29 Julho 2014
Sobreviventes de abusos sexuais pediram a renúncia de Sean Brady, cardeal Primaz de toda a Irlanda, após livro revelar detalhes de seu papel no acobertamento de um padre que infligiu abusos horríveis em um coroinha.
A reportagem é de Sarah Mac Donald, publicada por The Tablet, 25-07-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O caso é relatado num livro de memórias – intitulado “Sworn to Secrecy” [Jurar segredo, em tradução literal] – publicado esta semana por Brendan Boland, que sofreu abusos do Pe. Brendan Smyth durante três anos na década de 1970. O livro reproduz, pela primeira vez, o juramento de segredo que o adolescente de 14 anos fora levado a assinar e que o então Pe. Sean Brady retificou. O Pe. Brady – que posteriormente se tornou arcebispo de Armagh e Primaz da Irlanda – trabalhou como notário para uma investigação canônica secreta relativa aos abusos de Smyth sobre Brendan Boland.
Boland adquiriu as transcrições através de procedimentos jurídicos quando entrou com uma ação no Supremo Tribunal [americano] contra a Arquidiocese de Armagh e o cardeal Brady. As transcrições relevaram as questões invasivas feitas ao jovem durante a investigação, incluindo uma pergunta sobre se teria participado em atividades sexuais semelhantes com outros meninos ou homens.
Boland disse ao jornal The Tablet que gostaria que o cardeal Brady lesse seu livro. “Ele poderia fazer um distanciamento e refletir sobre o assunto e ponderar se, à luz de seu papel nos eventos descritos, deveria se aposentar na forma tradicional ou renunciar”, disse.
O cardeal deverá apresentar seu pedido de renúncia ao papa quando completar 75 anos em agosto.
A investigação canônica foi conduzida por três padres que chamaram o então adolescente a se apresentar sozinho. Tudo começou depois que o menino contou ao padre dominicano Oliver McShane sobre os abusos.
Embora Brendan Boland e seu pai tivessem recebido a garantia, em 1975, de que Smyth iria ser punido, o sacerdote continuou a abusar outras crianças por outros 20 anos até 1994, quando foi condenado por 17 acusações de abusos sexuais. Três anos mais tarde se declarou culpado de outros 74 casos de abuso.
Marie Kane, uma das seis sobreviventes de abusos clericais que se encontraram com o Papa Francisco há duas semanas no Vaticano, se propôs a escrever uma carta para o pontífice caso o cardeal Brady não apresente sua renúncia, acrescentando que o livro “confirma a conversa que tive com o Papa Francisco e as questões que levantei” quanto a “acobertamentos e sigilos na Igreja irlandesa”.
O caso de Boland terminou em 2012 a um custo de 170 mil dólares mais honorários. O livro releva que os advogados que inicialmente trabalharam para o cardeal ofereceram uma indenização, em 2011, de 16 mil dólares. O Escritório Católico de Comunicação em Maynooth não quis comentar.
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Pedidos de renúncia para cardeal irlandês depois que livro revela seu papel de acobertamento de abusos sexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU