30 Mai 2020
"Ao se associar a grandes lideranças evangélicas como Malafaia, Bolsonaro exerce uma forma de propaganda e de produção intelectual cristã, que têm em seus cernes um caráter fundamentalista e autoritário. Assim, Malafaia, esse cavaleiro do cristofascismo brasileiro, é um incansável evangelista na execução de uma mensagem que se baseia na interpretação literal dos textos bíblicos, de promoção de uma teologia arbitrária, sedenta do sangue dos pobres, dos velhos e dos doentes crônicos", escreve Fábio Py, doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RIO e professor do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF.
“Bem-vindos/as ao fim do mundo” - Karne Krua
Agindo como uma versão sacerdotal de um Olavo de Carvalho pentecostal, o pastor Silas Malafaia atua como um dos principais agentes do bolsonarismo, responsável por mobilizar parte do setor cristão conservador e fundamentalista. Consolidado em um proeminente capital religioso-empresarial, Malafaia utiliza-se diariamente das redes sociais comentando temas religiosos misturados a temas políticos travando trincheiras no apoio presidencial. A proximidade entre o presidente e o pastor é notória. Bolsonaro frequentou sua igreja com sua esposa Michelle e fez seu casamento em 2013. Também foi um dos primeiros a visitar Bolsonaro no hospital quando sofreu a facada no período eleitoral. Depois, o recebeu para “orar” diante da vitória eleitoral na igreja. Agora com a chegada da pandemia no Brasil, Malafaia aumentou o tom dos vídeos de apoio ao presidente, deflagrando ainda mais o caos com discurso cristão diante das complexas restrições de circulação e pelas mortes diárias no Brasil pelo Covid-19.
Contar com o apoio de Malafaia é de grande importância ao projeto político de Bolsonaro. O sacerdote há tempos é uma figura chave da arena religiosa brasileira produzindo o programa Vitória em Cristo há quase 35 anos no ar, transmitido em vários canais de TV, entre os quais, Band, Rede TV e CNT. Ainda é pastor da mega corporação evangélica Assembleia de Deus Vitoria em Cristo (a ADEV), que tem mais de 350 mil membros entre suas igrejas, congregações, além de ser dono de 116 empresas ligadas a temáticas cristãs - tais como à Editora Central Gospel Ltda e a Central Gospel Music[1].
Um detalhe deve ser pontuado: em termos da performance nas mensagens Malafaia tem diferenças gritantes com Edir Macedo, por exemplo. Macedo tem uma postura mais calma, raramente altera a voz e em termos de gestão religiosa construiu um capital ligado às igrejas e à emissora Record. Já Malafaia faz uso de esquemas performáticos dos televangelistas norteamericanos o que lhe garante diferente fatia de publico, por vezes, mais os jovens. Nesse sentido, se aproxima a um perfil evangélico belicoso se dispondo em lutas, batalhes contra seus “adversários” – já teve Ricardo Boechat[2] e o youtuber Felipe Neto, que agora está processando Malafaia[3]. Assim, tem notoriedade entre os crentes quando acumula batalhas como fazia diariamente nas redes radiofônicas evangélicas, nos programas chamados de “debates” transmitidos na hora do almoço, que colocam as rádios evangélicas como as mais assistidas do país[4]. Seu sucesso como pregador se demonstrou também nas vendas, quando, por anos, foi o pastor que mais vendeu palestras, vídeos e livros no Brasil. Agora, desde 2012 investe pesado nas redes sociais, as quais alimenta diariamente com lives, palestras e mensagens. Além de ser o pastor brasileiro com mais seguidores no twitter (com 1milhão e 400 mil perfis).
Por isso, Malafaia é considerado um dos articuladores da gestão apocalíptica do governo Bolsonaro. Associar a atual gestão ao apocalipse não é um exagero retórico. O teólogo Carlos Mesters (2013) enfatiza que apocalipse pode ser vivenciado em momentos de destruições, tragédias e morte. É nesse contexto que brotam figuras que deflagram discursos de ódios, de implosão, de fim do mundo. Como uma figura apocalíptica aos moldes Mesters, Malafaia impõe-se como um evangelista do cristofascismo do trágico governo de Bolsonaro. Gestão cristofascista porque se utiliza de técnicas da apologética cristã para ampliar o autoritarismo no desrespeito às instituições democráticas como o Parlamento e o Judiciário. Ao se associar a grandes lideranças evangélicas como Malafaia, Bolsonaro exerce uma forma de propaganda e de produção intelectual cristã, que têm em seus cernes um caráter fundamentalista e autoritário. Assim, Malafaia, esse cavaleiro do cristofascismo brasileiro, é um incansável evangelista na execução de uma mensagem que se baseia na interpretação literal dos textos bíblicos, de promoção de uma teologia arbitrária, sedenta do sangue dos pobres, dos velhos e dos doentes crônicos. Para detalhadamente analisar sua atuação, primeiro, falaremos sobre sua associação ao “cristofascismo brasileiro”.
O cristofascismo brasileiro (Py, 2019; 2020) é uma agenda do Estado brasileiro cerceador, que utiliza a linguagem cristã como metodologia para legitimar e ampliar a truculência na repressão aos pobres, negros, índios e heterodoxos. Mesmo não ocupando um cargo oficial no governo Bolsonaro, Silas Malafaia, como evangelista, atua como ponte teológica entre o governo e os cristãos por meio dos vídeos, lives, mensagens. Com a sua produção, ele justifica a política em termos teológicos e bíblicos. Portanto, sua função é estratégica.
O cristofascismo no Brasil (Py, 2020 e 2019) precisa de figuras como Malafaia, para auxiliar na tecedura da teologia política opressiva pautada no “ódio à pluralidade democrática”, como destacou o filósofo Rancieré (2014). No contexto do cristofascismo brasileiro em meio ao apocalipse do coronavírus no Brasil, foi somado à característica antidemocrática do economicismo, a justificativa para a “política da morte”, termo cunhado pelo filósofo Mbembe (2014. Nessa política da morte, Malafaia se promove como cavaleiro do estado de sítio embasando biblicamente sua política, cujos alvos são os pobres, os mais velhos, e os doentes crônicos.
Esse cristofascismo se relaciona com o dito por Dorothee Sölle (1970), que utilizou o termo ao reconhecer que o nazismo na Alemanha era fundamentado tanto por integrantes do partido nazi, que frequentavam igrejas cristãs, quanto por esse mesmo partido se utilizar das relações e das terminologias cristãs para sua composição – tal como hoje se faz a teologia política do bolsonarismo. Hitler utilizava jargões cristãos como chaves de seus discursos como o próprio “Conheceis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8,32), e “criou Deus, o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher criou” - para defender a família tradicional cristã alemã. O führer fez conferências em reuniões cristãs (luteranas, católicas e confessantes) e tinha lideranças cristãs no seu governo desenvolvendo o “cristianismo positivo”.
O cristofascismo brasileiro também se vincula ao legado de Walter Benjamin (1940). Para o filósofo, o fascismo não seria um estágio da civilização, mas estaria contido na própria civilização liberal-burguesa, que produziria “estados de exceção” internamente às gestões. Portanto, a cúpula do governo cristofascista brasileiro se desenha a partir do clima apocalítico de tragédia da doença para aprofundar o ultraliberalismo em medidas pouco humanitárias em favor do setor empresarial, focando na manutenção das empresas, da produção e do capital. Neste enredo, Malafaia tem a função de munir a “guerra dos deuses”, como definiu Lowy, por meio da teologia pentecostal incrementando os argumentos de Bolsonaro em prol da política da “permissão das mortes”, de uma eugenia atualizada cristã (Butler, 2020). Vejamos quatro momentos em que o evangelista fundamenta e desenvolve a teologia-política bolsonarista de ódio.
Malafaia no evento “The Send”. (Foto: Youtube/Reprodução)
Antes do apocalipse do Covid-19, o cavaleiro participou do evento “The Send”, ocorrido no sábado, dia oito de fevereiro, no Estádio “Mané Garrincha”, em Brasília (foto acima). O evento foi um marco para os jovens evangélicos e os projetos missionários fundamentalista, contando com várias personalidades cristãs. Quem também falou no evento, no mesmo estádio, foi Bolsonaro. O evangelista/cavaleiro defendeu que os jovens deveriam se manter firmes à convicção cristã, a partir de três textos. O primeiro foi de Romanos 12,2 “não vos conformeis com esse mundo mais transformai-vos pela renovação do vosso entendimento”; o segundo de Mateus 5,16 “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifique a nosso pai que estas nos céus”; e o terceiro de Filipenses 2, 15 “para que sejais irrepreensíveis filhos de Deus, inculpáveis no meio de uma geração corrupta e perversa na quarta entre eles”. A partir deles, voltou-se ao testemunho dos jovens.
Sobre o tema, é interessante observar trechos de seu discurso no evento. O pastor apresentou casos de jovens muçulmanos, que, segundo o sacerdote, ao ingressarem nas universidades na Europa: “passavam lá entre cinco a dez anos e quando voltavam para suas nações, voltavam mulçumanos, nada mudava a crença e os valores deles”. Em tom acusatório, disse: “jovens evangélicos (...) estão indo para as universidades, três meses depois de ouvir professor humanista, ateísta e esquerdopata, voltam contaminados, duvidando de crenças, valores, de Deus, chamando o pastor de fascista e homofóbico”. Dessa forma, transforma o ingresso à universidade e o acesso à pluralidade de ideias numa “guerra cultural”, bíblica. Pondera que os supostos referenciais de secularização do Oriente devem ser seguidos por jovens brasileiros. Com isso, reduz os diferentes formatos de crenças do Islã, em uma única possibilidade. Tudo para fundamentar sua “guerra bíblica” contra as universidades brasileiras, docentes e pesquisadores – enfim, contra a ciência.
Ironicamente, segue elogiando os muçulmanos, por ele, reduzidos a extremistas. Afirma que “não abrem mão de uma vírgula dos seus princípios”, ao inverso do que acontece “com os jovens evangélicos que vão para a universidade”. Com isso, o cavaleiro de Bolsonaro ardilosamente tece uma versão da vida de “nós” versus “eles”; “bem” versus “mal”. Tece a operação enclausurando toda a mensagem da Bíblia, dos Evangelhos e de milhares de textos, em uma. Opera uma simplificação da mensagem cristã, em prol do que chama “verdade bíblica” – ou seja, aquela que interessa a ele. Força uma perigosa dicotomia do “nós” e o “mundo” –- todo o resto de pessoas, os “gentios”, “perdidos”. Na sua palavra na formação dos jovens, traceja uma perigosa “guerra bíblica” entre os evangélicos e o restante da sociedade.
Malafaia defendendo o presidente no vídeo “Concordo com Bolsonaro! O que é pior: coronavírus ou caos social?”. (Foto: Youtube/Reprodução)
O segundo momento de atuação do cavaleiro do apocalipse ocorreu quando o presidente defendeu em cadeia nacional o isolamento vertical para o país. Diante do contexto pandêmico, amplificou sua sede por polemicas na defesa do presidente. Malafaia defendeu o presidente ao gravar o vídeo “Concordo com Bolsonaro! O que é pior: coronavírus ou caos social?”, no dia 25 de março[5]. Na gravação, o cavaleiro indicou a quarentena vertical (isto é, para os mais velhos), fundamentando sua posição ao afirmar que na Itália, que até o dia 17 de março tinha registrado milhares de mortes, “somente” haviam falecido cinco homens abaixo dos 50 anos, os quais, segundo Malafaia, tinham doenças anteriores. Formalizou assim seu apoio à necropolítica de Bolsonaro, lembrando que a Itália “é o país na Europa com mais idosos, e o segundo maior do mundo”.
No vídeo, segue dizendo que existem mais mortos no mundo por fome, por tuberculose, que de coronavírus. Malafaia, cavaleiro do apocalipse cristofascista, fala em tom de alarde do Brasil em que “90% da população ganha (...) quatro salários mínimos. Não tem dinheiro reserva, nem alimento estocado. Eu fico indignado com esses políticos!”. Mostra com isso que, ao contrário de suas palavras, não está preocupado com a população pobre, mas, com os grandes empresários, prioridades da gestão Bolsonaro de manter seus patrimônios intactos. Deixa com isso a população pobre e trabalhadora à mercê dos empregos, nem que isso custe a morte dos mais velhos.
No fim do vídeo, retira a responsabilidade do Executivo ao frisar: “estamos numa escolha de Sofia: o que é pior, coronavírus ou caos social? Eu garanto que é caos social. Vai morrer gente, vai... lamentamos profundamente. Meu desejo é que ninguém morra, mas só um dado para vocês, a gripe influenza, no Brasil, em 2009, matou mais de 2 mil pessoas e mais de 58 mil ficaram infectados (...) a minha oração é que Deus guarde pessoas idosas, as pessoas que têm deficiência em seu organismo e que são vulneráveis a isso”. Assim, o pastor segue a linha de ‘permissão de mortes’, contudo, deixa nas entrelinhas que as mortes são inevitáveis para o país seguir (Mbembe, 2014). Grita uma desculpa econômica, para disfarçar sua postura eugênica cristã (Butler, 2020).
No terceiro momento, Malafaia, no meio do apocalipse da pandemia, posta o vídeo “Decida! Em tempo de coronavírus, medo ou coragem?”, no dia 17 de abril, quando retoma algumas reflexões que já vinha desenvolvendo entre março e abril. Abre a mensagem ao dizer que “o medo tem o poder de inibir seu potencial, travar o presente, e estragar o futuro. A coragem, não é ausência de medo. O corajoso resiste ao medo, controla o medo”. Apela a dicotomia “coragem” / “medo” quando a doença se alastra no país, fundamentando no texto de Josué: “Deus vai dar um conselho para ele quando ele estava tremendamente apavorado (...) Deus dá uma palavra para ele, Josué capitulo 1, três vezes (...) Josué: Sê forte e corajoso (...) isto é, controle o medo, domine o medo, não fique desanimado”. Portanto, no meio do aumento do número de mortes, Malafaia fala de coragem contra o medo. Quase sugerindo que as pessoas enfrentem a epidemia e não deixem de trabalhar.
Na sequência, afirma “que a mente resolve acreditar no que repetidamente é informado. Então se você só está alimentando sua mente com desgraça, com morte, com tudo que é ruim, a sua mente vai decidir ter medo”. Força a sugestão de que o medo é uma questão de opção. Para isso, sinaliza: “para você a colocar coisas boas diante dos seus olhos (...) Veja coisas boas, ouça coisas boas (...) Porque o sábio Salomão diz uma coisa interessante: se te mostrareis frouxo no dia da angústia, a sua força será pequena”. Diante da situação trágica que o país passa, diz que cada uma deve fazer opção por coisas boas, pois assim não será “frouxo no dia da angústia”.
O cavaleiro do apocalipse cristofascista, em praticamente todas as pautas, concordou com Bolsonaro. Todavia, na crise política que ocasionou a demissão de Moro, não. A divergência não se referiu às denúncias do ex-ministro da Justiça, mas ao momento em que ocorreu a demissão, ou seja, no contexto de pandemia. Assim, voltou a produzir vários vídeos, um a cada acontecimento que afligia a presidência: sobre Moro, sobre a Globo, sobre o STF. Contudo, o vídeo do dia três de maio merece destaque. Produzido após o segundo ato em favor do Bolsonaro contra o STF e o Congresso, o título é: Vergonha! O jornalismo inescrupuloso da Globo Lixo”. Nele, afirma que a Globo pratica um jornalismo politizado contra o presidente. Irascível, diz: “É uma vergonha! Esse jornalismo inescrupuloso e parcial. Quer dizer que a manifestação de hoje, domingo dia três é antidemocrática?! É antidemocrática porque rejeita o STF, porque rejeita o Moro?! Só seria democrática se a manifestação fosse para bater, malhar e ser contra o presidente?”. Malafaia, defende a manifestação, mesmo no momento controverso de pandemia, quando o presidente falou ao lado da filha (foto abaixo), e lotado de faixas contra o STF, contra Rodrigo Maia e pedindo a intervenção militar.
Bolsonaro leva filha para ato que ataca Congresso e STF. (Foto: Reprodução/Facebook)
Com isso, o cavaleiro de Bolsonaro desconsidera que a manifestação é antidemocrática porque tem cartazes, falas contra os demais poderes que, conjuntamente, mantêm a democracia brasileira. Além disso, acrescenta-se que, na manifestação, um jornalista foi atacado pelos manifestantes. Sobre isso, ameniza o ato com as seguintes palavras: “Botar um monte de ministro do STF para falar porque jornalista foi agredido?”. Desta forma, apoia a limitação da liberdade de imprensa, algo que, para ele, diante do que vem ocorrendo com o presidente é aceitável. Fala abertamente que “não concordo com jornalista ser agredido não! Mas a paciência do povo está esgotada! Com o jornalismo parcial, da imprensa brasileira”. Assim, defende a violência contra a liberdade de expressão na mesma linha de Bolsonaro. Ou seja, contra os divergentes, a violência é caminho. Mesmo sendo pastor, assume a radicalização como tática, bem como o “processo de linchamento moral dos divergentes”. Tal como agora, os setores bolsonaristas produzem ira contra seu ex-super ministro Sergio Moro. Portanto, Malafaia envelopa religiosamente o ódio da gestão cristofascista, justificando em nome de Cristo a truculência do atual governo.
Nessa sequência de momentos separados acima, apontou-se que Malafaia, como cavaleiro do apocalipse bolsonarista, segue e desenvolve pontos chaves do raciocínio do presidente. Primeiro, realçando no evento “The Send” um conjunto de argumentos contra a docência, Universidade e, sobretudo, desfavoráveis à liberdade do pensamento cientifico. Segundo, no contexto da pandemia, admite uma ‘inevitável’ política de permissão funesta. O terceiro elemento é a importância de se alienar nos dias de pandemia, deixando de lado notícias tristes, porque podem perigosamente prejudicar a imunidade diante da peste. E, o quarto elemento quando não bastasse o inferno pandêmico, que diante do divergente, socos, tapas, linchamentos e xingamentos são até justificáveis. Em conjunto, o cavaleiro expõe apologeticamente as táticas de ódio do governo cristofascista, preocupado na maquiagem do ultraliberalismo brasileiro.
Além do ódio e das violências que salpicam no discurso conta os diferentes, Malafaia, com a Bíblia na mão, busca consolar sua base cristã imaginando um futuro melhor que o presente. Como se viu na oração do dia 28 de abril de 2020[6]: “escuta nosso clamor, nosso pai, (...) Jeová fará, o senhor da saúde, esteja na sua vida, na sua casa, nós repreendemos o mal, as enfermidades, sê curado agora! (...) Viveremos dias de prosperidade após esses, eu creio! Sejam envergonhados profetas do caos! O Brasil é do Senhor Jesus!”. É que diante do horror desses “últimos dias”, Malafaia, intuitivamente a semelhantes outros apocalipses, trata a esperança de um novo tempo, de novos dias. Com isso, utiliza o mesmo recurso dos judeus e cristãos do primeiro século, que, recorrendo à alegoria do fim dos tempos, imaginaram uma vida além das guerras e mortes ante a Roma. Assim, surgiu a utopia cristã de “novos céus e novas terras”. Agora, é uma pena que nem em algo tão delicado-especial da época bíblica, foi atualizado no apocalipse de Malafaia dentro da lógica mercadológica. Repete sem constrangimento a ladainha da prosperidade. Silas Malafaia, como cavaleiro de Bolsonaro, é um sujeito tomado pela técnica, pelo dinheiro e lotado do raciocínio eugênico. O problema é que carrega de esperança na prosperidade o povo que deveria está preocupado com sua saúde, em lutar pela vida. Sobre isso, o peso da história cairá sobre seus ombros tão logo.
Notas:
[1] Acesse aqui.
[2] Acesse aqui.
[3] Acesse aqui.
[4] Acesse aqui.
[5] Acesse aqui.
[6] Acesse aqui.
Referências:
BENJAMIN, Walter. “Teses sobre o conceito de história”, 1940.
BUTLER, Judith. O mundo deve mudar, e os ideias do socialismo democrático são os que mais deveriam ser estimados. São Paulo: IHU, 2020. Disponível aqui.
LOWY, Michael. A guerra dos deuses, Petrópolis: Vozes 2000.
MBEMBE, A. Crítica da razão negra. São Paulo: Antigona, 2014.
MESTERS, C. A esperança de um povo que luta. São Paulo: Paulus, 2013.
PY, Fábio. A cristologia cristofascista de Jair Bolsonaro, São Paulo: Carta Maior, 2019. Disponível aqui.
PY, Fábio. Cristofascismo de Bolsonaro em 7 atos. São Paulo: The Intercept, 2020. Disponível aqui.
RANCIERÉ, Jacques. Ódio a democracia. São Paulo: Boitempo Editorial, 2014. SOLLE, Dorothee. Beyond Mere Obedience: Reflections on a Christian Ethic for the Future, Minneapolis: Augsburg Publishing House, 1970.
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Silas Malafaia, 1º cavaleiro do apocalipse brasileiro. Artigo de Fábio Py - Instituto Humanitas Unisinos - IHU