metade mais pobre da população caiu cerca de 18%, somente o 1% mais rico teve quase 10% de aumento no poder de compra. A principal motivação para tal discrepância, segundo o estudo, foi o desemprego”.
Os dados da Região Metropolitana referentes ao maior número de contratações nas faixas salariais menores apresenta um quadro nacional já apontado por José Eustáquio Diniz Alves em um artigo publicado no ano passado pela Revista IHU On-Line. Segundo o doutor em demografia, “o número de pessoas na extrema pobreza no Brasil, em 1993, estava em torno de 20 milhões, caindo para algo em torno de 14 milhões depois da implantação do Plano Real. Em 2013, estava em torno de 13 milhões e caiu para 5,2 milhões de pessoas em 2014. Mas o número de pessoas em situação de extrema pobreza aumentou para 6,4 milhões em 2015, 10 milhões em 2016 e 11,8 milhões em 2017”.
Com relação à indústria de transformação, nota-se que desde maio deste ano este setor apresenta retração em sua atividade e número de contratações. Estas atividades chegaram a representar 50% das demissões da Região Metropolitana de Porto Alegre no quinto mês de 2019 e segue com saldos negativos até o mês de setembro.
No Brasil, este movimento toma grandes proporções. Segundo reportagem da Rede Brasil Atual - RBA, republicada em junho deste ano pela IHU On-Line, a indústria fechou 1,3 milhão de vagas entre 2013 e 2017. “País chegou a ter mais de 9 milhões de empregados no setor em 2013 e fechou 2017 com 7,7 milhões. Salário real caiu 15%, receita recuou 8% e Sudeste perdeu participação, assim como setor automobilístico”, aponta a matéria.
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