03 Abril 2023
“Francisco é forte, corajoso, tem muita força de vontade. E muita esperança. Eu não acredito que vai renunciar. Ele só poderia renunciar ao pontificado se fosse realmente impossível para ele continuar o ministério petrino. Mas estou convencido de que ele continuará conduzindo a Igreja com tenacidade, buscando sempre torná-la mais missionária, mais aberta e mais pronta para escutar as pessoas, para dialogar com o mundo e com a contemporaneidade”.
Palavra de Jean-Claude Hollerich, arcebispo de Luxemburgo, um dos cardeais mais próximos do Papa. Bergoglio o nomeou relator geral do Sínodo dos bispos, e também por isso é considerado uma das figuras-chave desta fase do pontificado. E algumas semanas atrás, o Papa o cooptou para o Conselho dos Cardeais.
A entrevista com Jean-Claude Hollerich é editada por Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 01-04-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eminência, a hospitalização do Papa alimentou ainda mais os rumores sobre sua possível renúncia: o que pensa a esse respeito?
Não creio que ele possa deixar o trono papal. Ele só poderia se afastar do papado se lhe for realmente impossível continuar o ministério petrino. Mas o Santo Padre é forte, corajoso, tenaz, tem grande força de vontade. E muita esperança.
Como resumiria o pontificado de Francisco?
Acho que o Papa está realizando uma grande obra: implementar o Concílio Vaticano II. Ele está fazendo um bem imenso à Igreja, preparando-lhe um futuro jubiloso.
E para a humanidade além da esfera católica?
Pensemos na encíclica ‘Fratelli tutti’: ela prega a fraternidade entre todos os homens e as mulheres, sejam eles crentes, de outras religiões e não crentes. É uma mensagem extraordinária e particularmente valiosa nesta época de guerras. Indica os caminhos a seguir para encontrar uma maneira de viver juntos em paz e harmonia em nossa Terra, a nossa casa comum. Ele pede um verdadeiro amor ao próximo, para cada próximo. Isso é muito lindo, porque é o contrário da Igreja que condena. Na carta do Pontífice se encontra a Igreja que ama cada pessoa, e esta é a imagem de Deus que ama a todos. É um gigantesco passo à frente.
Quais são os objetivos do Sínodo sobre a Sinodalidade programado para outubro de 2023 e 2024?
Com o Sínodo, o Papa pretende tornar a Igreja mais pronta para o diálogo com o mundo e com a contemporaneidade, ouvindo a todos para entender a que as pessoas aspiram. O objetivo também é fazer com que a Igreja não seja uma ‘ditadura clerical’, mas a Igreja de todos. Em que papas, cardeais, bispos e padres fazem parte do povo de Deus exatamente como os leigos, chamados a participar da missão de serviço espiritual e concreto ao mundo. Não podemos ser padres e bispos sem as pessoas, nós somos para as pessoas.
O Sínodo poderá ser um terreno para ataques de opositores ao pontificado?
Estou confiante de que irá correr tudo bem, mesmo sabendo que haverá dificuldades. As ofensivas contra o Sínodo poderão acontecer, mas acredito que serão em menor quantidade e dureza do que podemos imaginar. Estou otimista e tenho esperança, porque sinto que os fiéis esperam tanto a sinodalidade para uma Igreja viva, aberta, solidária e missionária a serviço do mundo.
Por falar em “Igreja Aberta”: ela realmente acolhe as pessoas homossexuais? Na galáxia católica cresce o pedido para abençoar os casais homossexuais: qual é a sua opinião?
Infelizmente, a Igreja nem sempre acolhe bem as pessoas homossexuais: ainda com muita frequência as marginaliza. E isso me incomoda. É contra o ensinamento de Jesus, porque no Reino de Deus há lugar para todos; Jesus não ia entre as pessoas para dizer ‘você tem que mudar’, mas para manifestar o seu bom para todos e cada um. Abençoar um casal homossexual? Abençoar significa ‘falar bem’ de alguém, e Deus não fala coisas ruins. E, além disso, abençoar um casal homossexual não significa matrimônio sacramental.
E por que ‘amaldiçoar’ um casal homossexual que vive um amor verdadeiro? Eu acho que a Igreja poderá mudar essa atitude somente após um longo processo. Mas precisamos nos empenhar para acelerar: nós temos que abrir as portas para todos. Não quero me expressar sobre a doutrina da Igreja, mas espero uma atitude pastoral difundida, graças à qual todos se sintam bem-vindos.
O celibato parece estar se tornando um obstáculo para o mundo sacerdotal. Não pensa que é hora de remover esta praxe, que não é um dogma?
Eu vivo o meu celibato com grande alegria. Mas conheço muitos sacerdotes que sofrem por essa razão. Conheço jovens que gostariam de se tornar padres, mas têm namorada. Além disso, não podemos ignorar que em várias partes do mundo há cada vez menos vocações sacerdotais. Eu me pergunto: não seria melhor ordenar homens casados também como sacerdotes? Na minha arquidiocese há diáconos permanentes casados que desempenham um trabalho extraordinário e muito apreciado, suas homilias brotam do seu coração e da realidade da sua vida familiar. Acho que as pessoas ficam felizes em ouvir sermões assim. Mas esta é uma decisão que o Papa deve tomar junto com toda a Igreja.
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“Francisco é forte, não vai renunciar. É hora de dizer sim aos padres casados”. Entrevista com Jean-Claude Hollerich - Instituto Humanitas Unisinos - IHU