22 Outubro 2014
Fala o chefe dos bispos alemães: “Bergoglio nos encorajou a discutir em plena liberdade. Até dois anos atrás um debate do gênero teria sido impensável, agora devemos ir em frente. É verdade, sobre certas questões demos dois passos em frente e um para trás. Mas, o importante é que se continue a fala: depois decidirá o Pontífice”.
A reportagem é de Marco Ansaldo, publicada pelo jornal La Repubblica, 20-10-2014. A tradução é de Benno Dischinger.
“O caminho está agora traçado. O gelo se rompeu. Sobre certos temas a Igreja pode agora discutir livremente. Há dois anos isto era impensável. Transparência! (ele o diz em italiano, ndr). Devemos seguir em frente. Avanti! (em italiano). Devemos abrir as portas, que não devem mais permanecer fechadas”.
Aos pés da elegante vila com vista sobre a Cúpula de São Pedro, que se torna sua residência quando está em Roma, o cardeal Reinhard Marx faz voluntariamente o ponto no termo do Sínodo sobre a família. Alguns dias atrás, cruzou algumas vezes informalmente com os jornalistas, mas sempre se subtraiu a um colóquio direto. Agora, porém, os trabalhos terminaram e é o momento, para o presidente do potente episcopado alemão, hoje arcebispo de Munique na Baviera, bem como membro do grupo restrito de cardeais chamados a aconselhar o Papa no governo da Igreja universal e a estudar um projeto de reforma da Cúria romana, de contar como andaram as coisas dentro da aula do Sínodo.
Cardeal Marx, como foram estas duas semanas de discussão?
“Foram dias fascinantes. O resultado é conhecido, porque as discussões não foram secretas”.
E a sua impressão?
Que no final foi aberta uma estrada. Eu sou um homem que vê as coisas de maneira positiva. Devemos pensar como será a situação na Igreja nos próximos 2-3 anos. E o Sínodo enfrentou temas difíceis, que jamais foram discutidos tão livremente.
O Papa desempenhou um papel central.
Ele se envolveu totalmente. Desde o início Francisco nos disse: “Aqui podeis discutir em plena liberdade”. Eis, este é o Papa Francisco. Colocou-se como garante de todos.
E o senhor, que temas importantes viu?
O tema da gradualidade no que se refere à irregularidade dos matrimônios. Mas, realmente são todos assim? Para mim, há elementos positivos a tomar em consideração. Segundo: a acolhida com os homossexuais. Também aqui recolhemos elementos para ir em frente no ensinamento da Igreja.
Os pontos mais controversos foram aprovados por uma maioria, mas também houve muitos votos contrários.
Sim, mas no complexo direi que podemos proceder com serenidade em direção ao Sínodo ordinário de outubro de 2015. Além disso, de tudo o que houve aqui falaremos daqui para frente também no interior das conferências episcopais, nas discussões teológicas, nos encontros públicos, nas igrejas locais. Repito: para mim o resultado é de todo positivo.
Houve variações no texto final com respeito àquele apresentado inicialmente. E, sobre os pontos mais discutidos, como a comunhão aos divorciados redesposados e a acolhida aos homossexuais, não se chegou à maioria qualificada.
Mas, isto é fruto do normal andamento do debate. Eu estou muito contente com tudo o que resultou. É verdade, há alguns temas sobre os quais se discutiu muito, e um destes é seguramente o da homossexualidade. Mas, o acordo é, em todo o caso, de continuar a falar a respeito. Não será fácil, entendo, mas agora não devem mais existir discriminações com os gays. Resultou sobre isso um quadro plausível. E sobre alguns temas demos dois passos em frente, e depois um para trás.
E são passos em frente para a reforma global para a qual aponta a Igreja de Francisco?
Eu digo: primeiro devemos abrir as portas. Que agora não devem mais permanecer fechadas. Para mim, o Sínodo sobre a família foi uma surpresa em relação ao modo como se desenvolveu a discussão. E notei que sobre determinados temas a Igreja alemã não está só, mas há outros episcopados que se batem pelas mesmas perspectivas. Os nossos argumentos estão presentes por toda parte. Vejo então o copo sempre meio cheio. Em frente, em frente! (articula fortemente em italiano, ndr).
Mas, no final não teme que possa existir uma maioria que ponha em discussão quanto se alcançou?
Aqui não foram feitas propostas, mas colocadas perguntas. E depois não se disse: disto não se deve falar. Mas antes: daqui para frente é preciso fazê-lo. Tudo isso é positivo. Há apenas dois anos não pensávamos que fosse possível falar destes temas. Todavia, os três pontos referentes à hóstia a quem se casou em segundas núpcias e as aberturas aos gays encontraram muitas resistências.
E agora aqueles pontos fazem parte do texto final. O Papa quis que cada discurso fosse difundido. Também isto é uma novidade. Transparência, Trasparenza (em italiano, ndr)! É isto que se quer.
Porém os cardeais de Cúria não pareceram todos favoráveis às posições de abertura do Papa.
Nem todos os cardeais de Cúria tinham a mesma opinião. Mas, havia também quem era a favor das aberturas.
E agora, não teme que no próximo Sínodo ordinário de 2015 quem perdeu possa de certo modo refazer-se?
Quem fala de vencedores e de vencidos não entendeu nada do processo sinodal. Que é uma discussão comum. E depois, deveremos olhar para as escolhas finais do Papa. A questão, em suma, não foi fechada aqui. “Das Drama geht weiter!” [em alemão, ndr] (o espetáculo continua).
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O cardeal Marx: “Abrimos um caminho na Igreja transparente, nenhum tema é mais tabu” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU