Por: André | 09 Abril 2014
Foi montado um serviço de babysitting (creche) no fórum sobre a família, promovido na sexta-feira e sábado, dias 04 e 05, pela Pontifícia Universidade Gregoriana dos jesuítas, com o título “Escutando a família. Incertezas e expectativas”. O objetivo: permitir aos casais participarem da caminhada sinodal indicada pelo Papa Francisco, tanto que quem presidiu os dois dias de encontros no ateneu foi o cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do Sínodo.
Fonte: http://bit.ly/1skNY2v |
A entrevista é de Iacopo Scaramuzzi e publicada no sítio Vatican Insider, 05-04-2014. A tradução é de André Langer.
“Há uma participação ampla de pessoas, uma boa escolha dos relatores, e há casais que dão o testemunho de suas histórias”, explicou Baldisseri, diplomata de carreira, indicando os elementos mais relevantes da iniciativa, durante um intervalo do congresso. “É interessante a participação porque são pessoas qualificadas para fazer as relações, depois há grupos de estudo que aprofundam as diferentes temáticas”, e ao final um relator se ocupará de resumir todas as reflexões feitas. Esta manhã (05), por exemplo, “houve uma bela exposição sobre o amor conjugal apresentado não como dever, mas como um encontro permanente, vivo, entre as duas pessoas que se integram no tempo, com a experiência, indo uma ao encontro da outra numa reciprocidade que enriquece a cada uma. Belíssima, também, outra exposição de ontem (sexta-feira, dia 04) sobre as relações, que não são apenas um vínculo jurídico, mas um vínculo relacional: os esposos estão juntos não apenas pelo contrato, mas por um consenso permanente”.
O enfoque deste congresso (ouvir as famílias, a participação dos casais) é o mesmo do Sínodo Extraordinário convocado pelo Papa para outubro deste ano e do Sínodo Ordinário do próximo ano?
“Evidentemente, ouviremos os membros que intervirão no Sínodo, que terão recopilado testemunhos e sugestões da base, começando pelas paróquias, pelas dioceses e pelas Conferências Episcopais. Eu ainda estou recebendo alguns relatórios de algumas dioceses; estes relatórios foram enviados às Conferências Episcopais para que se fizesse um resumo, mas algumas dioceses se preocuparam em enviá-los também à secretaria geral. E também recebemos os resumos de trabalhos de grupos de especialistas. Há um interesse muito, muito grande, e isto indica que o esforço que devemos fazer em nosso “centro de coleta” é ouvir. Então, podemos apresentar sugestões e, eventualmente, propostas que depois serão resolutivas, não nesta primeira etapa do Sínodo Extraordinário de outubro, que provavelmente não será suficiente, mas graças a um aprofundamento posterior e a uma análise em vista da segunda etapa do Sínodo Ordinário de 2015.”
Qual é o estado da questão da preparação do Sínodo Extraordinário de outubro: o instrumentum laboris, porcentagem de respostas ao questionário enviado em novembro a todas as dioceses do mundo, participantes previstos?
“Responderam 86% das Conferências Episcopais. Também as respostas da cúria romana já são cerca de 60-70%. É preciso ter presente que nem todos os dicastérios romanos têm competência no que se refere especificamente ao tema da família; todos foram, no entanto, convocados para darem suas opiniões e sugestões. No que diz respeito às respostas individuais e de grupo, já são quase 800: são, particularmente, numerosas as respostas de grupos, o que significa uma participação de maior número de pessoas. O Instrumentum laboris já está em fase de elaboração. O primeiro rascunho já foi apresentado no dia 24 de fevereiro, na presença do Papa. Trata-se de uma primeira síntese, uma vez que nem todas as respostas foram recebidas. Por essa razão deve haver um segundo rascunho, provavelmente definitivo. Assim que tivermos um texto, aprovado pelo conselho da Secretaria, será enviado em junho para todos os membros da Assembleia Geral Extraordinária. Então se saberá oficialmente quem são os membros. Já sabemos que vão participar todos os presidentes das Conferências Episcopais do mundo e os prefeitos dos dicastérios da cúria romana. Não se sabe ainda quem serão os membros nomeados pelo Papa: será um número significativo que o Papa vai nomear no futuro próximo. Depois, há os ouvintes, entre os quais se encontram muitos casais, porque eles estão na vanguarda deste tema. E haverá também os especialistas, os delegados fraternos, que são representantes de confissões orientais e outras denominações cristãs. Eles terão direito de voz, mas são não membros efetivos; participarão como convidados. Tudo será publicado em breve, assim que estivermos em condições de fazê-lo.”
Às vezes surgem algumas críticas em relação ao enfoque neste Pontificado em relação a questões familiares: divorciados recasados, casamentos entre pessoas do mesmo sexo, contracepção... Há muito mimetismo em relação à sociedade moderno e pós-moderna?
“É uma questão de estilo e de linguagem. Os temas do Sínodo são múltiplos, os do questionário. Destacam-se alguns aspectos talvez porque são os que atraem uma atenção maior. Mas os grandes temas são, em primeiro lugar, o valor do matrimônio, fundamento da família e da sociedade. Sobre isto se aprofundará muito e haverá uma contribuição por parte de todos os continentes: não participará apenas o Ocidente; vocês, os jornalistas ocidentais, têm que entender que não são os únicos. Que a Igreja é universal. O Santo Padre instaurou um estilo novo, fala com uma linguagem que surpreende, rica de imagens. Talvez muitos não estejam acostumados, mas é uma linguagem com a qual se comunica muito melhor com as pessoas. E como o Evangelho é para as pessoas, não para os intelectuais, não é um curso universitário, então, efetivamente esta é uma contribuição formidável neste momento em que, sobretudo no Ocidente, se estabeleceu uma certa distância, por razões que todos conhecem do mundo contemporâneo. Nós devemos restabelecer este contato com a realidade. Os primeiros a sentir-se mais considerados são justamente os fiéis, as pessoas simples, que talvez começam a entender melhor, com uma linguagem tão direta, que toca as mentes e os corações, a mensagem da Igreja. Quando o Papa fala, estabelece um contato direto com o povo, muito bonito, as pessoas se sentem próximas. Diria que também é um modelo para os padres, os bispos, os agentes de pastoral. Neste sentido, inclusive o Sínodo terá o registro da pastoralidade.”
O serviço de babysitting (creche) foi apenas um detalhe, mas indica claramente este enfoque tanto do congresso como do Sínodo, que pretende permitir às famílias participar ativamente da reflexão teológica sobre a família: “Posto que do comitê científico participam homens e mulheres casados – explica o padre Miguel Yáñez, diretor do Departamento de Teologia Moral da Gregoriana, jesuíta argentino que se formou com Jorge Mario Bergoglio –, foi a primeira coisa que me pediram, que houvesse um serviço de babysitting. Na sexta-feira havia seis crianças; no sábado, 16”. Sem a experiência das famílias, destacou o jesuíta argentino, “não podemos fazer teologia do matrimônio”.
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Escutaremos as famílias no Sínodo de outubro, diz Baldisseri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU