Numa nova carta pública que ecoa as declarações antimodernistas da Igreja Católica do fim do século XIX e início do século XX, o polêmico bispo de Tyler, no Texas, prevê que muitas das "verdades básicas" da fé católica serão desafiadas durante a próxima assembleia de outubro em Roma do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade.

A reportagem é de Brian Fraga, publicada por National Catholic Reporter, 23-08-2023.

Tendo anteriormente acusado o Papa Francisco de “minar o Depósito da Fé”, o Dom Joseph Strickland adverte, em carta de 22 de agosto, sobre “a mensagem maligna e falsa” que, segundo ele, “invadiu” a Igreja.

Strickland também exorta seus leitores a serem cautelosos com quaisquer “tentativas de apresentar uma alternativa ao Evangelho de Jesus Cristo”, e declara que qualquer pessoa que resista a tais mudanças não está tentando deixar a Igreja.

“Em vez disso, aqueles que propõem mudanças naquilo que não pode ser mudado procuram comandar a Igreja de Cristo, e são eles de fato os verdadeiros cismáticos”, escreveu Strickland na provocativa carta de três páginas, dirigida aos católicos da sua diocese.

Nomeado pelo Papa Bento XVI em 2012 para se tornar o quarto bispo da Diocese de Tyler, Dom Joseph Strickland nos últimos anos cultivou a personalidade pública de um incendiário sincero que não hesita em desafiar a liderança do atual papa ou criticar os seus colegas bispos em público. A sua liderança da diocese do leste do Texas é atualmente objeto de uma investigação do Vaticano, conhecida formalmente como visitação apostólica.

Além de suas postagens nas redes sociais questionando a fidelidade de Francisco à fé católica e endossando vídeos atacando o atual pontífice como um “palhaço diabolicamente desorientado”, Strickland questionou o conceito de sinodalidade, uma prática histórica em que os bispos consultam os fiéis em comunhão com o Igreja Universal.

Francisco procurou reviver a sinodalidade. Em 2020, o papa anunciou o Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, um processo de três anos de consulta aos católicos de todo o mundo antes dos encontros em 2023 e 2024 em Roma de bispos e delegados com direito a voto, incluindo homens e mulheres leigos/as.

Muitas das consultas destacaram questões como a forma como a Igreja pode ser um espaço mais acolhedor para as pessoas marginalizadas, incluindo os católicos LGBTQ, e pode integrar melhor as mulheres em postos de liderança, incluindo a possibilidade de ministério ordenado.

Embora Francisco tenha descrito a sinodalidade como “o que Deus espera da Igreja no terceiro milênio”, Strickland deu uma nota diferente durante uma entrevista de rádio em 2020: "Toda esta sinodalidade é lixo, no que me diz respeito à verdade".

Na carta, Strickland enumera sete “verdades básicas” que abrangem os ensinamentos católicos oficiais sobre a moralidade sexual, os sacramentos, o sofrimento redentor e a afirmação teológica de que apenas a Igreja Católica proporciona o caminho autêntico para a salvação.

“Devemos nos apegar a essas verdades e ser cautelosos com qualquer tentativa de apresentar uma alternativa ao Evangelho de Jesus Cristo, ou de pressionar por uma fé que fale de diálogo e fraternidade, enquanto tentamos remover a paternidade de Deus”, escreveu Strickland.

Sobre a possibilidade de os católicos conservadores serem rotulados de “cismáticos” por discordarem das mudanças propostas que poderiam surgir do Sínodo, Strickland acrescentou que “ninguém que permanece firmemente no fio de prumo da nossa fé católica é cismático”.

Strickland delineou as suas sete “verdades básicas” e as suas defesas delas de uma forma coerente com dois documentos papais do início do século XX que ele citou e publicou na [rede social] X, anteriormente conhecido como Twitter, um dia antes da divulgação da carta.

Nestes documentos (Syllabus, condenação dos erros dos modernistas e Juramento contra o modernismo), o Papa São Pio X reiterou as doutrinas católicas tradicionais e procurou defendê-las contra o que ele via como erros em algumas tendências filosóficas e históricas então emergentes, abordagens críticas aos estudos bíblicos.

Vários outros prelados conservadores levantaram preocupações sobre o Sínodo da Sinodalidade. Refletindo as críticas conservadoras de longa data durante o pontificado de Francisco, o Cardeal Raymond Burke afirma no prefácio de um recente livro que o papa está arriscando criar uma confusão e até mesmo um cisma com o processo sinodal atual.

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