Por: Caroline | 18 Fevereiro 2014
O conselho dos oito cardeais, o consistório e o sínodo. A disputa sobre a comunhão aos divorciados em segunda união. A reforma do IOR. E muito mais. Tudo sob o olhar atento do Papa.
A reportagem é de Sandro Magister, publicada pelo sítio Chiesa, 17-02-2014. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/xuPGkz |
A segunda metade deste mês de fevereiro será marcada por uma sequência de datas de extrema importância para a Roma eclesiástica do papa Francisco.
Para começar, entre os dias 17 e 19 de fevereiro, o conselho de cardeais nomeados há dez meses por Jorge Bergoglio irá se reunir para auxiliar o governo da Igreja universal e a reforma da Cúria.
Trata-se da terceira reunião colegial dos oito cardeais, coordenados pelo salesiano hondurenho Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga. Nela será abordada a reforma da cúria, que será anunciada em breve e que sofrerá uma mudança de “180 graus” quando, finalmente, for criada a Comissão encarregada de relatar a constituição apostólica que explicará o novo ordenamento do governo central da Igreja.
Até o momento, vazou a informação de que estaria em estudo a criação de uma nova congregação, dedicada aos leigos, além da redução do número de conselhos pontífices e a instituição da figura de um “moderador da cúria”.
Entretanto, foi anunciado que também estaria em estudo a criação de uma nova comissão, que irá tratar do escandaloso tema dos abusos sexuais cometidos por clérigos. A notícia foi dada ao fim do encontro anterior dos oito cardeais, realizado nos primeiros dias de dezembro. Entretanto, o novo órgão ainda não foi constituído.
Os oito cardeais irão encontrar também as duas comissões instituídas pelo papa Francisco, que irão tratar de questões financeiras: a destinada à IOR, que é presidida pelo cardeal Raffaele Farina, e a outra que irá tratar dos órgãos econômicos e financeiros da Santa Sé, presidida pelo economista maltês Joseph Zahra, mas que até agora tem estado nas manchetes de notícias graças, principalmente, a personalidade marcante de um de seus integrantes, a “relações públicas” Francesca Immacolata Chaouqui.
A respeito destes temas, vazou a hipótese da criação de um “ministério de finanças” do Vaticano, mesmo que ainda não esteja claro se as comissões, anteriormente referidas, terão uma vida longa ou se sua atuação terá um tempo limitado, como foi recentemente confirmado pelo secretário de Estado, Pietro Parolim, de que estariam chegando ao seu fim.
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Na quinta-feira, 20, e na sexta-feira, 21 de fevereiro, também irão se reunir no Vaticano todos os cardeais, incluindo os mais novos, que irão receber formalmente a púrpura no sábado, dia 22.
Trata-se de um consistório que, por vontade do papa Francisco, discutirá sobre a pastoral familiar.
A única exposição prevista será confiada ao cardeal alemão Walter Kasper, que posteriormente propiciará um amplo espaço para intervenções livres. O debate promete ser muito polêmico, principalmente ao que se refere ao acesso a eucaristia para os divorciados em segunda união e sobre o eventual acolhimento, por parte da Igreja Católica, da disciplina católica ortodoxa que permite segundo e terceiro matrimônio.
A eleição de Kasper como expositor criou certa irritação entre aqueles que consideram doutrinalmente insuperável a atual disciplina da Igreja Católica. Já quando era bispo de Rotenburgo-Stuttgart e também recentemente em uma entrevista ao jornal alemão “Die Zeit”, o teólogo e cardeal alemão pronunciou-se como disposto a admitir que as pessoas divorciadas e em segunda união, possam ter acesso a comunhão sacramental
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No sábado, 22 de fevereiro, dia da festa da Catedral de São Pedro, o papa Francisco irá criar os primeiros novos cardeais de seu pontificado e, no dia seguinte, o domingo 23, irá celebrar com eles uma Missa solene na Praça de São Pedro.
A decisão do pontífice, de destinar a maior parte das púrpuras a pastores das Igrejas do sul do mundo, é um feito sem precedentes e rememora, como um gesto de retorno, ao que fez Pio XII, quem, em um dos consistórios, deu uma reviravolta decisiva frente à internacionalização do colégio cardinalício, ao premiar, sobretudo, os pastores de diocese ao invés dos cúrias, pondo fim na forma, até então definitiva, do predomínio italiano presente durante séculos no senado do Papa.
Ao que se refere à Itália, pela primeira vez em séculos, será ordenado um cardeal como titular da diocese, a de Perúgia, da qual o arcebispo é Gualtiero Bassetti, e que não será de Turin, Milão, Veneza, Gênova, Bolonha, Florença, Nápoles ou Palermo. A última eleição, além destas oito sedes tradicionais de cardeais, foi a do arcebispo de Benevento, Alessio Ascalesi, ordenado cardeal por Bento XV, em 1916.
Contrariamente, a púrpura não será dada ao titular da diocese, que no século XX deu a Igreja universal três papas, ou melhor, o patriarcado de Veneza. De qualquer maneira, ninguém se lamentou publicamente de forma negativa, enquanto que, há alguns anos, logo que o arcebispo da menos titulada sede de Florência não foi ordenado cardeal, o historiador Alberto Melloni lamentou que a Igreja acabou não reconhecendo “o seu posto merecido”.
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Por último, entre a segunda, 24, e a terça, 25 de fevereiro, haverá a reunião do conselho da secretaria geral dos Sínodos dos Bispos, coordenado pelo novo cardeal Lorenzo Baldisseri. E que dará inicio a avaliação das respostas dadas aos questionários a respeito do próximo sínodo extraordinário de outubro, sempre dedicado a pastoral familiar.
As conferências episcopais da Alemanha, Áustria e Suíça já previram, através de minuciosos comunicados da imprensa, difundir em todo o mundo as respostas que foram entregues, mesmo que em desequilibro no sentido progressista.
Essa divulgação tem sido julgada como uma “iniciativa unilateral” e “não correta” pelo mesmo Baldisseri, quem confirmou, em uma entrevista, que a publicação destes materiais, que deveriam ser enviados “reservadamente” ao Vaticano, não estaria autorizada.
Não apenas isso. O novo cardeal – ainda de acordo com a entrevista publicada em 11 de fevereiro pelo jornal italiano "Quotidiano Nazionale" – também definiu como uma “interpretação possível” a que vê na difusão dos dados uma forma de pressão para condicionar os trabalhos do sínodo.
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O conselho de cardeais, o consistório, o sínodo. Estes são os eventos que caracterizam os próximos nove dias da Roma eclesiástica.
E, como se não bastasse, nesse mesmo período, haverá outras datas não menos importantes.
Na tarde de terça-feira, 18 de fevereiro, a embaixada italiana - junto a Santa Sé - será sede da tradicional recepção dos festejos de aniversário dos históricos Pactos Lateranense, que marcaram a histórica reconciliação entre o Estado italiano e a Igreja Católica, logo após a conquista da Roma papal por parte do reino de Saboia. Na ocasião, como é habitual, haverá um encontro entre a Secretaria de Estado vaticano e a Conferência Episcopal Italiana, de um lado; e os cargos máximos institucionais e governamentais da Itália, por outro.
Este ano a data é particularmente significativa porque, pela primeira vez, irá participar do encontro o novo secretário do Estado vaticano, Pietro Parolin, e o novo secretário geral ad ínterim da CEI, Nunzio Galantino.
Nos dias 24 e 25 de fevereiro também está prevista a reunião do conselho de cardeais para o estudo dos problemas organizacionais e econômicos da Santa Sé, organismo composto por quinze cardeais provenientes dos cinco continentes, aos quais serão apresentados os pressupostos e as contas finais de vários órgãos vaticanos.
Sem contar que, nos próximos dias, também está prevista na agenda a plenária da recém-confirmada Comissão Pontifícia para a América Latina, a primeira celebrada pelo primeiro Papa da história proveniente, justamente, desse mundo.
Em síntese, nove dias densos de encontros e nomeações. Todos sob o olhar atento do papa Francisco. E cujos resultados serão vistos em breve.
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Os nove dias de fogo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU