Por: João Vitor Santos | 28 Outubro 2017
Que Martinho Lutero inaugura um outro tipo de pensamento à sua época, não há dúvidas. Entretanto, há pesquisadores que se questionam se seria ele a primeira cabeça moderna ou a última medieval. O professor de Teologia Sistemática e pastor luterano Vítor Westhelle propõe deixar esse debate de lado e olhar para algo que há em comum tanto numa perspectiva quanto noutra. “Lutero supostamente havia rompido, definitivamente, com a/uma tradição mística. O fato de sair do monastério e o uso burlesco da linguagem que usava, sugeria esta conclusão”, aponta. Ou seja, para ele, é mais interessante observar como o monge propõe uma perspectiva de ruptura através de uma mística própria. “A questão central é que o misticismo não cabe como característica de nenhuma era da história”, indica. “Lutero não era um místico em nenhum sentido tradicional do termo, mas secularizou elementos do misticismo que o colocam precisamente na transição entre o medievo e o moderno”, conclui.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Westhelle sintetiza: “o que Lutero fez foi realmente trazer o monastério para o cotidiano popular”. E essa sua ação acaba realinhando as perspectivas do cristianismo, dentro e fora do catolicismo. “Lutero vive já não como um cismático, mas como uma voz de uma consciência alerta a seu tempo e lugar que busca o crucificado nas pessoas marginalizadas e oprimidas, e na criação que sofre e geme sob o peso do capital que tem a si mesmo como fim”, analisa, ao pontuar as transformações nas igrejas desde a Reforma. “A igreja que Lutero buscou reformar não é a Igreja Católica Apostólica Romana de hoje. E é importante reconhecer que um Lutero nunca surgiria na Igreja de Roma especialmente depois do Concílio Vaticano II”, destaca.
Vítor Westhelle | Foto: Acervo IHU
Vítor Westhelle é pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana - IECLB. Concluiu sua formação teológica no Brasil e fez doutorado nos Estados Unidos. Depois foi pastor e coordenador da Comissão Pastoral da Terra no Paraná. Atuou como professor de Teologia no Brasil, nos Estados Unidos, na África do Sul e na Dinamarca. Atualmente é professor de Teologia Sistemática na Escola Luterana de Teologia em Chicago, nos Estados Unidos. Entre seus livros em português, destacamos O Deus Escandaloso (São Leopoldo, RS: Sinodal, 2008) e O Evento Igreja (São Leopoldo, RS: Sinodal, 2017).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Qual a importância de Martinho Lutero para a América Latina? E, inscrito no seu tempo, como o pensamento luterano contribui para a compreensão dos desafios do novo mundo?
Vítor Westhelle – Dois eventos há que lembrar, pois marcaram a saída do mundo feudal, a chegada de Colombo [1] às Américas (1492) e a circum-navegação do globo por Fernão de Magalhães [2] (1519-1521). Estes foram por Lutero sistematizados e tornaram-se pedras de toque na transição para a modernidade. O primeiro evento foi o encontro com o outro desconhecido e a determinação de seu status. Para o medievo este se definia pela capacidade de optar pelo Deus cristão. Lutero rompeu com este pressuposto em seu famoso tratado contra Erasmo de Roterdã [3] sobre o “servo arbítrio”, separando radicalmente a questão da relação com o divino, por um lado, e a dignidade da pessoa como tal, por outro. Em relação à eleição por Deus, nisto nada podemos fazer, apenas crer, enquanto as relações inter-humanas definem-se tendo em base a razão e não a fé.
O segundo evento, representado por Magalhães, foi o movimento constante à frente sem necessidade de prestar contas e dever obediência a quem de direito. Ora, este direito era tido como avalizado por Deus através da Igreja. No caso de Magalhães, quem lhe comissionou foi o Imperador Carlos V [4], mas a este o navegador nunca prestou contas como deveria e era esperado. Ele era o capitão de sua esquadra e de seu destino. Curioso foi que, ante este mesmo imperador, Lutero, na dieta de Worms em 1521, negou-se a retratar-se, como exigido, em base a sua consciência e à Bíblia.
Lutero concatenou em suas obras estes dois elementos, enunciando assim as características de uma modernidade que alvorecia, a saber, a completa liberdade de Deus na eleição de quem vem a crer e a autonomia em questões seculares negando a qualquer pessoa direito divino no exercício de sua autoridade, seja esta pessoa papa ou imperador. Para a América Latina, onde ainda vale o “sabes-com-quem-estás-falando?”, Lutero significa o fim de todo privilégio assumido como de direito.
IHU On-Line – Como compreender a relação entre a Reforma Luterana e o movimento da Teologia da Libertação [5]?
Vítor Westhelle – Quando Lutero apelou à Bíblia como fonte exclusiva, foi para pleitear o direito de cada pessoa a interpretá-la. Vale dizer que não se trata de fundamentalismo que hoje graça em alguns círculos evangélicos. Isto seria um crasso anacronismo. O fundamentalismo surgiu apenas depois do Iluminismo do século XVIII. O que Lutero defendia e pleiteava era o direito de cada pessoa a interpretar as escrituras em sua situação. Isto hoje se chama de leitura contextual da Bíblia. Com isso o reformador negou que houvesse apenas o sentido outorgado pelo magistério romano.
A Teologia da Libertação nos seus primórdios, mesmo antes de sua sistematização nas obras dos grandes teólogos e teólogas da América Latina, surgiu de comunidades de base que faziam a leitura da Bíblia em seus próprios contextos. Isto foi libertador, pois interpretar contextualmente a Bíblia passa a ser um ato de tomar consciência da realidade. Paulo Freire [6] chamou isto de conscientização. A leitura e interpretação da Bíblia foi tanto em Lutero como na Teologia da Libertação veículo de conscientização. Embora separados por meio milênio, nisto a teologia de Lutero e a Teologia da Libertação se irmanam. Há muitos outros pontos de aproximação ou distanciamento. Mas estes são decorrentes deste dado primeiro, tendo-se sempre em conta os tempos e contextos distintos.
IHU On-Line – As escrituras têm uma centralidade na constituição do pensamento e da teologia de Lutero. Que associações e dissociações podemos fazer dessa volta aos textos bíblicos de Lutero com o “despertar evangélico” [7], ocorrido ainda cerca de 200 anos antes da Reforma Luterana?
Vítor Westhelle – O celebrado princípio escritural da Reforma (sola scriptura [8]) não era original de Lutero. Isso ele herdou de vários precursores que já usaram o sola scriptura em sentido similar a Lutero. Este uso era primeiramente negativo, quer dizer, negava-se que houvesse outra fonte de autoridade com direito divino, como o magistério ou os concílios. Daí a importância da tradução da Bíblia ao vernáculo. O sentido positivo, o que as escrituras estão a nos dizer, decorre da interpretação da Bíblia para contextos específicos.
Como disse Lutero em um texto de 1525, há de se discernir a quem as escrituras estão se endereçando. Nisto o princípio escritural opõe-se também a qualquer forma de fundamentalismo. Para o Reformador há partes da Bíblia que podem ser muito importantes, mas não, necessariamente, para este tempo e lugar.
IHU On-Line – Quais as particularidades da reforma protestante nos países hoje conhecidos como Alemanha, Suíça e França e, mais tarde, Reino Unido, Escandinávia e outros locais da Europa?
Vítor Westhelle – A Reforma nasce quando já se anuncia a formação de um modo de produção que superaria o feudal. Este é o capitalismo. Dele Lutero foi arauto e já o seu primeiro crítico. Aliás, esta foi uma observação que já fez Karl Marx [9] ao chamá-lo de “o primeiro economista da nação alemã” e utiliza em profusão seus escritos contra a usura no do primeiro volume do Capital.
A diferença que se encontra entre os países Europeus está, por um lado, determinada pelo desenvolvimento desigual das forças produtivas e, por outro, pelas diferentes maneiras em que se organizam legal e politicamente as relações de produção. É na organização destas relações de produção que a Reforma teve um impacto significativo, assim como também determinou a formação social em países europeus onde o catolicismo prevalece. Mas, quanto aos países onde prevalece o protestantismo, há marcantes diferenças entre várias formas que a Reforma tomou. Mesmo tomando-se os grandes blocos, como luteranos, calvinistas e anglicanos, há, dentro de cada um destes, matizes diferentes. Mas qualquer generalização é muito arriscada fazer, sobretudo considerando-se o alto nível de multiculturalidade na Europa de hoje.
IHU On-Line – Como compreender as divisões da Reforma protestante pós-Lutero e o papel que assumem outros líderes?
Vítor Westhelle – O que Lutero introduziu ao definir os dois fundamentos que balizaram a Reforma, a livre eleição divina e a liberdade da consciência, não permite, em princípio, que o próprio Lutero seja fonte de verdade como que divinamente instituída. Isto quer dizer que com a Reforma não há mais heresias, pois já não existe uma verdade que possa ser institucionalmente controlada para defini-las. Este controle da verdade é de direito humano, não divino. Sendo assim é mutável e falível. Disto resultou a grande diversidade confessional.
IHU On-Line – De que forma podemos compreender os conceitos de fé, ética e liberdade no pensamento de Lutero?
Vítor Westhelle – Meu último livro, Transfigurando Lutero (Transfiguring Luther [10], infelizmente está apenas em inglês), trata desta questão em mais de 300 páginas. É difícil resumir isto em algumas linhas. Mas talvez uma citação de Lutero que se acha no seu tratado Da liberdade cristã de 1520 ajude: “O cristão vive em Cristo pela fé e no próximo pelo amor”. Para Lutero, a fé é o meio pelo qual eu recebo a promessa divina pela qual a bênção salvífica me é imputada. Esta não depende de nada que eu possa fazer. Aliás, qualquer coisa que faça para merecê-la já a põe a perder.
O amor, no entanto, é racional! Não se trata de sentimentalidade. Fernando Pessoa [11], o poeta português, tinha algo de luterano quando disse que “amor é razão”. Este depende de minha ponderação e decisão. E é neste exercício de racionalidade que tenho total liberdade, bem como total responsabilidade no cuidado da outra pessoa, para parafrasear uma outra citação do mesmo tratado de Lutero que citei. Esta total responsabilidade é oriunda de minha total liberdade de fazer escolhas. O amor que expresso pelas pessoas e pela criação é uma decisão racional pela outra pessoa e pela criação, e de forma alguma serve para marcar pontos no caderninho de Deus. Esta, então, é a base ética de Lutero.
IHU On-Line – No que consiste a ética protestante, que Weber vai apreender como o espírito do capitalismo?
Vítor Westhelle – A ética protestante de Weber não é de forma alguma luterana. De fato, Weber diz explicitamente no seu celebrado livro que, apesar de o conceito de vocação de Lutero ser de serventia para esta ética, Lutero de forma alguma contribuiu para o seu desenvolvimento. A ética protestante que Weber descreve é resultado de um calvinismo puritano que se desenvolveu mormente nos Estados Unidos. Este se caracterizou por fazer algo que Lutero precisamente lutou contra. Esta forma de calvinismo desenvolveu uma relação de causa e efeito entre a eleição divina e a prosperidade temporal. O que Lutero claramente separou, o evangelicalismo americano voltou a unir.
Mas a ética que Weber descreve é diferente de teologias medievais que enfatizavam a importância de obras de caridade para influenciar a eleição divina. As 95 teses, cujos 500 anos rememoramos, foi exatamente para cortar este laço. A ética protestante de que fala Weber não faz o que fazia a teologia medieval, mas vê na prosperidade uma evidência da bênção divina. O resultado é a busca por prosperidade para que alguém se saiba eleito. Ao contrário da teologia medieval, não a caridade mostrada a outrem, mas a prosperidade pessoal, o enriquecimento, acabam sendo a maneira de decidir a eleição divina. Isto não tem nada de luterano, até pelo contrário.
A celebrada teologia da cruz de Lutero [12] assim como sua Mariologia [13], como desenvolvida em sua obra Magnificat [14], afirmam a presença de Deus não na prosperidade, mas no seu revés, na cruz, no sofrimento, na marginalidade, indignidade e opressão. Mais sobre isso tenho elaborado em meu livro, este em português, O Deus Escandaloso.
IHU On-Line – Como compreender o sentido da cruz sem o Cristo crucificado? E que relações podemos estabelecer com as reflexões de Lutero acerca da vida, da dor, do sofrimento e do amor?
Vítor Westhelle – Um dos problemas ao lidar com a cruz é o que se tem chamado de dolorismo, a celebração masoquista do sofrimento. Quando Lutero fala sobre a cruz e o sofrimento, está falando da encarnação de Deus na história e nos lugares que Deus elege e nos convida a estar lá junto e cooperar (uma expressão que ele gostava de usar) na libertação das pessoas oprimidas, na emancipação das marginalizadas, na dignificação das discriminadas e na preservação da natureza. Mas este é nosso trabalho de amor, deste amor racional de que falava. Não se trata de agradar a Deus, trata-se de amor a outrem e este inclui necessariamente a natureza.
IHU On-Line – Podemos afirmar que Lutero supera o pensamento do homem medieval e inaugura um pensamento moderno? E que cristianismo emerge daí?
Vítor Westhelle – Esta é uma discussão que dominou a teologia alemã há um século, na assim chamada “renascença luterana” dos primórdios do século XX. Era Lutero medieval ou já moderno? Os pesquisadores (e eram só homens) se dividiram. Mas ambos os lados trabalhavam com um pressuposto comum. Lutero supostamente havia rompido, definitivamente, com a/uma tradição mística. O fato de sair no monastério e o uso burlesco da linguagem que usava, ademais de expressões de baixo calão em se tratando de adversários, sugeria esta conclusão.
Mas o que Lutero fez foi realmente trazer o monastério para o cotidiano popular. Além de Agostinho [15], a quem ele admirava sobremaneira, Bernardo de Claraval [16] era um dos mais celebrados místicos medievais. Esta dimensão de Lutero tem sido mantida na teologia escandinava e enfatizada mais recentemente na escola finlandesa de interpretação de Lutero. A questão central é o que misticismo não cabe como característica de nenhuma era da história. Há místicos medievais, como há da antiguidade e também da modernidade. Lutero não era um místico em nenhum sentido tradicional do termo, mas secularizou elementos do misticismo que o colocam precisamente na transição entre o medievo e o moderno.
Lutero vivia em uma época em que devia ao passado toda sua formação. Mas vislumbrava uma aurora que nem tinha conhecimento do que implicava. Em outras palavras, Lutero não era nem medieval nem moderno; era transição.
IHU On-Line – Quais foram os limites de Lutero e da Reforma? E de que forma essa experiência pode nos inspirar nos tempos atuais?
Vítor Westhelle – Lutero disse que só a experiência faz um teólogo ou teóloga. Isto foi inusitado em uma época, ao contrário da nossa, em que teologia se fazia a partir dos conhecimentos contidos nos cânones da igreja e nos tratados e sumas teológicas de seus teólogos. Então, falar em limites é bastante óbvio. Ele compartilhava com seu tempo vários dos preconceitos vigentes. Entre estes destaca-se seu antissemitismo, mais ao final de sua vida, depois de haver defendido os judeus anteriormente.
Também não teve muita sensibilidade em tratar de alguns efeitos da Reforma. O movimento entusiasta que cativou a muitos foi por ele duramente condenado, quiçá por acelerarem demais o processo reformatório. Ele, ao contrário de alguns de seus mais achegados colaboradores, como Melanchthon [17], não manteve a posição inicial que tinha de reformar a Igreja de Roma. A partir de 1522 já não guardava esperanças de reconciliação com Roma. Mas foi sua experiência de ser perseguido pelo Império e por Roma que determinou muitas de suas posturas e, estando no centro dos eventos, nunca teve a distância necessária para avaliar suas opções com neutralidade.
Portanto, Lutero não é, como pessoa, uma fonte de inspiração, não é um santo nem buscou sê-lo. Viveu sua vida de uma maneira que foi de um lado rígida, mas por outro ele era também um bonachão. Gostava de compartilhar a mesa com amigos e beber a cerveja que sua companheira e esposa, a ex-freira Catarina de Bora, fazia.
IHU On-Line – Como analisa a relação entre as igrejas evangélicas hoje?
Vítor Westhelle – É preocupante. De um lado há um isolacionismo de grupos que evitam qualquer diálogo para manter intactas as fronteiras de seus territórios. De outro lado, há um ecumenismo um pouco desmesurado em que a unidade eclesial vai às custas de sua integridade confessional. Esta me parece importante, pois sejamos presbiterianas, católica-romanas, luteranas, metodistas, ou pentecostais, ou até mesmo de outras crenças não-cristãs, temos algo particular a aportar, na busca por definir nossa sina de pessoas humanas em busca do bem comum.
No movimento ecumênico há um conceito que vale resgatar. Este é o “processo conciliar” que visa não a unidade visível das igrejas, mas estabelecer as condições de possibilidade de uma conversação entre pares em busca de uma meta comum que nos une como evento, mesmo que não institucionalmente. Para citar uma parábola de Jesus, temos em nossos tesouros coisas novas e coisas velhas que podemos oferecer. Elas são nosso dote na busca de comunhão.
IHU On-Line – 500 anos depois da cisão, como observa a relação entre católicos e luteranos? E como imagina que as igrejas cristãs devam caminhar nos próximos anos?
Vítor Westhelle – A igreja que Lutero buscou reformar não é a Igreja Católica Apostólica Romana de hoje. Esta passou por transformações que a Lutero mesmo surpreenderia. A chamada Contrarreforma foi uma busca singela e decidida de reformar a igreja. Inácio de Loyola [18] foi o mais eficaz, mas de nenhuma maneira o único a seguir os passos de Lutero e dos pré-reformadores, mas sem romper com os vínculos eclesiais que tinha. O Concílio de Trento [19], na segunda metade do século XVI, foi uma tentativa oficial de responder à Reforma. E é importante reconhecer que um Lutero nunca surgiria na Igreja de Roma especialmente depois do Concílio Vaticano II [20].
As diferenças persistem, por suposto, mas a gravidade das mesmas tende muito mais ao diálogo que à confrontação. Neste sentido, Lutero vive já não como um cismático, mas como uma voz de uma consciência alerta a seu tempo e lugar que busca o crucificado nas pessoas marginalizadas e oprimidas, e na criação que sofre e geme sob o peso do capital que tem a si mesmo como fim.
Notas:
[1] Cristóvão de Colombo (1451-1506): foi um navegador e explorador, responsável por liderar a frota que alcançou o continente americano em 12 de outubro de 1492, sob as ordens dos Reis Católicos de Espanha, no chamado descobrimento da América. Empreendeu a sua viagem através do Oceano Atlântico com o objetivo de atingir a Índia, tendo na realidade descoberto as ilhas das Caraíbas (Antilhas) e, mais tarde, a costa do Golfo do México na América Central. Seu nome em jamaico é Cristoforo Colombo, em latim Christophorus Columbus e em espanhol, Cristóbal Colón. Este antropônimo inspirou o nome de, pelo menos, um país, Colômbia e duas regiões da América do Norte: a Colúmbia Britânica no Canadá e o Distrito de Colúmbia nos Estados Unidos. Entretanto o Papa Alexandre VI, escrevendo em latim, sempre chamou ao navegador pelo nome de Christophorum Colon com significado de Membro e nunca pelo latim Columbus com significado de Pombo. (Nota da IHU On-Line)
[2] Fernão de Magalhães (1480-1521): foi um navegador português que se notabilizou por ter organizado a primeira viagem de circum-navegação ao globo de 1519 até 1522. Nascido numa família nobre, em 1506 viajou para as Índias Ocidentais, participando de várias expedições militares nas Molucas, também conhecidas como as Ilhas das Especiarias. O Pinguim-de-magalhães recebeu o seu nome como homenagem, já que Magalhães foi o primeiro Europeu a ter visto um exemplar da ave. As aptidões de navegação de Magalhães também foram reconhecidas na nomeação de objetos associados à astronomia, incluindo as Nuvens de Magalhães, as crateras lunares de Magalhães, e as crateras marcianas de Magalhães. (Nota da IHU On-Line)
[3] Erasmo de Rotterdam (1466-1536): teólogo e humanista neerlandês, conhecido como Erasmo de Roterdã. Seu principal livro foi Elogio da loucura. Erasmo cursou o seminário com os monges agostinianos e realizou os votos monásticos aos 25 anos, vivendo como tal, sendo um grande crítico da vida monástica e das características que julgava negativas na Igreja Católica. Optou por uma vida de acadêmico independente - independente de país, independente de laços acadêmicos, de lealdade religiosa - e de tudo que pudesse interferir com a sua liberdade intelectual e a sua expressão literária. (Nota da IHU On-Line)
[4] Carlos V e I (1500-1558): foi o Sacro Imperador Romano-Germânico como Carlos V a partir de 1519 e Rei da Espanha como Carlos I de 1516 até sua abdicação em favor de seu irmão mais novo Fernando I no império e seu filho Filipe II na Espanha. Carlos era o herdeiro de três das principais dinastias europeias: a Casa de Habsburgo da Monarquia de Habsburgo, a Casa de Valois-Borgonha dos Países Baixos Borgonheses e a Casa de Trastâmara das coroas de Aragão e Castela. Ele governou vastos domínios na Europa central, oriental e do sul, além das colônias espanholas nas Américas. Como o primeiro monarca a governar Castela, Leão e Aragão simultaneamente, ele se tornou o primeiro Rei da Espanha. Carlos tornou-se imperador em 1519. A partir de então seu império cobria mais de quatro milhões de quilômetros quadrados pela Europa, Oriente e Américas. Grande parte de seu reinado foi dedicado às guerras italianas contra a França, sendo militarmente bem-sucedidas apesar dos enormes gastos, levando à criação do primeiro exército profissional europeu: o Terço.
Além de suas realizações militares, Carlos é mais conhecido por seu papel contra a Reforma Protestante. Vários príncipes germânicos abandonaram a Igreja Católica e formaram a Liga de Esmalcalda para poder desafiarem a autoridade de Carlos com força militar. Não desejando que guerras religiosas chegassem em seus domínios, ele forçou a convocação do Concílio de Trento que iniciou a Contrarreforma. A Companhia de Jesus foi estabelecida por Inácio de Loyola durante seu reinado para combater o protestantismo de forma pacífica e intelectual.
No Novo Mundo a Espanha conquistou os astecas do México e os incas do Peru, estendendo seu controle por grande parte da América Central e do Sul. Carlos abdicou em 1556 de todos os seus títulos. A Monarquia de Habsburgo passou para seu irmão Fernando, enquanto o Império Espanhol ficou com seu filho Filipe. Os dois impérios permaneceriam aliados até o século XVIII. Carlos tinha apenas 54 anos na época de sua abdicação, porém estava fisicamente exausto depois de governar energicamente por 34 anos e procurou paz em um monastério, onde morreu dois anos depois. (Nota da IHU On-Line)
[5] Teologia da Libertação: escola teológica desenvolvida depois do Concílio Vaticano II. Surge na América Latina, a partir da opção pelos pobres, e se espalha por todo o mundo. O teólogo peruano Gustavo Gutiérrez é um dos primeiros que propõe esta teologia. A teologia da libertação tem um impacto decisivo em muitos países do mundo. Sobre o tema confira a edição 214 da IHU On-Line, de 02-4-2007, intitulada Teologia da libertação. Leia, também, a edição 404 da revista IHU On-Line, de 05-10-2012, intitulada Congresso Continental de Teologia. Concílio Vaticano II e Teologia da Libertação em debate. (Nota da IHU On-Line)
[6] Paulo Freire (1921-1997): educador brasileiro. Como diretor do Serviço de Extensão Cultural da Universidade de Recife, obteve sucesso em programas de alfabetização, depois adotados pelo governo federal (1963). Esteve exilado entre 1964 e 1971 e fundou o Instituto de Ação Cultural em Genebra, Suíça. Foi também professor da Unicamp (1979) e secretário de Educação da prefeitura de São Paulo (1989-1993). É autor de A Pedagogia do Oprimido, entre outras obras. A edição 223 da revista IHU On-Line, de 11-6-2007, teve como título Paulo Freire: pedagogo da esperança. (Nota da IHU On-Line)
[7] Alguns historiadores denominam como “despertar evangélico” uma série de movimentos reformistas que ocorreram durante a Idade Média, entre eles o Franciscanismo. Em comum, além de reformar a Igreja Católica, pregavam uma volta às escrituras, em especial aos Evangelhos, pois acreditavam que ali estavam os preceitos e lições básicos do Cristo. (Nota da IHU On-Line)
[8] Sola Scriptura: segundo a Reforma Protestante, é o princípio segundo o qual a Bíblia tem absoluta primazia ante a Tradição legada pelo magistério da Igreja Cristã, quando os princípios doutrinários entre esta e aquela forem conflitantes. A Reforma não rejeita a Tradição, e ela continua a ser usada como legitimadora para qualquer assunto não declarado pela Bíblia. Se houver divergências entre Bíblia e tradição, a Bíblia terá primazia. Nos movimentos de inspiração reformada considerados historicamente como radicais (anabatistas e puritanos), e outros surgidos durante o século XIX, esse princípio foi ressignificado como nuda scriptura, passando a ser entendido ao pé da letra, adotando-se a ideia de que a A Escritura interpreta a própria Escritura, bem como a que a mesma era suficiente como única fonte de doutrina e prática cristãs em todos os aspectos. Devido a essa ressignificação, passou-se a chamar o entendimento anterior reformado pelo novo nome Prima Scriptura. (Nota da IHU On-Line)
[9] Karl Marx (1818-1883): filósofo, cientista social, economista, historiador e revolucionário alemão, um dos pensadores que exerceram maior influência sobre o pensamento social e sobre os destinos da humanidade no século 20. A edição 41 dos Cadernos IHU ideias, de autoria de Leda Maria Paulani, tem como título A (anti)filosofia de Karl Marx. Também sobre o autor, a edição número 278 da revista IHU On-Line, de 20-10-2008, é intitulada A financeirização do mundo e sua crise. Uma leitura a partir de Marx. A entrevista Marx: os homens não são o que pensam e desejam, mas o que fazem, concedida por Pedro de Alcântara Figueira, foi publicada na edição 327 da IHU On-Line, de 3-5-2010. A IHU On-Line preparou uma edição especial sobre desigualdade inspirada no livro de Thomas Piketty O Capital no Século XXI, que retoma o argumento central de O Capital, obra de Marx. (Nota da IHU On-Line)
[10] Eugene, OR, EUA: Cascade Books, 2016. (Nota da IHU On-Line)
[11] Fernando Pessoa (1888-1935): escritor português, considerado um dos maiores poetas de língua portuguesa. Atuou no jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na literatura, onde desdobrou-se em várias outras personalidades conhecidas como heterônimos. A figura enigmática em que se tornou movimenta grande parte dos estudos sobre sua vida e obra, além do fato de ser o maior autor da heteronímia. (Nota da IHU On-Line)
[12] Teologia da Cruz: também denominada estaurologia, é um termo cunhado pelo teólogo Martinho Lutero para fazer referência à teologia que propõe que a cruz é a única fonte de conhecimento sobre quem é Deus e como Ele salva em contraste com a teologia da glória (theologia gloriae), que enfatiza as habilidades e a razão humanas. (Nota da IHU On-Line)
[13] Mariologia: é o conjunto de estudos teológicos acerca de Maria, mãe de Jesus Cristo na Igreja Católica, que compreende uma vasta produção bibliográfica que visa a salientar a importância da figura feminina de Maria e a profunda e piedosa crença dos fiéis a ela, com o objetivo de enriquecer o âmbito teológico cristão. O jovem Lutero é considerado devoto de Maria, mas, depois como reformista, Lutero condenou os excessos da devoção medieval e ensino sobre Maria. Ele viu que ela tinha sido decorada com atributos que apenas pertenciam a Cristo. (Nota da IHU On-Line)
[14] Magnificat: também conhecida como Canção de Maria ou Canto de Maria, é um cântico entoado frequentemente na liturgia dos serviços eclesiásticos cristãos. O texto do cântico vem diretamente do Evangelho segundo Lucas (Lucas 1:46-55) onde é recitado pela Virgem Maria na ocasião da Visitação de sua prima Isabel. Na narrativa, após Maria saudar Isabel, que está grávida com aquele que será conhecido como João Batista, a criança se mexe dentro do útero de Isabel. Quando esta louva Maria por sua fé, Maria entoa o Magnificat como resposta. O cântico ecoa diversas passagens do Antigo Testamento, porém a alusão mais notável são as feitas à Canção de Ana, dos Livros de Samuel. Juntamente com o Benedictus e o Nunc dimittis, e diversos outros cânticos do Antigo Testamento, o Magnificat foi incluído no Livro de Odes, uma antiga coletânea litúrgica encontrada em alguns manuscritos da Septuaginta. (Nota da IHU On-Line)
[15] Agostinho de Hipona (354-430): conhecido como Santo Agostinho, foi um dos mais importantes teólogos e filósofos dos primeiros anos do cristianismo, cujas obras foram muito influentes no desenvolvimento do cristianismo e da filosofia ocidental. Escrevendo na era patrística, ele é amplamente considerado como sendo o mais importante dos padres da Igreja no Ocidente. Suas obras-primas são A cidade de Deus e Confissões. (Nota da IHU On-Line)
[16] Bernardo de Claraval (1090-1153): conhecido também como São Bernardo, era oriundo de uma família nobre de Fontaine-les-Dijon, perto de Dijon, na Borgonha, França. Aos 22 anos foi estudar teologia no mosteiro de Cister. Em 1115 fundou a abadia de Claraval, sendo o seu primeiro abade. Fundou 163 mosteiros em vários países da Europa. Durante sua vida monástica demonstrava grande fé em Deus serviu à igreja católica apoiando as autoridades eclesiásticas acima das pretensões dos monarcas. Em função disto favoreceu a criação de ordens militares e religiosas. Uma das mais famosas foi a ordem dos cavaleiros templários. (Nota da IHU On-Line)
[17] Philipp Melanchthon (1497-1560): foi um reformador, astrólogo e astrônomo alemão. Colaborador de Lutero, redigiu a “Confissão de Augsburgo” (1530) e converteu-se no principal líder do luteranismo após a morte de Lutero. (Nota da IHU On-Line)
[18] Inácio de Loyola (1491-1556): fundador da Companhia de Jesus, a Ordem dos Jesuítas, cuja missão é o serviço da fé, a promoção da justiça, o diálogo inter-religioso e cultural. A Ordem teve grande importância na Reforma Católica. Atualmente a Companhia de Jesus é a maior Ordem religiosa católica no mundo. Para saber mais sobre Loyola, acesse a edição 186 da IHU On-Line. Foi canonizado em 12 de março de 1622 pelo Papa Gregório XV. Festeja-se seu dia em 31 de julho. (Nota da IHU On-Line)
[19] Concílio de Trento: realizado de 1545 a 1563, foi o 19º concílio ecumênico. Foi convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da fé (sagrada escritura histórica) e a disciplina eclesiástica, no contexto da Reforma da Igreja Católica e a reação à divisão então vivida na Europa devido à Reforma Protestante, razão pela qual é denominado como Concílio da Contrarreforma. (Nota da IHU On-Line)
[20] Concílio Vaticano II: convocado no dia 11-11-1962 pelo papa João XXIII. Ocorreram quatro sessões, uma em cada ano. Seu encerramento deu-se a 8-12-1965, pelo papa Paulo VI. A revisão proposta por este Concílio estava centrada na visão da Igreja como uma congregação de fé, substituindo a concepção hierárquica do Concílio anterior, que declarara a infalibilidade papal. As transformações que introduziu foram no sentido da democratização dos ritos, como a missa rezada em vernáculo, aproximando a Igreja dos fiéis dos diferentes países. Este Concílio encontrou resistência dos setores conservadores da Igreja, defensores da hierarquia e do dogma estrito, e seus frutos foram, aos poucos, esvaziados, retornando a Igreja à estrutura rígida preconizada pelo Concílio Vaticano I. A revista IHU On-Line publicou na edição 297 o tema de capa Karl Rahner e a ruptura do Vaticano II, de 15-6-2009, bem como a edição 401, de 3-9-2012, intitulada Concílio Vaticano II. 50 anos depois, e a edição 425, de 1-7-2013, intitulada O Concílio Vaticano II como evento dialógico. Um olhar a partir de Mikhail Bakhtin e seu Círculo. Em 2015, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU promoveu o colóquio O Concílio Vaticano II: 50 anos depois. A Igreja no contexto das transformações tecnocientíficas e socioculturais da contemporaneidade. As repercussões do evento podem ser conferidas na IHU On-Line 466, de 1-6-2015. (Nota da IHU On-Line)
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Lutero. O místico que traz o monastério para o cotidiano popular. Entrevista especial com Vítor Westhelle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU