11 Janeiro 2022
"É incrível que, diante de uma pandemia global, ainda não se tenha encontrado uma solução para a questão das patentes. Para além das (também importantes) razões humanitárias, há razões de racionalidade científica e política que deveriam nos levar nessa direção. Por ser uma questão planetária (como tantas outras que teremos que gerenciar no futuro, a começar pelo aquecimento global), precisamos compartilhar conhecimento e coordenar intervenções para ajustar as respostas a uma contaminação que atravessa as fronteiras. A pandemia é uma oportunidade de demonstrar (concretamente) que a cooperação é, em alguns momentos, necessária e superior à competição", escreve Mauro Magatti, sociólogo e economista italiano, em artigo publicado por Corriere della Sera, 10-01-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Já são dois anos que a pandemia obriga as nossas sociedades a um esforço difícil e contínuo de adaptação. Já havia acontecido com a primeira disseminação do vírus, e depois com a variante Delta, e agora com a Ômicron que em poucas semanas chegou da África do Sul para as ruas de nossas cidades.
Convencidos de que agora tínhamos alcançado uma boa capacidade de controlar a infecção, nos vemos de volta à zona amarela.
Os levantamentos (como o de Nando Pagnoncelli de 2 de janeiro no Corriere della Sera) mostram uma boa capacidade de resposta. Apesar de tudo, a maioria dos italianos olha com preocupação, mas não com desconfiança, para os próximos meses. Também graças ao bom resultado econômico de 2021. E, no entanto, dado que os ânimos mudam bem rapidamente, não devemos deixar de refletir sobre o que está acontecendo e sobre os significados que os eventos trazem com eles. Existem pelo menos quatro considerações que esta nova onda sugere.
A primeira é que, diferentemente do que esperávamos, ainda estamos no meio da pandemia. Mas não voltamos ao ponto de partida. Felizmente, a situação é muito diferente de dois anos atrás. Embora a Ômicron tenha nos atingido com uma velocidade surpreendente, hoje estamos mais organizados e, acima de tudo, mais protegidos. No entanto, esta quarta onda deveria nos induzir a colocar de lado todo triunfalismo.
Ainda há muito que não conhecemos. As próprias vacinas - uma barreira fundamental para conter os danos que poderiam ter sido muito mais devastadores - parecem oferecer muito menos cobertura do que imaginávamos. Não um ano, mas poucos meses. E isso significa que nossa capacidade de entender a fundo esse vírus ainda é limitada. Ainda leva tempo para aperfeiçoar nossas defesas. Portanto, é melhor calibrar os tons. A ciência, que por definição é humilde, sabe que nunca poderá dispensar certezas graníticas. Por mais fundamental que seja, a ciência não nos "salvará". Não é a sua função. E muito menos sozinha. Para sair desta situação e gerir as suas consequências, também são necessárias a capacidade das instituições para dar respostas concretas e o contributo de todos na adoção de comportamentos conscientes e responsáveis.
A segunda consideração é que os tempos são mais longos do que gostaríamos. Já no verão europeu de 2020 e depois naquele de 2021 pensávamos que tudo já tinha ficado para trás. Não foi assim. Claro, podemos esperar que aqueles que argumentam que este será o último inverno da pandemia estejam certos. Mas a verdade é que não o sabemos. A incógnita das variantes paira sobre o nosso futuro como uma ameaça muito real.
Acima de tudo, o que está acontecendo nos ensina que a retórica do recomeço está errada. O vírus, de fato, está destinado a se tornar endêmico. Mas isso significa que teremos que manter algumas atenções e que alguns de nossos comportamentos e hábitos do passado terão que mudar permanentemente. E isso não é necessariamente ruim. O importante é incorporar da melhor maneira possível e sem muitas lamentações aquelas mudanças que o coronavírus nos pede.
Em terceiro lugar, a duração da pandemia agrava seu legado, especialmente no que diz respeito em termos de exasperação daquelas desigualdades que já eram muito fortes. Não somos todos atingidos da mesma maneira. Do ponto de vista econômico, uma coisa é aquele que tem uma posição garantida e estável, e outra é quem desempenha um trabalho autônomo. E é ainda pior para os precarizados. Nesses dois anos, além disso, há setores que cresceram enquanto outros desabaram.
As mulheres estão mais uma vez pagando um preço mais alto do que os homens. Enquanto os jovens estão perdendo oportunidades preciosas do ponto de vista de formação e de trabalho. E muitos deles estão desenvolvendo uma desconfiança em relação ao futuro. Quando sairmos desta pandemia já não seremos os mesmos e, sobretudo, não seremos todos iguais. Nossas memórias serão diferentes e nossos sentimentos serão divergentes. Trabalhar para superar a pandemia também significa combater ativamente os sulcos que estão sendo cavados entre nós. Para não ter que pagar depois o preço daqui a alguns anos.
Por fim, a variante Ômicron confirma o que já foi repetido várias vezes, mas em vão: o coronavírus é a primeira pandemia planetária que se produz e se reproduz em relação ao alto nível de integração do mundo em que vivemos. Consequentemente, a solução só pode ser global.
Isso significa que toda a população mundial deve ser vacinada. Até o momento estamos muito distantes desse objetivo. A porcentagem de pessoas que completaram o ciclo de vacinação é de 70% na UE e 60% nos EUA, mas em outros continentes não chega a 50% e em muitas partes da África é de 10%.
Assim, se corre o risco de nunca pôr um fim ao problema. É incrível que, diante de uma pandemia global, ainda não se tenha encontrado uma solução para a questão das patentes. Para além das (também importantes) razões humanitárias, há razões de racionalidade científica e política que deveriam nos levar nessa direção. Por ser uma questão planetária (como tantas outras que teremos que gerenciar no futuro, a começar pelo aquecimento global), precisamos compartilhar conhecimento e coordenar intervenções para ajustar as respostas a uma contaminação que atravessa as fronteiras. A pandemia é uma oportunidade de demonstrar (concretamente) que a cooperação é, em alguns momentos, necessária e superior à competição.
No dia 13 de janeiro (quinta-feira), às 17h30, o Prof. Dr. Alexandre A. Martins – Marquette University – EUA e o MS Felipe Mello – USP, apresentarão a conferência Patógenos e a arrogância humana. O que a pandemia revela sobre nós. A atividade integra o IHU ideias, que tem como objetivo fomentar o debate sobre temas da atualidade, abrangendo as áreas de atuação do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Patógenos e a arrogância humana. O que a pandemia revela sobre nós
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Esse vírus não é igual para todos. Artigo de Mauro Magatti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU