07 Mai 2024
“Uma comunidade cristã que vive a corresponsabilidade é necessária ao anúncio do Evangelho. Mas é também um fecundo sinal de contradição em relação aos particularismos sociais e políticas do nosso tempo”, afirma o padre Giorgio Nacci, professor de teologia moral na Faculdade Teológica Pugliese.
A entrevista é de Lorenzo Rosoli, publicada por Avvenire, 03-05-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Uma Igreja sinodal? É bom para toda a sociedade. Uma Igreja autenticamente sinodal, na qual se vive o estilo da corresponsabilidade é necessária para a missão de anunciar o Evangelho no contexto cultural de hoje. Mas é também um fecundo sinal de contradição em relação ao individualismo e aos particularismos sociais, culturais e políticos do nosso tempo, e em relação à desresponsabilização cada vez mais generalizada quanto ao cuidado do bem comum - continua o sacerdote da arquidiocese de Brindisi-Ostuni. Uma Igreja cada vez mais sinodal, Igreja do discernimento comunitário, aberta e inclusiva, é para a sociedade atual um fermento e um modelo positivo da participação ativa para a construção do bem comum”.
O padre Nacci faz parte da Presidência da Comissão Nacional do Caminho Sinodal. Com ele Avvenire faz um balanço sobre um dos temas propostos às dioceses para o discernimento da fase sapiencial: a sinodalidade e a corresponsabilidade. “O tema talvez mais ad intra. Mas só na aparência”, sublinha. Algumas questões cruciais. “Com esse tema tocamos o ponto central do Caminho Sinodal – continua o padre Nacci –. Se sinodalidade é o nome da Igreja, o Papa Francisco nos lembra, haurindo à tradição, a corresponsabilidade expressa a forma que a vida da Igreja deve assumir hoje, em relação à sua missão, o anúncio do Evangelho. O Caminho Sinodal levantou algumas questões cruciais, no centro dos trabalhos da comissão "Sinodalidade e corresponsabilidade, como: a relação entre corresponsabilidade e ministerialidade, no âmbito da participação de todos os batizados na vida da Igreja; os organismos de participação eclesial e os processos de discernimento comunitário; o reconhecimento e a valorização do papel das mulheres e sua contribuição para a corresponsabilidade eclesial".
Sobre a primeira questão: “Voltou a expressão ‘Igreja totalmente ministerial’. Isso não significa que todos devem assumir um ministério em sentido estrito, mas que todos os batizados podem colocar os carismas recebidos do Espírito ao serviço da missão. Promover a corresponsabilidade significa despertar essa consciência: a responsabilidade de cada um para com a missão única. Na Igreja, claro, existem os ministérios ordenados individuais e o ministério dos leigos, com a sua função. Mas a ministerialidade não se resume a um papel ou serviço específicos”.
Tempo de criatividade. “Na história da Igreja sempre surgiram novas ministerialidades para a missão – explica o teólogo –. E isso é necessário também hoje, e a Igreja reflete sobre isso.
A ministerialidade para a missão é ministerialidade que atinge as periferias existenciais, culturais, espirituais, para cuidar daqueles que estão no limiar da vida eclesial e tornar felizes todos os protagonistas". Trata-se, portanto, de “promover os ministérios instituídos – leitorado, acolitado, catequista – mas também desenvolver uma nova criatividade ministerial."
Formas de participação. Outro tema decisivo é promover organismos de participação paroquiais e diocesanos, cada vez mais ao serviço da corresponsabilidade. “A Igreja sinodal, aberta a todos, inclusiva, sabe capitalizar a contribuição de cada um. Nisso, o papel dos organismos de participação é fundamental. É uma reflexão que está sendo desenvolvida – testemunha o padre Nacci – sobre as modalidades com que se dá o discernimento comunitário, para que seja um processo que permita a todos participar da na vida da Igreja na escuta do Espírito”. É importante, além disso, “fomentar uma maior comunicação e transparência nas escolhas pastorais e econômicas, para que todos possam participar não só nos processos de tomada de decisão, mas na sua implementação e verificação”.
O papel das mulheres. “É necessário permitir que as mulheres estejam presentes onde efetivamente a comunidade cristã toma as suas decisões, reconhecendo o seu papel, as competências e a liderança que possam exercer. Basta pensar no que já acontece hoje nas associações laicais, nos movimentos, na vida religiosa – ressalta o sacerdote –. Existem outros níveis da vida eclesial nos quais reconhecer papéis de responsabilidade e liderança para as mulheres: por exemplo, nos órgãos de participação, ou nas agências pastorais. Ou no ensino nas faculdades teológicas, onde as mulheres hoje são uma presença minoritária."
As resistências à sinodalidade. “Existem resistências ligadas à influência do contexto cultural atual como o forte individualismo, o fraco sentido de pertença, a falta de educação para participar na construção de decisões para o bem comum. Mas também existem resistências ligadas à própria vida da Igreja – afirma o teólogo – como a sobrevivência do clericalismo, que leva ao enrijecimento por parte de quem dirige a comunidade, ou uma formação inadequada do laicato, ou uma visão exclusivamente sacralizada e hierarquizada do ministério ordenado. Resistências que devemos reconhecer com lucidez, para poder superá-las e construir a Igreja segundo o modelo do Concílio Vaticano II. Está em jogo a própria eficácia da missão evangelizadora”.
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“Menos clericalismo, mais espaço para as mulheres. Igreja Sinodal? É bom para a sociedade", afirma Padre Giorgio Nacci - Instituto Humanitas Unisinos - IHU