Na Igreja, o difícil é comunicar. Entrevista com Nando Pagnoncelli

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22 Mai 2024

Para falar a todos, a Igreja deve saber ouvir. E, nesse sentido, as fases do Sínodo em curso oferecem problemas e perspectivas.

A entrevista é de Giulio Brotti, publicada em La Barca e il Mare, 11-05-2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

No dia 17 de abril passado, o jornal Avvenire publicou uma série de considerações de Nando Pagnoncelli sob o título “Aprenda a falar com todos e com cada um. Mas, primeiro, escute: Igreja, faça como Jesus”.

Nessa reportagem, em diálogo com o jornalista Lorenzo Rosoli, Pagnoncelli afirmava que “a comunicação é sempre em duas direções. E uma Igreja que sabe comunicar, com os crentes assim como com os não crentes, é acima de tudo uma Igreja que sabe escutar. Não para ‘perseguir’ a opinião pública, mas porque não tem medo de se abrir às reivindicações, aos desejos, às emoções e até aos medos que a mensagem evangélica suscita quando toca a nossa vida”.

Pagnoncelli, presidente da agência de pesquisas de opinião Ipsos Italia, passou a fazer parte recentemente da presidência da Comissão Nacional do Caminho Sinodal da Igreja Italiana.

Eis a entrevista.

Você já ocupou anteriormente um cargo oficial na comissão organizadora do Sínodo.

Sim, mas recentemente fui convidado a entrar também na comissão da presidência, que conta com um total de 17 membros, incluindo outro de Bérgamo, o Pe. Giuliano Zanchi, professor de Teologia na Universidade Católica de Milão e diretor da publicação mensal La Rivista del Clero Italiano.

Em relação à comissão nacional, poderia explicar como funcionam atualmente seus trabalhos internos?

O trabalho da comissão nacional está dividido por temas em cinco comissões. No entanto, eu gostaria de dar um passo atrás, para poder explicar melhor a questão. Uma primeira fase de “escuta” havia sido desenvolvida de 2021 a 2023, e tinha envolvido um número impressionante de grupos de discussão em todas as dioceses italianas, cerca de 50 mil. A ideia principal, segundo uma conhecida expressão do Papa Francisco, era a de “uma Igreja em saída”, ávida por se renovar, por escutar, por compreender melhor as dinâmicas do mundo contemporâneo. Aliás: tentemos imaginar quantos minutos de gravação poderiam ter sido produzidos em todos esses grupos. A partir dessas contribuições, foi feita uma síntese extremamente acurada, e foram identificados cinco macrotemáticas, atribuídas às comissões que acabo de referir: trata-se da “missão segundo o estilo da proximidade”, da “linguagem e comunicação” – da qual eu faço parte –, da “formação à fé e à vida”, da “sinodalidade permanente e corresponsabilidade”, da “mudança das estruturas”.

A fase atual do caminho do Sínodo é a “sapiencial”?

Ela está dedicada ao discernimento das contribuições anteriormente recolhidas: o resultado é uma série de propostas para o futuro próximo.

A questão da “linguagem” para se anunciar o Evangelho não se reduz a um problema de embalagem: não se trata apenas de “enfeitar” os sermões e os boletins paroquiais, tornando-os mais atraentes. Pensemos, por exemplo, em tantos casais de católicos praticantes cujos filhos nunca vão à missa, nem mesmo ocasionalmente: esses jovens dizem que acham os ritos e as palavras da Igreja chatos, irrelevantes. O risco real, hoje em dia, não é que a linguagem da tradição cristã encontre oposição ou seja rejeitada, mas que seja simplesmente incompreensível para as novas gerações.

A questão é precisamente esta: a mensagem cristã corre o risco de ser “insignificante”. Parece-me que, para os fiéis, decorrem daí duas tarefas distintas: a primeira é a de reatribuir um valor à própria mensagem; a segunda é a de encontrar formas eficazes para comunicá-la.

São dois aspectos intimamente interligados.

Certamente. A questão, em seus dois aspectos, não é pequena: por assim dizer, não basta apertar um botão para acender a luz em um ambiente escuro. Um ponto, porém, é evidente: trata-se de fazer com que o anúncio cristão entre em contato com a vida concreta das pessoas do nosso tempo, em um contexto social muito diferente, muito mais articulado do que no passado. Você falava do caso dos jovens e dos adolescentes que não põem mais o pé na igreja. Mas mesmo entre os adultos parece haver um distanciamento desse tipo.

Há alguns meses, também no Avvenire, o teólogo Pierangelo Sequeri iniciou um debate sobre a necessidade de os católicos se engajarem em um trabalho cultural de leitura e de interpretação do mundo atual: a dimensão do “testemunho”, embora fundamental, por si só, não é suficiente (e talvez também se preste a ser subjugada em sentido ideológico: como já “fazemos muitas coisas”, o estudo e a reflexão crítica não adiantam nada).

Eu também acho que as duas coisas – o testemunho e o trabalho reflexivo – devem andar de mãos dadas. De certa forma, a fase de escuta do caminho sinodal também evidenciou essa necessidade. Alguns, no início, poderiam ter imaginado que a discussão ocorreria segundo moldes pré-estabelecidos. Não foi assim: discutiu-se sobre tudo, sem nenhum tabu. Depois, diante desse aspecto certamente positivo, surge outra questão: até que ponto serão recebidas as propostas desenvolvidas na segunda fase, a do discernimento? Há ainda uma outra questão.

Qual?

Na presidência do Sínodo, talvez correndo o risco de parecer um pouco “corporativo”, eu levantei a questão que eu chamaria de “acompanhamento e verificação”. O trabalho monumental realizado até agora corre o risco de ser desperdiçado se, uma vez concluído o processo sinodal, as dioceses e as paróquias individuais não forem capazes de pôr em prática as propostas formuladas. Haverá a necessidade de um acompanhamento, porque ninguém nasce especialista, e também de verificações ao longo do tempo, para controlar que o processo de mudança esteja sendo realmente adotado de forma capilar.

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