15 Setembro 2023
"A preocupação de uma discussão polarizadora é real. Especialmente no mundo de língua inglesa, onde estão à obra associações que realizam campanhas massivas contra a 'mudança'".
O artigo é de Maria Elisabetta Gandolfi, publicado por Re-blog, 11-09-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Enquanto estão sendo definidas diversas iniciativas para a abertura da Assembleia Sinodal – a XVI Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão" (Roma, 04 a 29 de outubro) – e em particular uma vigília ecumênica, é interessante notar como vários bispos estão fazendo uma leitura da assembleia sobre a qual muito trabalho foi feito nos últimos dois anos, desde que foi aberta oficialmente em 2021 pelo Papa e até o momento celebrada com consultas paroquiais, diocesanas, nacionais e continentais. Dada a preocupação comum sobre o tom da discussão não apenas dentro da sala sinodal que - como reiterou Francisco na habitual coletiva de imprensa no avião de retorno da viagem à Mongólia – será a portas fechadas, mas também externa, em relação com o que será contado sobre ela, o Papa (como já ressaltamos aqui) pediu ajuda aos jornalistas.
A preocupação de uma discussão polarizadora é real. Especialmente no mundo de língua inglesa, onde estão à obra associações que realizam campanhas massivas contra a “mudança”.
O cardeal arcebispo de Chicago, dom Blaise Cupich, mantém esse contexto em mente quando, na breve carta à diocese do último dia 30 de agosto explica a quem teme que o Sínodo “modifique radicalmente o ensinamento e a prática da Igreja, alinhando-os com as ideias seculares e provocando um cisma", que não há razão para ter "medo". De fato, o Sínodo tem como “questão principal” aquela de permanecer “fiel ao plano de Cristo” para a Igreja", segundo o que já pensava João Paulo II. E é o instrumento, aliás, não novo na história da Igreja, para alcançar tal objetivo.
Também adverte aqueles que deliberadamente “deturpam totalmente o objetivo do Sínodo sobre a sinodalidade" com atitudes partidárias e apocalípticas e se dirige a eles pelo mesmo epíteto usado por João XXIII, "profetas da desgraça": foram chamados assim no discurso de abertura do Vaticano II aqueles que se opunham à celebração do próprio Concílio.
Certamente a publicação do diálogo do Papa com os Jesuítas portugueses ocorreu durante a viagem para a Jornada Mundial da Juventude em agosto passado, que contém um juízo muito claro sobre a polarização da Igreja estadunidense, contribuiu para colocar essa divisão em primeiro plano.
Retorna ao tema também o núncio apostólico nos Estados Unidos (e futuro cardeal), Christophe Pierre, que em entrevista ao Vatican News amplia a perspectiva afirmando que a polarização é infelizmente uma característica social generalizada, onde as pessoas em nome de uma ideia perdem de vista o motivo concreto da discussão: “A polarização na Igreja é um perigo porque pode matar também a Igreja e a afasta do que deveria ser. Mesmo que as pessoas não compartilham a tua ideia, não são teus inimigos. E é por isso que o Santo Padre (…) lançou essa ideia de sinodalidade, para caminhar juntos usando o método do diálogo, da escuta, do discernimento e também da escuta do Espírito Santo”.
Por outro lado, se há quem continue a difundir a ideia “de que o papa foi eleito apenas para destruir a Igreja e destruir a beleza da Igreja", o diálogo torna-se impossível. Mas, no geral, Mons. Pierre diz estar confiante no Sínodo: “Acho que vai funcionar. E não é uma empreitada pequena. Quando João XXIII lançou o Vaticano II, foi uma empreitada. E se quisermos ser cristãos hoje, precisamos correr riscos."
Não igualmente confiante, no entanto, é outro expoente da área anglófona e mais especificamente da Igreja Irlandesa, o arcebispo (agora emérito) de Dublin Diarmuid Martin, mas por um motivo oposto: porque teme que as expectativas que também vêm da sua pequena mas ativa Igreja local não sejam atendidas, em especial sobre o tema da maior participação das mulheres; disse estar "preocupado" com o fato de tantas consultas iniciadas no povo de Deus terem criado muitas “expectativas” que, no entanto, quase certamente serão “frustradas”, pelo menos no curto prazo.
Finalmente, expressa-se oficialmente de sua sede “em exílio” de Erbil (no Curdistão iraquiano) o Cardeal Louis Raphaël Sako, patriarca dos caldeus, com um texto sobre o que esperar do Sínodo: “Numa tempo de instabilidade, de dificuldades encontradas pela cultura atual em questões difíceis e, em especial, de domínio do liberalismo secular, a Igreja, mãe e mestra, e o papa, sucessor de Pedro, rocha sobre a qual repousa a Igreja e que garante a sua unidade, deve fazer uso da sua autoridade magisterial no processo de autorrenovação e das suas estruturas com plena convicção, conservando fielmente o depósito da fé e da moral de base. É necessário distinguir entre o que é real e expressar o espírito que não pode ser abandonado, e o que é imediatato-prático ligado às condições do tempo e do espaço, que deve ser atualizado”.
E depois de recordar que “as esperanças dos fiéis cristãos aguardam um novo horizonte aberto pelo caminho sinodal na vida da Igreja”, deseja que o Sínodo dê “uma atenção particular às Igrejas Orientais, berço do Cristianismo, que estão ameaçadas na sua própria existência!”
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Sínodo. As diferentes preocupações - Instituto Humanitas Unisinos - IHU