16 Março 2023
A maioria das autoridades da Igreja em Roma acredita que as recentes acusações de que o falecido papa polonês encobriu abusos sexuais clericais quando era arcebispo de Cracóvia são manipuladoras ou anacrônicas.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada em La Croix International, 15-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Há um velho ditado na Roma eclesiástica: Non toccare il Santo!, ou seja, não encoste no santo. E, nestes dias, algumas autoridades da Igreja na Cidade Eterna repetiram essa afirmação depois que algumas revelações vieram à tona na Polônia, segundo as quais São João Paulo II protegeu padres pedófilos quando, como cardeal Karol Wojtyla, era o arcebispo de Cracóvia.
De todos os modos, as revelações – que foram feitas em um livro e em um documentário de TV por dois jornalistas investigativos diferentes – provocaram reações em Roma que vão da perplexidade à indiferença.
O Papa Francisco proclamou João Paulo II santo oficialmente em 2014, e há quem aponte que isso por si só significa que não deve haver mais debate sobre a responsabilidade de Wojtyla na questão dos abusos sexuais. Além disso, o Vaticano não reagiu oficialmente ao relato de que ele transferiu um padre pedófilo para o exterior sem avisar sua diocese anfitriã.
Em entrevista publicada em 11 de março pelo jornal argentino La Nación, o Papa Francisco disse que é necessário “pôr as coisas em seu devido período de tempo” ao lidar com casos de abuso que datam de muitos anos ou décadas.
“O anacronismo sempre dói. Naquela época, tudo era escondido”, enfatizou. “Não conheço o caso”, insistiu ele, afirmando que essa prática de transferir um padre acusado era “típica” no passado, para “abafar o caso” ou “demitir” o padre acusado.
O arcebispo Stanislaw Gadecki, presidente da Conferência dos Bispos da Polônia, disse que as acusações contra João Paulo II não surgiram durante seu encontro com Francisco em 10 de março.
“Essa história é um ataque organizado. Vem da Rússia ou da Europa ocidental, onde a Polônia católica é considerada uma anomalia”, disse o cardeal a jornalistas em Roma.
Autoridades vaticanas foram rápidas para apontar que complôs contra a Igreja eram comuns durante os anos da era comunista, e que os últimos documentos incriminando João Paulo II poderiam muito bem fazer parte desse processo. Tais autoridades e outras pessoas em Roma também insistem que não é apropriado julgar as situações de ontem com os critérios de hoje.
“Não devemos esquecer que, durante anos, a Polônia foi um país comunista, onde a criação de documentos falsos pela polícia secreta foi amplamente utilizada para atacar a Igreja, particularmente os padres resistentes”, disse uma fonte diplomática polonesa.
Membros da comunidade polonesa em Roma – incluindo o embaixador junto à Santa Sé – se reúnem todas as quintas-feiras na Basílica de São Pedro para uma missa às 7h10, no túmulo de João Paulo II. Na missa de 9 de março, poucos dias depois que o documentário de TV acusando o falecido papa foi ao ar, o cardeal polonês Konrad Krajewski abordou o assunto.
“Não estamos preocupados com isso”, disse o prefeito de 59 anos do Dicastério para o Serviço da Caridade. “A verdade defenderá a si mesma, e todas as mentiras serão trazidas à luz”, previu.
O cardeal Stanislaw Dziwicz, ex-secretário particular de João Paulo II, celebrará uma missa no túmulo do falecido papa em 19 de março. O cardeal de 83 anos, que também foi arcebispo de Cracóvia de 2005 a 2016, comemorará o 25º aniversário do dia em que João Paulo II o ordenou bispo, em 1998. Dom Stanislaw também vai querer lembrar que, em Roma, o papa polonês continua sendo indiscutivelmente um santo.
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Vaticano sai em defesa de João Paulo II - Instituto Humanitas Unisinos - IHU