22 Outubro 2015
"Veja, uma coisa eu posso dizer com certeza: condicionar o Sínodo não é possível. Se alguém quer fazer esse jogo, não vai conseguir: é um jogo que nós não fazemos." O cardeal Walter Kasper, do qual tudo começou – foi ele a quem Francisco confiou em 2014 o discurso introdutório –, está junto à Porta Sant'Anna. Já estamos quase lá. Os 270 Padres sinodais subdivididos em 13 círculos aprovaram os seus relatórios, uma comissão está tentando fazer a síntese, no sábado se votará "e, depois, se entregará esse texto ao papa: será ele quem vai decidir e escrever, depois do Sínodo, um documentos seu".
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 22-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Eminência, o jornal L'Osservatore Romano escreve que o momento escolhido, nos dias mais delicados do Sínodo, "revela a intenção manipuladora da poeira levantada". Você teve essa impressão?
Eu não posso saber de nada, mas é provável que se queira ter feito uma ação de perturbação. Um pouco como a história daquele padre polonês no início do Sínodo, como ele se chama...
Charamsa? Aquele que disse ter um companheiro há anos?
Sim. Todos entenderam qual era a intenção, mas dissemos entre nós: não nos deixemos manipular. E isso não teve nenhum efeito sobre o Sínodo. Será assim também neste caso.
No Vaticano, disseram: querem confundir as ideias...
Mas todos vemos isso, o papa também, todos os dias, e eu lhe garanto que ele certamente não dá a impressão de estar doente: ele está sempre em movimento, cheio de energia. No máximo, ele trabalha demais!
Outras vezes já se tentou condicionar. Por quê?
Porque certas pessoas estão nervosas e agora olham com apreensão para o resultado do Sínodo, dentro e fora. Além disso, alguns não gostam desse papa, isso me parece evidente. Talvez tentaram nos influenciar: mas nós fazemos o nosso trabalho, o papa está em boa forma. É uma tentativa vã.
O relatório em alemão denuncia as "declarações públicas" e as "comparações ofensivas" de "alguns Padres sinodais". O cardeal Marx disse que ele se referia a uma entrevista em que o cardeal Pell contrapunha no Sínodo as teologias de Kasper e de Ratzinger.
Sou grato pela atenção ao meu círculo, mas quando falaram sobre isso eu estava ausente.
Ser considerado oposto a Ratzinger lhe entristeceu?
É desleal envolver o Papa Bento XVI nas questões do Sínodo. E, depois, com Ratzinger, nos conhecemos há mais de 50 anos! Sempre cooperamos, até mesmo durante o seu pontificado... Houve também posições diferentes, mas isso é normal na teologia: Tomás de Aquino e Boaventura defenderam coisas diferentes, e ambos são santos!
A busca da contraposição indica nervosismo?
Sim, mas sobretudo tende a dividir a Igreja. O Sínodo é caminhar juntos. Assim, ao contrário, se divide a Igreja entre dois polos. E eu não quero que isso: como cardeal, não se pode querer uma divisão.
O círculo alemão incluía, dentre outros, você e o cardeal Müller, prefeito do ex-Santo Ofício, e vocês sempre votaram com unanimidade...
Sim, e houve uma boa colaboração entre Müller e mim, nunca houve a ruptura que alguns pensavam. Espero que se possa ir na direção indicada pelo nosso círculo.
Para os casos "difíceis", como os divorciados e recasados, vocês propuseram uma solução inspirada em Tomás de Aquino: a aplicação dos princípios "com inteligência e sabedoria em relação às situações individuais muitas vezes complexas".
Certo: ninguém quer tocar a doutrina. É uma coisa pastoral, disciplinar. Para a admissão aos sacramentos, olha-se para a consciência da pessoa, para o "foro interno", indica-se a autoridade do bispo. É preciso distinguir as situações individuais, é claro, ninguém quer uma solução generalizada para todos.
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"Sim, é uma ação contra o Sínodo. Alguns não gostam do papa." Entrevista com Walter Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU