Por: Jonas | 29 Janeiro 2014
Passado quase um ano da eleição de Francisco e ao final da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é possível traçar uma espécie de balanço sobre o ecumenismo do papa Bergoglio. “Para mim o ecumenismo é prioritário”, disse, em dezembro, em uma entrevista ao La Stampa e Vatican Insider.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 28-01-2014. A tradução é do Cepat.
E desde os primeiros dias após sua eleição, melhor, desde os primeiros instantes, algumas decisões tiveram um eco positivo em nível ecumênico.
Fonte: http://goo.gl/BPD89X |
Bispo de Roma
Quando Francisco surgiu pela primeira vez na sacada de São Pedro, insistiu particularmente em que era “bispo de Roma”; quis que estivesse ao seu lado o cardeal vigário. No dia seguinte, pela manhã, dirigiu-se à Basílica de Santa Maria Maior (onde já havia estado em outras ocasiões) para oferecer uma homenagem ao ícone da “Salus Populi Romani” e para confiar o povo romano à Virgem. Também demonstrou ter vínculos particulares com a diocese, com seus pobres, com suas paróquias, que foi visitando, especialmente as das periferias, com uma nova modalidade aos domingos à tarde. Essa nova forma, permite-lhe dedicar mais tempo e mais atenção ao encontro com as pessoas, com todos os que queiram se aproximar dele. Isso não representa, por si, uma novidade: o Papa é Papa porque é bispo da Igreja de Roma, que “preside na caridade”, como escreveu Inácio de Antioquia. A prioridade desse aspecto, e a disponibilidade para uma “conversão do papado” (o próprio Francisco fala sobre isso na “Evangelii Gaudium”), que ressaltou com o primado petrino, foi muito bem recebida, sobretudo em ambientes ortodoxos.
Casa Santa Marta
A decisão de Francisco de não viver no apartamento pontifício, mas na suíte 201 da Casa Santa Marta, teve uma consequência prática, inclusive, nas relações ecumênicas. As delegações das Igrejas e das comunidades que visitam Roma se hospedam na mesma residência, e o Papa, distante dos refletores do oficialismo, pode acolhê-los em sua casa e compartilhar com elas momentos de amizade sob o mesmo teto. Foi o que aconteceu nos primeiros dias do pontificado junto ao patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, que foi a Roma (e foi sua primeira vez) para participar da missa de início do ministério do novo bispo de Roma. Nessa ocasião, o patriarca de Constantinopla disse:
“Quando nos encontramos ali, viver juntos em Santa Marta foi propício para intercâmbios fraternais e para compartilhar a mesa. O Papa, como se sabe, está vivendo na suíte que normalmente me designavam quando eu visitava o Vaticano. Em certo momento, disse-me: ‘Fiquei com o seu quarto...’. Eu o respondi: ‘Eu o deixo de muito boa vontade!’”.
“Nesses primeiros nove meses – confirmou o Papa na entrevista de dezembro ao Vatican Insider –, recebi as visitas de muitos irmãos ortodoxos, Bartolomeu, Hilarion, o teólogo Zizioulas, o copta Tawadros; este último é um místico, entrava na capela, tirava os sapatos e ia rezar. Senti-me seu irmão. Contam com a sucessão apostólica, foram recebidos como irmãos bispos. É uma dor ainda não podermos celebrar juntos a eucaristia, mas a amizade existe. Acredito que o caminho é esse: a amizade, o trabalho em comum e rezar pela unidade. Abençoamo-nos uns aos outros; um irmão abençoa ao outro, um irmão se chama Pedro e o outro se chama André, Marcos, Tomás...”.
Sínodo e C8
Entre as primeiras decisões do novo papa é preciso recordar a que foi anunciada no dia 13 de abril, um mês após sua eleição: a criação de um grupo de oito cardeais conselheiros a quem foi encomendado o projeto de reforma da Cúria Romana e para quem também é solicitado ajuda no governo da Igreja universal. Além disso, Francisco quis reformar praticamente a forma de trabalho do Sínodo, para permitir uma consulta realmente colegial e vasta em toda a Igreja. Disse o patriarca Bartolomeu: “Estamos muito contentes pelo acento que colocou sobre seu ser, sobretudo, “bispo de Roma”. E também estamos contentes por sua decisão em nomear oito cardeais encarregados de aconselhá-lo. É uma decisão que se dirige para a sinodalidade, característica de nossa Igreja”.
Juntos para Jerusalém
Ao concluir a homilia das vésperas, celebrada na Basílica de São Paulo Extramuros, como encerramento da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, Francisco disse: “A unidade não chegará como um milagre ao final, a unidade vem no caminho, é feita pelo Espírito Santo no caminho. Se nós não caminhamos juntos, se não rezamos uns pelos outros, se não colaboramos em tantas coisas que podemos fazer neste mundo pelo Povo de Deus, a unidade não chegará... Ela chega nesse caminho, a cada passo, e não somos nós que a fazemos; o Espírito Santo, que vê a nossa vontade, é quem a faz”. Uma etapa do caminhar juntos ocorrerá em maio deste ano. Francisco visitará a Terra Santa, respondendo ao convite de Bartolomeu I, para realizar uma peregrinação de oração em memória do histórico encontro, ocorrido há 50 anos, quando Paulo VI (primeiro sucessor de Pedro que pisou nos lugares em que Cristo viveu) se reuniu e abraçou o patriarca de Constantinopla Atenágoras.
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O ecumenismo do papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU