22 Agosto 2023
A atualização da Laudato si' terá que lidar com muitos problemas novos destes últimos 8 anos, entre os quais o dramático agravamento da situação climática e os novos recursos tecnológicos como a inteligência artificial. E também uma pergunta para os especialistas: com que tipo de documento se pode atualizar uma encíclica sem ter que escrever outra?
A reportagem é publicada por Il sismógrafo, 21-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O próprio Papa Francisco, como costuma acontecer, fez ele mesmo o anúncio de surpresa: estou escrevendo uma segunda parte da encíclica Laudato si'. Hoje, concluindo seu discurso a uma delegação de advogados dos países membros do Conselho da Europa signatários do Apelo de Viena, o Pontífice disse: "Por fim, sou sensível ao cuidado que vocês dedicam à nossa casa comum e ao seu empenho em participar na elaboração de um quadro normativo a favor da proteção do ambiente. Nunca devemos esquecer que as gerações mais jovens têm o direito de receber de nós um mundo belo e habitável, e que isso nos investe de sérios deveres para com a criação que recebemos das mãos generosas de Deus. Obrigado por essa contribuição. Estou escrevendo uma segunda parte da Laudato si' para atualizar os problemas atuais".
A "Laudato si'", a segunda Encíclica das três escritas por Francisco, talvez seja o documento mais conhecido e mais divulgado de seu magistério. O site do Vaticano oferece 19 traduções oficiais, mas existem pelo menos 12 versões em outros idiomas. Outra peculiaridade do texto deve ser acrescentada: cada um de seus 6 capítulos, acompanhados de um total de mais de 170 notas, deu origem a uma linha de reflexões sobre o desenvolvimento sustentável, a partir da raiz humana da crise ecológica à ecologia integral passando pela educação e a espiritualidade ecológica.
Por ora, o anúncio do Santo Padre leva imediatamente a pensar em duas questões importantes. A primeira, evidentemente, diz respeito ao conteúdo específico e à sua relevância a ponto de motivar um seguimento ou continuação da Encíclica. Tal coisa nunca havia acontecido antes, ou seja, que o Papa decida anunciar publicamente que deseja retomar para atualizar uma de suas Cartas pastorais aos bispos de todo o mundo e ao fiel santo povo de Deus. Neste caso, disse hoje Francisco, deseja reexaminar o grande desafio ecológico da humanidade - analisado por ele há oito anos - para compará-lo com os problemas de hoje. Os frutos dessas reflexões do Papa serão muito interessantes e pedagógicos, e de grande utilidade para a política como se viu com a Laudato si' em maio de 2015. Basta pensar no que Bergoglio escreverá sobre a relação guerra-rearmamento e impacto ecológico e, portanto, sobre os dividendos da paz entendidos também como repacificação com a natureza e a criação em geral. Outro tema que poderia aparecer na questão ecológica em geral é o da inteligência artificial como recurso incomparável.
Francisco já aprofundou, e muito, na - digamos por enquanto - Laudato si' no1 a relação entre tecnologia e ética para concluir que "a ecologia integral é inseparável da noção de bem comum, um princípio que desempenha um papel central e unificador na ética social" (n.156). Então, o Pontífice provavelmente sente a necessidade de atualizar as reflexões de oito anos atrás para os problemas atuais, em grande parte desafios éticos que derivam da velocidade e radicalidade dos progressos científicos e técnicos, mas também do agravamento da situação climática - abismo que já se tornou dramático, que chegou já ao ponto sem volta em numerosas situações - que nos últimos três anos vem apresentando a conta a toda a humanidade, sem descontos e sem derrogações e protelações. Agora, e o Papa já o disse em diversas ocasiões, diante dos desafios climáticos não basta fazer. Não basta fazer o certo. A intervenção humana para corrigir e reverter a emergência tornou-se urgente e peremptória. Agora, é preciso fazer o certo e imediatamente. Amanhã será tarde, aliás, tarde demais.
Por fim, a segunda questão levantada pelo anúncio que o Papa fez hoje é a forma que será usada para expor a questão e que foi apresentada como "a segunda parte da Laudato si'". Tratando-se de uma encíclica, uma sua eventual atualização, imaginamos como simples leitores, deveria ser igual à categoria de Carta do pontífice aos bispos, na prática outra Encíclica, a quarta do pontificado. Se não fosse assim, fica a pergunta para os especialistas: com que tipo de documento um Pontífice pode atualizar uma de suas encíclicas sem ter que escrever outra?
Se for uma Carta, como disse hoje o Diretor da Sala de Imprensa sem especificar de que tipo seria, poderia ser um documento endereçado à Irmã Helen Alford, Presidente da Pontifícia Academia das Ciências Sociais. (1)
1.- É o caso de lembrar a Octogesima Adveniens, de Paulo VI, em 1971. Este importante documento é uma Carta endereçada ao Presidente da Comissão Justiça e Paz do Vaticano.
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Laudato si', segunda parte. O anúncio do Pontífice que lembra: “As gerações mais jovens têm o direito de receber de nós um mundo belo e habitável” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU