Por: André | 27 Fevereiro 2014
A criação de um cargo de cardeal prefeito à frente da nova Secretaria de Economia da Santa Sé marca o início de uma profunda reorganização da cúria romana. E assinala ao mesmo tempo o fim do “número dois” do Vaticano. Esta expressão designava até aqui o secretário de Estado da Santa Sé, um papel de fato que o cardeal Tarcisio Bertone exerceu a ponto de privar qualquer outro acesso a Bento XVI que não passasse por ele. Em sua entrevista ao jornal La Croix, de 18 de fevereiro, o cardeal Oscar Maradiaga, coordenador do Conselho dos Oito Cardeais que assessoram o Papa Francisco na reforma da cúria (C8), insistiu em que este cargo não se parece mais com aquele de um “primeiro-ministro ou de um vice-rei”, indicando já a criação de uma “Secretaria de Finanças”.
A reportagem é de Sébastien Maillard e publicada por La Croix, 25-02-2014. A tradução é de André Langer.
Em um universo eclesial em que cada palavra é pesada e sopesada, a de ‘Secretaria’ não foi usada por acaso. Ela estava, até agora, reservada unicamente à poderosa Secretaria de Estado, para quem essas mudanças acontecem com tensões com o C8. De agora em diante, ela deverá compor com uma nova Secretaria de Economia, que “responde diretamente ao Santo Padre”, como precisa o documento assinado pelo Papa de 24 de fevereiro, que cria este organismo (Motu Proprio). O “secretário de Economia”, como podemos chamar seu titular, poderá pedir contas ao secretário de Estado. Não há mais, portanto, um “número dois”, mas antes dois “número três”.
E mais ainda. O cardeal George Pell, membro do C8 apreciado especialmente por sua gestão financeira em sua diocese de Sidney e a quem o Papa Francisco confiou esse novo dicastério (o equivalente a um ministério), que ele ocupará a partir do final de março, não será todo poderoso. No Motu Proprio, seu cargo vem após a criação de um “Conselho de Economia”, composto por 15 membros, sete dos quais serão leigos. E presidido por um “cardeal coordenador”, o qual, de acordo com alta fonte interna, não será o próprio cardeal prefeito Pell. São duas funções diferentes, numa vontade deliberada de garantir contra-poderes.
Nesse sentido, a criação de um “Revisor geral”, nomeado pelo Papa – e que poderá ser um leigo –, representa igualmente um posto chave do novo dispositivo. O de um “moderador da cúria”, outra pista da reforma proposta, também promete pesar. Essas mudanças são possíveis graças à personalidade do novo secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin. Esse experiente diplomata italiano não busca de forma alguma ser um “vice-rei” e se revela muito estimado por seus homólogos estrangeiros.
Outra vontade deliberada na reforma em andamento é a internacionalização e a profissionalização. A nova estrutura de governo econômico da Santa Sé cobre um campo muito vasto, mas com o cuidado inscrito de maneira legalmente limitador de não deixar esse dispositivo ser confiscado pelas mãos de alguns italianos. Os oito prelados previstos no Conselho de Economia deverão ser escolhidos “de maneira a respeitar a universalidade da Igreja”. A internacionalização é, portanto, requerida, como já está em andamento no Sacro Colégio e manifesta na composição do C8. Os sete leigos do mesmo Conselho de Economia devem também ser “de nacionalidades diferentes”. Com uma exigência de “competência financeira” e de “reconhecido profissionalismo”. Aviso não aos amadores, mas aos profissionais.
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O fim do “número dois” do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU