Por: André | 31 Março 2013
Doze horas depois de retornar ao Chile, após 30 meses radicada em Nova York, a ex-presidente Michelle Bachelet quebrou seu silêncio autoimposto e, em um discurso de 20 minutos, dissolveu a incógnita sobre sua candidatura ao Palácio La Moneda: “Com alegria, determinação e muita humildade, tomei a decisão de ser candidata”, assinalou a ex-diretora da ONU Mulheres ao participar de uma atividade cultural na localidade de El Bosque, uma zona popular da capital chilena.
A reportagem é de Rocío Montes e publicada no jornal espanhol El País, 28-03-2013. A tradução é do Cepat.
O anúncio não foi uma surpresa: há meses o tabuleiro político chileno contemplava o retorno de Bachelet e sua candidatura. O discurso, contudo, teve um nível de profundidade que não coincidia com sua estratégia de guardar silêncio e ganhar tempo, considerando que corre com vantagem na corrida presidencial: 54% dos eleitores estão decididos a dar-lhe seu voto nas eleições de novembro, de acordo com a última pesquisa do Centro de Estudos Públicos (CEP).
Bachelet fez um diagnóstico acabado sobre as mudanças que o Chile viveu desde que deixou o Governo, em 2010, e, pela primeira vez, abordou a indignação, que se expressou nas mobilizações estudantis de 2011: “Sabemos que há um mal-estar da população bastante transversal. Vimos isto nos estudantes, em sua mobilização por uma educação gratuita e de qualidade. Vimos isto também numa classe média que se sente excluída e desprotegida (...) O Chile mudou e é hoje um país mais ativo e com maior consciência de seus direitos. É um país cujas pessoas estão cansadas dos abusos de poder e de que suas necessidades não sejam levadas em conta”.
A socialista atribuiu o mal-estar à “enorme desigualdade” e, segundo pôde confirmar com suas palavras, a superação dessas brechas será o núcleo de sua proposta programática para chegar a ser Governo. A médica pensa que está começando “um novo ciclo político, econômico e social” e chamou para realizar reestruturações substanciais: “Durante muito tempo nos dedicamos a fazer ajustes e mudanças ao modelo. Alguns foram bons. Mas outros insuficientes. Temos que fazer reformas mais profundas se realmente quisermos derrotar a desigualdade em nosso país”. Bachelet assinalou que para chegar ao La Moneda é necessário “convocar uma nova maioria política e social”.
A intervenção de Bachelet, que foi transmitida ao vivo pelos principais meios de comunicação, aconteceu em um auditório pequeno de um centro cultural, sem a presença de figuras de centro-esquerda e com um público de cerca de 300 pessoas, em sua maioria mulheres e lideranças sociais. O evento, cuidadosamente trabalhado por um pequeno grupo de assessores, apontou sinais do que será a campanha: apostará nos rostos da população e trabalhará com autonomia em relação aos partidos da sua coalizão, a Concertación.
A ex-presidente, que tomou tempo para cantar o hino nacional e fazer brincadeiras improvisadas, respondeu à principal incógnita da política local: para que Bachelet veio ao Chile? A ex-chefa de Estado não quer abusos por parte das empresas, mudanças unilaterais de planos de saúde nem diferenças de remunerações entre homens e mulheres. Bachelet também prometeu tratar dos direitos sexuais e reprodutivos da população, superar a brecha educacional e dar soluções à classe média cada vez mais afetada pelos altos custos da educação, moradia e saúde. A socialista também assinalou que é urgente melhorar as condições de vida dos povos originários. “Devemos combater a desigualdade com decisão. Essa deve ser, em todos os níveis, a nossa prioridade”, assinalou.
Bachelet evitou o confronto direto com o Governo de Sebastián Piñera e reconheceu que o país teve melhorias sociais e progresso econômico desde o retorno à democracia em 1990. Mas bateu firme nos matizes: “É verdade que o crescimento produz emprego, melhorias nos ingressos e dinamismo na economia. Mas também é verdade que não há crescimento real se não for inclusivo, se a riqueza do país não chegar a todos os seus habitantes”.
A ex-governante confessou estar feliz por estar novamente em sua pátria, agradeceu o apoio e o carinho da população e da sua família, falou de um desafio pessoal e coletivo e apontou as mudanças que o Chile viveu no contexto das transformações que observou em nível internacional como líder da ONU Mulheres: “Percorri um mundo convulsionado e incômodo por uma globalização que não trouxe benefícios para todos e que aprofundou as desigualdades. Mas também fui testemunha da coragem, da perseverança e da esperança de mudanças profundas, especialmente entre as mulheres do mundo árabe”.
Bachelet assinalou que para chegar ao La Moneda é necessário “convocar uma nova maioria política e social”. A socialista sabe que, para conseguir um segundo mandato, é necessário ampliar o apoio da Concertación e ter o apoio de novas forças sociais e políticas, como o Partido Comunista.
Em sua intervenção, interrompida várias vezes com gritos de “Se sente, se sente, Bachelet presidente”, também assumiu as transformações que nem ela nem a Concertación realizaram em 20 anos no poder e que têm a centro-esquerda com um nível de popularidade de 22%: “É justo assinalar que houve coisas que não fizemos bem e reformas que ficaram por fazer”, disse a ex-chefa de Estado.
Antes de sair do auditório, rodeada de pessoas, formalizou seu compromisso de disputar as prévias com outros três candidatos da oposição no dia 30 de junho e prometeu uma proposta programática com ampla participação social: “Eu não vou oferecer um programa feito entre quatro paredes. Vou promover diálogos e encontros para que o programa desta campanha tenha o selo da nossa população”.
Na segunda-feira, começará suas atividades oficiais como candidata e iniciará com um giro por diversas cidades do Chile para manter reuniões com líderes sociais.
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Bachelet lança sua campanha presidencial e promete grandes reformas no Chile - Instituto Humanitas Unisinos - IHU