Por: André | 27 Novembro 2013
A mudança começou com os secretários-gerais de duas Conferências de Bispos. Em Madri, foi eleito o novo. E em Roma, o Papa Francisco depôs o antigo. À espera de novidades ainda maiores.
A reportagem é de Sandro Magister e publicada no sítio Chiesa.it, 25-11-2013. A tradução é de André Langer.
Assim como já aconteceu nos Estados Unidos, também as Conferências Episcopais da Itália e da Espanha têm em andamento mudanças significativas em seus vértices.
Os observadores de questões eclesiásticas, mas não apenas eles, esforçam-se para interpretar estes mudanças no contexto do novo Pontificado.
Para compreender assim o alcance do “efeito Bergoglio” sobre o corpo de hierarquias católicas profundamente plasmadas por seus predecessores João Paulo II e Bento XVI.
Na Espanha
Em Madri, após dois mandatos quinquenais e diante da impossibilidade estatutária de reeleição, caducou o cargo de secretário e porta-voz da Conferência dos Bispos da Espanha do bispo Antonio Martínez Camino.
Jesuíta anômalo – pelo estilo pouco bergogliano – e conservador convencido, Martínez era um colaborador muito fiel do cardeal de Madri, Antonio María Rouco Varela, nem sequer bergogliano, foi o “dominus” do episcopado ibérico nos últimos 20 anos: combateu com mão de ferro tanto os desacordos eclesiais internos, os impulsos políticos separatistas presentes também em setores da Igreja, assim como a deriva secularizante encarnada pelo líder socialista José Luis Rodríguez Zapatero.
No lugar de Martínez Camino os bispos espanhóis escolheram o sacertote-jornalista José María Gil Tamayo, muito conhecido nos meios de comunicação de todo o mundo porque foi o ajudante para a língua espanhola do “porta-voz” vaticano, o padre Federico Lombardi, antes e durante o último conclave.
Gil Tamayo foi escolhido na primeira votação com 48 votos sobre um total de 79, ao passo que as eleições de Martínez Camino foram mais trabalhosas. Segundo indiscrições jornalísticas, com efeito, foi escolhido em ambas as ocasiões na segunda rodada, com 40 votos sobre um total de 77, em junho de 2003, e com 39 votos sobre 77, em novembro de 2008.
A mudança de guarda foi saudada com júbilo pelos ambientes progressistas ibéricos, que já estão saboreando por antecipação a saída de cena do cardeal Rouco Varela. Efetivamente, o purpurado já completou 77 anos e em março terminará seu mandato como presidente da Conferência dos Bispos.
Mas, por outro lado, Gil Tamayo, portador de um caráter mais afável e dialogante, não parece ter em absoluto esse olhar revolucionário que se atribuiu à sua eleição, interpretada como o fruto do novo ar, também supostamente revolucionário, que veio de Roma pelo Papa Jorge Mario Bergoglio.
Sacerdote diocesano, Gil Tamayo está empapado da espiritualidade da Opus Dei, ao ter estudado ciências da comunicação nas universidades da mesma: na de Navarra, onde obteve a licenciatura, e na romana de Santa Cruz, onde está para terminar o doutorado.
Nas primeiras horas de seu mandato teve imediatamente ocasião para polemizar com um líder socialista – que o havia acusado de ingerência em questões políticas – recordando-lhe que os bispos “têm a missão de iluminar as situações da população” e que os católicos “têm o direito de receber de seus pastores uma palavra”.
Para verificar uma eventual mudança de linha no episcopado espanhol será, então, preciso conhecer primeiro o nome do novo arcebispo de Madri – onde a prognosticada chegada do cardeal Antonio Cañizares Llovera significaria uma aproximação mais dialogante no campo político, mas não menos firme no campo doutrinal – e, sobretudo, ver quem será eleito novo presidente da Conferência dos Bispos.
Na Itália
Se o “efeito Bergoglio” na Espanha ainda está por se verificar em todo o seu alcance, na Itália, ao contrário, já se mostrou com efeitos inconfundíveis. Também porque o Papa é o primaz da Itália e tem, atualmente, o poder de nomear diretamente não apenas o presidente da Conferência, mas também o secretário-geral, depois de uma consulta não vinculante aos 30 bispos do Conselho Permanente.
Até agora o Papa Bergoglio agiu nos dois planos.
Deu ordem para estudar uma redução do número das dioceses – que, atualmente, são mais de 200 – e uma reforma do Estatuto que dê mais poder às Conferências Episcopais regionais em detrimento da nacional e tire da presidência o poder de nomear e controlar diretamente os escritórios centrais, para concedê-lo aos respectivos conselhos episcopais, que são eleitos.
Não só isso. Francisco pediu também que se verifique se os bispos italianos querem que siga sendo o Papa quem elege o seu presidente e o seu secretário-geral.
Não está claro quanto tempo terá para efetivar esta reforma estatutária. Mas no caso de os bispos decidirem e o Papa aprovar que sejam mudadas as normas de escolha do presidente, é claro que o atual líder, o cardeal de Gênova, Angelo Bagnasco, nomeado em 2007 e confirmado em 2012 por Bento XVI, se verá obrigado a reiniciar o seu mandato, que, segundo as normas em vigor, terminaria em 2017.
Mas nesse ínterim, em outubro passado, terminou o mandato quinquenal do secretário-geral, o bispo Mariano Crociata, que havia sido nomeado por Bento XVI em 2008.
Neste caso, o pulso firme do Papa Bergoglio se fez sentir rapidamente. Efetivamente, em um primeiro momento, o pontífice não o “confirmou”, mas somente o “prorrogou”. E depois de um mês o enviou como bispo para Latina, diocese de pouca relevância e não distante de Roma.
Com esta transferência o Papa Francisco faz pensar no que aconteceu à Conferência dos Bispos da Itália, em 1986, quando João Paulo II relegou para Mantua o secretário-geral em fim de mandato, Egidio Caporello, e nomeou como sucessor Camillo Ruini, nesse momento bispo auxiliar de Reggio Emilia.
Desse momento em diante, todos os secretários-gerais da Conferência dos Bispos da Itália – que, pelas normas do Estatuto em vigor, devem ser bispos – foram sempre “confirmados” e/ou posteriormente promovidos para dirigir uma diocese de tradição cardinalícia.
Em 1991, Ruini converteu-se em cardeal vigário de Roma. Seu sucessor, Dionigi Tettamanzi, converteu-se, em 1995, em arcebispo de Gênova. Ennio Antonelli, nomeado em 1995 e confirmado em 2000, foi promovido no ano seguinte como arcebispo de Florença. Giuseppe Betori, nomeado em 2001, foi confirmado em 2006 e promovido dois anos depois também para Florença. Todos estão revestidos hoje com a púrpura cardinalícia.
O Papa Bergoglio quebrou este automatismo.
Agora será necessário ver quando e como será eleito o novo secretário-geral. E, sobretudo, quando e como virá à tona o novo estatuto da Conferência dos Bispos da Itália, que poderia atribuir um papel mais direto aos bispos italianos na eleição de seu presidente. Papel direto que eles exercem agora somente na eleição dos três vice-presidentes, que, na prática, são eleitos como representantes do Norte, do Centro e do Sul do país.
Às vezes com resultados surpreendentes e com votações disputadas até o último voto. Por exemplo, o atual vice-presidente que representa o Centro do país, o arcebispo de Perugia, Gualtiero Bassetti, foi eleito em 2009 no segundo turno, com 102 votos sobre um total de 194, distanciando-se em muito de dois eclesiásticos de grande presença na cena midiática: do então arcebispo de Terni, Vincenzo Paglia, que obteve 46 votos, e do arcebispo de Chieti, Bruno Forte, que reuniu 35 votos.
E enquanto o atual vice-presidente que representa o Norte do país, o arcebispo de Turim, Cesar Nosiglia, foi eleito em 2010 superando comodamente o bispo de Como, Diego Coletti, com 137 votos sobre 219. Mais disputada foi a eleição do vice-presidente que representa o Sul do país, eleito em 2012. Nessa ocasião o bispo de Aversa, Angelo Spinillo, venceu por pouco o arcebispo de Bari, Francesco Cacucci, com 100 votos contra 91.
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O “efeito Bergoglio” sobre os bispos da Itália e da Espanha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU