03 Outubro 2023
O Brasil precisa de forma urgente retirar pessoas de áreas de risco, restaurar matas ciliares e investir em obras de infraestrutura, diz especialista.
A reportagem é de Marcelo Menna Barreto, publicada por Extra Classe, 02-10-2023.
Onda de calor sufocante na Europa; chuvas acima do esperado; cheias no rio Taquari e no Guaíba; lobos marinhos no centro da cidade de Rio Grande; seca no Amazonas. Mais do que o fenômeno El Niño, este é o “Novo Normal” na visão de ambientalistas.
Para Cláudio Ângelo, coordenador de comunicação e política climática do Observatório do Clima (OC), o Brasil precisa de forma urgente retirar pessoas de áreas de risco, restaurar matas ciliares e investir em obras de infraestrutura.
Nada, no entanto, será suficiente sem que a humanidade reduza a emissão de gases de efeito estufa.
“Não vai adiantar a gente só se adaptar porque vai chegar um momento que simplesmente todo o ar condicionado que for comprado não vai bastar mais; que toda obra para evitar enchente que for feita, vai resolver. O clima vai continuar mais extremo, cada vez mais extremo”, ressalta o especialista que integra a rede de entidades ambientalistas que discute o problema do aquecimento global no país.
Apesar do El Niño ser um fenômeno do Oceano Pacífico, ele afeta o padrão meteorológico no mundo todo, explica Ângelo.
Oceanos e atmosfera são sistemas que estão acoplados. Tudo o que acontece em um oceano, afeta a atmosfera. "E o que acontece em um oceano grande como o Pacífico, afeta os padrões meteorológicos no mundo todo", reflete.
Assim, em anos de El Niño, é normal que haja calor na Europa. O problema, registra Ângelo, é que o El Niño deste ano chega em um Pacífico que está muito mais quente do que o normal por conta do aquecimento da Terra.
“É como se você estivesse fazendo uma pilha de areia. Você vai jogando areia, vai jogando areia, vai jogando areia. Aí você joga mais uma colherinha de areia numa pilha que já está feita e aquela pilha inteira desmorona”, ilustra ao apontar um planeta que já está, em média, 1,2 grau mais quente.
Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas, acredita que as altas temperaturas decorrentes do aquecimento global como um todo no planeta tende a piorar em 2024.
“Esse El Niño está particularmente mais forte. E nós estamos no primeiro ano. Como o segundo ano do fenômeno em geral é mais forte, a tendência é que o ano que vem possa ser até pior”, afirma.
O desmatamento que afeta a cobertura florestal brasileira, aponta, coloca o Brasil em situação de fragilidade.
“As florestas têm um papel não só de manter carbono. Quando você desmata, você emite mais carbono e, portanto, gera mais o efeito do aquecimento global. As florestas têm um efeito que a gente chama de efeito refrigerador. Por conta da evapotranspiração, as florestas conseguem ter um efeito de redução da temperatura”, explica.
O certo é que na opinião do integrante do OC, “tudo que a gente viveu, vivenciou e aprendeu sobre o clima do passado, não vale mais”.
Então, registra, a sociedade precisa se preparar para lidar com eventos extremos cada vez mais fortes.
Daí, as obras de infraestrutura necessárias para adaptar as cidades à nova realidade climática.
“Não é que vai passar o ano inteiro chovendo torrencialmente no sul do Brasil. O problema é que na temporada chuvosa, as chuvas vão vir muito mais intensas. Não é que vai ter mais nevascas ou mais secas. O que já está pegando de verdade, é o aumento da intensidade dos extremos. Então, quando chove, chove mais. Quando seca, seca mais”, fala Ângelo.
A construção dessa infraestrutura necessária, no entendimento dele, é algo que os tomadores de decisões públicas não gostam de ouvir.
“Geralmente são obras que custam uma fortuna e que não têm a visibilidade política toda que os políticos gostam. O prefeito quer construir escola, hospital. Vai fazer quebra-mar, vai fazer piscinão, vai melhorar sistema de esgoto e drenagem?”, questiona.
A resposta: “você votar direito é mais importante do que você reciclar o seu lixo. Tem que eleger políticos comprometidos com a adoção de políticas públicas sérias para tanto se adaptar quanto reduzir de emissões. E tem que ser na esfera federal, porque no Brasil o governo federal tem muito poder, diferente dos Estados Unidos, por exemplo”, conclui Ângelo.
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Quanto mais quente pior: o que dizem ambientalistas sobre onda de calor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU