05 Mai 2017
“É uma causa que não é nossa, mas nós vamos apoiar. Nós vamos fechar o resto da estrada em apoio aos índios”. Com essas palavras foi selada uma verdadeira reviravolta na ocupação do km 25 da Transamazônica, bloqueado por índios Munduruku desde a quarta passada (26/04). Até a tarde desta quarta (3), o clima era de tensão crescente entre indígenas e caminhoneiros, mas gradativamente o descontentamento com o Governo Federal aproximou os dois grupos. Agora, estão determinados a seguir conjuntamente com a interdição da rodovia até que as exigências dos índios sejam atendidas pelo poder público.
As informações são publicadas por Conselho Indigenista Missionário – CIMI, 04-05-2017.
Com o bloqueio, iniciado na última quarta-feira, 26, os Munduruku exigem que o desmonte da política indigenista na região do Tapajós e em todo o país seja revertido; rejeitam as reformas propostas pelo governo Temer e demandam celeridade no processo de demarcação da Terra Indígena (TI) Sawré Muybu. Além disso, condenam com veemência as recentes declarações do ministro Osmar Serraglio acerca dos direitos territoriais indígenas, demandando que o MJ seja comandado “por alguém que respeite as pessoas”. O repúdio se estende, ainda, ao massacre sofrido pelo povo indígena Gamela, na terça-feira, 30, e às infames palavras de Serraglio acerca do caso. Para o ministro, os Gamela seriam “supostos índios” apenas, termo mencionado em nota do MJ e posteriormente retirado.
A ação dos Munduruku está diretamente ligada aos principais problemas sociais em pauta hoje no país – seja entre índios, seja entre não-índios. Além disso, interfere diretamente em uma das maiores forças contrárias às lutas indígenas: o agronegócio. Com o bloqueio do km 25, na região dos portos de Miritituba, no município de Itaituba-PA, os Munduruku fecharam também uma ponte estratégica para gigantes como Bunge, Amaggi e Cargil. Assim, a interdição bate diretamente no bolso do agronegócio.
A relatora da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, prestou seu apoio à luta dos Munduruku na última segunda (1º). Após encontro do cacique-geral do povo Munduruku, Arnaldo Kaba, e do cacique da aldeia Sawre Muybu, Juarez Saw, com a relatora, o representante da Santa Sé na ONU, Monsenhor Bernardito Auza, e o presidente do Departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latinoamericano (Celam), em Nova York, Tauli-Corpuz encorajou os Munduruku a continuar afirmando e reivindicando os seus direitos, considerando a gravidade das ameaças correntes à cultura e à subsistência dos indígenas.
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Aliança inédita entre caminhoneiros e índios sela uma semana de Ocupação Munduruku na Transamazônica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU