30 Outubro 2024
O Papa a quis na sala de controle para organizar quatro encontros sem precedentes do Conselho de Cardeais (C9) entre 2023 e 2024 sobre o papel das mulheres na Igreja. Para ocupar a tribuna diante de Bergoglio e dos cardeais, teólogas como ela, a Irmã Linda Pocher, religiosa das Filhas de Maria Auxiliadora. Também nessas ocasiões, a professora de Cristologia e Mariologia no Auxilium de Roma defendeu a urgência de “desmasculinizar a Igreja” para “dar a palavra e ouvir as mulheres”. Essa é uma indicação ainda maior depois que o Sínodo dos Bispos, recém-concluído, defendeu a presença de leigas e religiosas em funções de liderança no povo de Deus.
A entrevista é de Giovanni Panettiere, publicada por QN, 28-10-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Por que é fundamental para a Igreja falar sobre as mulheres, até mesmo no C9?
O documento final do Sínodo viu os vários pontos serem aprovados quase por unanimidade, com exceção daquele sobre o acesso de ambos os sexos aos ministérios ordenados. O debate na Igreja sobre esse tema é muito acalorado e há muitas expectativas por parte das comunidades. Essa conscientização levou o Papa a dedicar tempo para ouvir o que as mulheres pensam sobre o assunto.
Mas será que as mulheres encontram realmente escuta na Igreja?
Nos diferentes níveis de governo, tanto no Vaticano quanto nas comunidades locais, é possível encontrar práxis muito diferentes. A capacidade de escuta e de valorização recíproca depende da cultura, da idade e da formação.
E no C9, você se sentiu escutada?
Certamente o Papa ofereceu um exemplo virtuoso ao dedicar quatro manhãs para o confronto com o pensamento e a experiência das mulheres. Fazer o esforço de se escutar mutuamente não significa automaticamente entender-se e concordar.
Há também um debate entre os cardeais do Conselho sobre a restauração do diaconato feminino?
O que posso dizer é que os cardeais expressam sensibilidades diferentes, como são as realidades locais que os prelados representam.
O Papa, no entanto, barrou a ordenação diaconal para mulheres...
No C9, ele não se expressou nem a favor nem contra. Recentemente, em uma entrevista, não em um documento oficial, ele afirmou que a considerava desnecessária. O debate ainda não está encerrado, é preciso paciência e é preciso continuar a falar sobre isso.
Mesmo depois do parecer por enquanto contrário contido no relatório provisório do grupo de estudo sobre os ministérios apresentado ao Sínodo?
Não estou surpresa com o fato de não haver atualmente nenhuma intenção de abertura para o diaconato feminino inserido na ordem sagrada. Está faltando um consenso eclesial forte o suficiente. Mas acho que é importante que o texto deixe espaço para falar sobre isso, para aprofundar e estudar a questão. Só me incomoda o fato de que os membros da comissão não são conhecidos, nem se sabe como trabalharam.
No fim, será que teremos de nos contentar com um diaconato para mulheres fora do sacramento da Ordem, pelo menos numa fase inicial?
A Igreja Anglicana, que também abriu o acesso à ordenação episcopal para as mulheres, por muito tempo conheceu um diaconato feminino não ordenado. No entanto, isso ocorreu no início do século XX. Muitos teólogos e teólogas são, com razão, contra essa solução, embora eu ache que não deva ser descartada a priori.
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“Desmasculinizar a Igreja. E sobre o diaconato feminino o debate permanece aberto”. Entrevista com Linda Pocher - Instituto Humanitas Unisinos - IHU