No dia três de outubro foi realizado na Unisinos São Leopoldo o Ciclo de Debates: Trabalho, Emprego e Renda no Vale do Sinos, com a exibição de dados e indicadores a respeito da temática, que revelou a complexa realidade em torno da garantia destes direitos pela grande maioria da população. Moisés Waismann, doutor em educação, apresentou reflexões sobre o trabalho, traçando uma linha do tempo entre a revolução industrial e os tempos de hoje. Problematizou o contexto atual, cujo modo de produção libera assalariados e o Estado de um protagonismo. “Estamos vivendo com um novo modo de produção, liberando assalariados e empreendedores. Eu faço um esforço para compreender este outro modo, que, diferente de antigamente, não precisa mais do Estado Nacional e se vê livre do trabalho.”
Com o objetivo de dar vistas à realidade e promover o debate em vista da avaliação das políticas públicas, o Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, sistematizou os dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS, para a comparação dos vínculos ativos no ano de 2015 com a movimentação do mercado de trabalho no Vale do Sinos durante o ano de 2016.
A partir dos cinco grandes setores da economia, segmentados em grau de instrução e faixa salarial média dos trabalhadores, observou-se que em 2015 no Vale dos Sinos, 39,9% dos trabalhadores tinham até o ensino médio incompleto e 40,8% tinham o ensino médio completo, concentrando juntos aproximadamente 80% do total de trabalhadores.
Sobre a perspectiva de rendimentos do trabalho, 3 em cada 4 trabalhadores recebem mensalmente até 3,00 salários mínimos (27,1% recebem até 1,5 e 48,6% recebem de 1,51 a 3,00).
No ciclo, os dados alimentaram o debate sobre o perfil do desemprego causado pela diminuição dos postos no Vale do Sinos: “Nós poderíamos voltar a 2010 e 2012, onde as empresas estavam crescendo e contratando. A partir dos próximos anos as empresas vão crescer e não vão mais contratar, pois os postos de trabalho estão fechando e não serão mais abertos”, diz Moisés.
Se analisada a movimentação do emprego em 2016 no Vale do Sinos pelos cinco grandes setores da economia, a indústria teve um saldo de 2.330 postos de trabalho fechados; a construção civil, 1.261; o comércio, 472; e o setor de serviços teve perda de 54 postos de trabalho. Apenas o setor Agropecuário, extrativo vegetal, caça e pesca criou empregos ao longo do ano no Vale do Sinos (+43), de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED.
Pode-se resumir o maior fechamento de postos de trabalho entre trabalhadores com ensino fundamental completo (-2250) e com 6º a 9º ano do fundamental (-1968). Aqueles com ensino superior completo aparecem em seguida, com 632; depois, os com ensino médio incompleto, com 501; e os com o 5º ano do fundamental completo, com a perda de 425 postos. Trabalhadores com os menores graus de instrução também enfrentaram perdas: 42 para os com até o 5º do fundamental e 11 postos a menos para os analfabetos.
Em 2016, foi observada criação de postos de trabalho apenas para trabalhadores com ensino médio completo (+1753) e com ensino superior completo (+2). Por escolaridade do trabalhador, para aqueles com ensino médio completo o setor que mais absorveu foi o de serviços, com 938 postos criados; o de comércio, com 811 postos criados; e o industrial, com 269 postos criados. O comércio também foi o único com saldo positivo para trabalhadores com ensino superior incompleto ou completo, totalizando 211 postos adicionais em 2016.
Sobre o salário mínimo, Moisés também expressou a sua opinião: “Muitas pessoas não têm condições de conseguir seu próprio sustento. A partir deste panorama, temos noção de como os brasileiros sobrevivem com o salário mínimo ou recebendo subsídios do governo.”
Concluindo, a concentração das admissões nas faixas salariais mais baixas e de trabalhadores com maior qualificação reflete na reconfiguração contemporânea do mercado de trabalho. Em conjunto, a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência corroboram com a flexibilização da jornada e do trabalho, redução da oferta de emprego e sobrecarga dos que permanecem formalmente empregados. Encontramo-nos no desafio de construir um novo significado para o trabalho – que não o de dignificar o homem – enquanto planejamos uma alternativa de renda.