Por: Jonas | 15 Junho 2013
Pontualmente, às 22h00s da segunda-feira, ocorreu o primeiro debate presidencial televisionado entre os aspirantes ao Palácio La Moneda, do Pacto a Nova Maioria, que reúne a oposição. Aí estavam, frente a frente, Michelle Bachelet, José Antonio Gómez, Andrés Velasco e Claudio Orrego, todos com um passado comum: os quatro foram ministros de Estado da Concertación (Bachelet foi presidente), a força política que governou o Chile por vinte anos e que foi derrotada pela direita na eleição anterior.
A reportagem é de Cristian Palma, publicada no jornal Página/12, 12-06-2013. A tradução é do Cepat.
Talvez por isso, o debate que foi televisionado pelos dois canais – um da TV aberta e outro a cabo – foi considerado frio, com pouca polêmica e confronto. Mais amistoso do que um encontro para marcar diferenças.
Apesar disto, o encontro teve um pico de audiência, em horário nobre, e marcou o início da reta final das cartas opositoras em busca da principal cadeira do país.
Aquelas que, sim, fizeram barulho, foram as numerosas pessoas que se reuniram fora do estúdio televisivo para protestar contra as políticas incentivadas pela Concertación, principalmente em matérias educacionais. Entretanto, esse pouco e nada foi visto pelas telas. Entre os candidatos, mais coincidências do que discordâncias. O financiamento da educação, a criação de uma AFP estatal e a ideia de convocar uma assembleia constituinte para elaborar uma nova Constituição, marcaram as poucas diferenças entre aqueles que disputarão as prévias, no dia 30 de junho.
Neste ponto, Bachelet reiterou que pretende, paulatinamente, dar gratuidade ao ensino superior. “Este deve ser um direito social”, disse, e seu objetivo é avançar para a gratuidade universal, postura respaldada por Gómez. Orrego e Velasco se mostraram contrários a que o Estado financie a educação para setores mais ricos.
Em relação à criação da AFP estatal, Bachelet e Orrego se mostraram de acordo com a existência de uma administradora de pensões, com o domínio público, para regular o mercado. Velasco (ex-ministro da Fazenda de Bachelet) apenas propôs correções no modelo. Gómez, por sua parte, sem rodeios, prometeu eliminar as AFP. Em relação à assembleia constituinte, Gómez (que foi ministro de Justiça de Ricardo Lagos) disse que respaldava este mecanismo, que no Chile despertou muitos adeptos, que se pronunciam principalmente pelas redes sociais. Bachelet deixou claro que não descartava esta alternativa, mas como uma espécie de último recurso, pois as mudanças devem vir pela via institucional. Velasco e Orrego (ex-ministro de Moradia de Lagos) rejeitaram a ideia da assembleia constituinte e se mostraram partidários a reformas, em auxílio a atual Constituição.
Um dos pontos mais altos do debate foi vivenciado no momento de falar em temas questionados. Neste plano, o democrata cristão Claudio Orrego se diferenciou de seus competidores ao se mostrar contrário ao aborto, em casos excepcionais, e ao casamento homossexual. Os outros três concordam com o aborto em casos de estupro, inviabilidade ou perigo para a mãe. Também defenderam o direito da mulher escolher e o casamento igualitário. Neste ponto, Bachelet reconheceu que mudou sua postura em relação ao que pensava quando foi candidata, há oito anos.
Bachelet também protagonizou dois momentos importantes do debate. O primeiro, quando brincou com as palavras de Velasco, que criticou a “velha política”, diante do que a ex-presidente respondeu entre risos e fiel ao seu estilo: “Não sei se você se refere a mim, mas sou partidária da nova política”. O outro - e que marcou a audiência – foi quando foi consultada em relação a sua responsabilidade na morte dos muitos chilenos, no dia 27 de fevereiro de 2010, quando se registrou um terremoto e, depois, um tsunami, em boa parte do país, sendo ela a presidente. Neste sentido, Bachelet reiterou que fez tudo o que era possível para evitar mortes e para informar a população e que ficou demonstrado que os organismos técnicos do país não estavam preparados para um terremoto daquela magnitude.
A ex-presidente também pediu perdão às famílias atingidas, afirmou que não era o momento, nem o lugar para fazer isso, mas que em seu devido momento fará. “Naquela noite fizemos tudo o humanamente possível”, disse. Diante da réplica, acrescentou que “o Chile me conhece. Nunca tive medo de reconhecer erros ou de pedir perdão, mas, hoje, é o momento para que a Justiça atue e haverá momentos para o outro”.
Terminando o debate, os líderes estudantis reconheceram que as propostas educacionais de Bachelet e Gómez coincidem em alguns aspectos com suas demandas, mas colocaram em dúvida a liderança dos candidatos para concretizá-las. “O que dizem Bachelet e Gómez é muito mais parecido ao que temos pensado e isso demonstra o quanto temos avançado como movimento estudantil”, afirmou o presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECh), Andrés Fielbaum.
“Michelle Bachelet disse que ela tem a liderança suficiente para poder conduzir a Concertación para um comportamento totalmente diferente, mas a liderança não se anuncia, nem se promete, a liderança se exerce”, acrescentou.
Do mesmo modo, o candidato presidencial independente, Marco Enríquez-Ominami, criticou a falta de interpelação e sustentou que o debate se realizou com as regras que os próprios candidatos puseram e que, em seu parecer, tratou-se de “um debate muito dos anos 1990, não de 2013”.
Enquanto isso, os pré-candidatos da situação, que também se enfrentam amanhã, também questionaram o encontro televisivo. Andrés Allamand destacou que “vimos quatro ex-ministros da Concertación, que governaram durante vinte anos e que terminaram renegando tudo o que fizeram. Eles não apenas são opositores ao presidente Piñera, mas também são opositores do que eles mesmos fizeram”. De sua parte, o pré-candidato da UDI, Pablo Longueira, disse que “o que surpreende é escutar quatro ex-ministros, que durante vinte anos nunca vimos falarem a respeito de uma assembleia constituinte, e menos ainda discutir temas que estão debatendo, como se nunca tivessem governado o Chile”.
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Bachelet apoia o casamento igualitário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU