Por: Jonas | 17 Janeiro 2014
O Comitê sobre os Direitos da Criança da ONU pediu, nessa quinta-feira, diligência à Igreja católica nos casos de pedofilia, no primeiro comparecimento da Santa Sé diante deste organismo, por causa dos abusos cometidos por religiosos. “O exemplo que a Santa Sé deve dar ao mundo deve considerar o precedente. Tem que marcar um novo enfoque”, disse Sara Oviedo, integrante da equipe investigadora deste comitê das Nações Unidas.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 16-01-2014. A tradução é do Cepat.
A investigadora fez seus comentários em uma audiência na qual, pela primeira vez, uma delegação do Vaticano deu explicações aos especialistas do Comitê sobre os Direitos da Criança sobre os abusos cometidos contra menores por religiosos católicos.
Oviedo denunciou que na gestão dos escândalos de pedofilia, por parte da Igreja, “deu-se preferência aos interesses do clero”.
“A Santa Sé não estabeleceu nenhum mecanismo para investigar os acusados de perpetrar abusos sexuais, nem tampouco para processá-los”, acrescentou. Também criticou as medidas tomadas pelo Vaticano com os autores de abusos sexuais contra crianças. “As punições dadas nunca parecem refletir a gravidade” dos fatos, disse Oviedo.
Durante mais de uma década, a Igreja católica se viu sacudida por uma cachoeira de escândalos de abusos sexuais cometidos por religiosos contra menores, que começou na Irlanda e se estendeu até a Alemanha, Estados Unidos e vários países latino-americanos.
Os abusos foram muitas vezes encobertos pelos superiores dos autores, que em muitos casos os transferiram para outras paróquias, ao invés de denunciá-los à polícia. Assim como os demais assinantes da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, de 1989, a Santa Sé se compromete a enviar relatórios regulares acerca do respeito às normas contidas no documento, e aceita a supervisão dos investigadores do comitê.
O papa Bento XVI (2005-2013) foi o primeiro a pedir perdão às vítimas, e pediu uma política de “tolerância zero” contra os autores de abusos. O atual pontífice, Francisco, eleito no último mês de março, criou uma comissão para ajudar as vítimas de padres pedófilos e para evitar novos casos, no início de dezembro passado.
A comissão, criada seguindo as recomendações dos oito cardeais que o assessoram para a reforma da Cúria Romana, deverá trabalhar com os bispos e as conferências episcopais e sugerir medidas para proteger as crianças. Na audiência, o embaixador do Vaticano ante a ONU, Silvano Tomasi, declarou que a Santa Sé é responsável legalmente apenas pela aplicação da convenção da ONU no território da Cidade do Vaticano, onde vivem 36 crianças, uma postura muito criticada.
Não obstante, o embaixador acrescentou que o Vaticano, como cabeça da Igreja, está trabalhando com as paróquias para combater os casos de pedofilia. O Vaticano destacou que continua recebendo cerca de 600 denúncias contra sacerdotes, a cada ano. Muitas delas sobre fatos cometidos nos anos 1960, 1970 e 1980.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
ONU critica Vaticano por “dar preferência aos interesses do clero” nos casos de abuso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU