24 Janeiro 2023
A irmã Monika Amlinger sente-se chamada a ser padre. Especialista em referência pastoral, vive como eremita em um apartamento em Osnabrück. Aqui ela montou uma sala onde passa muito tempo em oração e silêncio todos os dias. Em entrevista ao portal catholisch.de fala sobre sua vocação e o que a dificulta.
Aos 25 anos, Monika Amlinger tornou-se freira beneditina. Já então sentia o desejo de ser padre. A princípio, ela o reprimiu. Hoje, aos 41 anos, com doutorado em teologia, tem a certeza de que Deus quer o seu chamado. Nesta entrevista ela fala sobre sua vontade de ser ordenada e porque é difícil para ela se sentir chamada.
A entrevista é de Madeleine Spendier, publicada por Catholisch.de e reproduzida por Settimana News, 23-01-2023. A tradução do italiano é de Luisa Rabolini.
Irmã Monika, a que exatamente você se sente chamada?
Tenho um grande desejo de ser padre na Igreja Católica. Trabalhei em comunidades por vários anos e atualmente sou capelão hospitalar. O meu trabalho dá-me satisfação, gosto de estar à disposição dos outros. Mas desejo algo mais. Também gostaria de poder celebrar a Eucaristia.
Esse seria o desejo do meu coração. Para mim, o céu sempre se abre um pouco mais na celebração da Eucaristia. Comove-me profundamente a invocação para que o Espírito Santo desça sobre os dons e os transforme para que Jesus esteja presente entre nós. Gostaria de recitar a Oração Eucarística, especialmente as palavras da instituição. Gosto de ser pastor de almas, mas também quero poder transmitir a proximidade de Deus às pessoas através dos sacramentos. No hospital, é claro, também seria importante para mim poder administrar a unção dos enfermos.
Há quanto tempo você sente esse chamado?
Durante meus estudos teológicos em Munique, entrei para um mosteiro e me tornei freira beneditina. Eu tinha 25 anos na época. No mosteiro era sacristã. Durante as missas, eu desempenhava as funções de coroinha.
Por exemplo, levava as hóstias ao altar durante a missa. Foi então que o meu amor pela Eucaristia cresceu. Durante aquele período senti o chamado de Deus para ser padre. Mas inicialmente o rejeitei e reprimi.
Houve um momento particular em que você sentiu o chamado para ser padre?
Durante minha estada no mosteiro, fiz uma peregrinação a pé. Eu conversei com uma mulher por um longo tempo. Ela era teóloga e me contou que também se sentia chamada a ser padre há muito tempo. Nunca tinha ouvido isso de uma mulher antes. Foi então que eu disse espontaneamente, pela primeira vez, que eu também me sentia chamada a ser sacerdote.
Eu mesmo fiquei surpresa com minhas palavras. Foi como um lampejo do espírito, uma iluminação interior. Depois disso, orei muito e também lutei com Deus. Perguntei: “Senhor, o que isso significa? Por que você coloca tal chamado em meu coração, um desejo tão profundo, quando as mulheres em sua igreja não podem ser padres? O que devo fazer?".
Você teve uma resposta?
No começo, por muito tempo, eu não sabia o que fazer. Nas pessoas com quem falava sobre isso, encontrei apenas uma sensação de impotência e silêncio. Agora estou em contato com outras mulheres que se sentem chamadas e sinto que o Senhor tem algo em mente para mim e para nós. Além disso, a oração me dá muita força e alegria.
Montei um pequeno espaço de oração em meu apartamento. Aqui passo muito tempo em silêncio. Eu sinto que Deus me conduz. As conversas com meu guia espiritual, um jesuíta, também me ajudam a discernir os próximos passos a serem dados.
Como verifica se um chamado espiritual é genuíno?
Em última análise, será difícil provar com certeza se um – homem ou mulher – é chamado. Mas existem formas comprovadas de verificação: por si mesmo pessoalmente na oração e no acompanhamento espiritual, mas também na percepção externa das pessoas com quem se vive e para quem você está presente.
A pessoa sente a vocação claramente dentro de si. Muitas vezes me disseram que sou uma boa pastora. Alguns até me chamam de "senhora pároco" ou dizem que eu seria um bom padre. Acho que, se a resposta de fora corresponder ao que você sente por dentro, há uma boa chance de que um chamado seja autêntico e querido por Deus. Em última análise, são os ministros da Igreja, especialmente os bispos, que reconhecem uma vocação baseada nas experiências mencionadas. Este não foi o caso de nós mulheres até agora. Às vezes acho muito difícil ser chamada.
Por quê?
É um grande sofrimento para mim saber que não me é permitido viver a minha vocação de padre no sentido mais pleno. Fui excluída desse ofício pelos homens que têm responsabilidades na Igreja.
Você escreveu a história de sua vocação no livro da Irmã Philippa “Porque Deus assim quer”.
150 mulheres e também pessoas não binárias (a pessoa que não se identifica completamente com o gênero masculino ou feminino é considerada não binária, ndr) da Alemanha, Suíça e Áustria descrevem sua vocação nesse livro. Gostariam de ser diáconas ou padres e muitas gostariam de receber a ordenação. Elas sofrem muito pela situação da Igreja Católica hoje em termos de estrutura e problemas humanos.
Nós, que escrevemos o texto, nos encontramos com frequência on-line e uma vez pessoalmente; agora estamos bem conectadas na rede. Tem sido libertador sentir que outras mulheres também estão sentindo esse chamado de Deus. Durante anos, muitas tiveram vergonha até de pensar nisso ou de expressar esse desejo. Elas pensavam que fosse a sua imaginação e que eram as únicas a pensar nisso. Não existem modelos femininos para nós mulheres que possam nos fortalecer ou encorajar em nosso caminho.
Algumas de nós que falaram foram ridicularizadas, dificultadas em seu caminho ou obrigadas a permanecer em silêncio. Nós mulheres chamadas, conectadas em rede, não queremos mais ficar caladas. Queremos conversar com outras mulheres, com homens, com pessoas não binárias, com diáconos, sacerdotes, bispos – e talvez um dia até com o papa – sobre a nossa vocação e as nossas experiências. O diálogo será simples.
O Papa Francisco recentemente reiterou seu não à ordenação sacerdotal das mulheres…
Pessoalmente, acho que há uma volta para trás e isso me entristece. Há mulheres com vocação em todo o mundo e não apenas na Alemanha, Suíça ou Áustria. No Sínodo da Amazônia, alguns bispos disseram: “Por que nós, homens, ainda recusamos a ordenação sacramental a essas mulheres que já fazem tanto por nossas comunidades cristãs, assumindo sua liderança, e que batizam, celebram funerais e assistem aos matrimônios?”. Tratava-se da ordenação diaconal feminina e aquele teria sido o primeiro passo importante.
Declarações como essas me dão esperança. Alegra-me também que alguns bispos alemães estejam seriamente interessados em nós mulheres que nos sentimos chamadas. No Caminho Sinodal, foi adotado o texto base intitulado “Mulheres nos serviços e ofícios na Igreja”. Fala-se que no passado houve mulheres, como Teresa de Lisieux, que sentiram o chamado para ser padres. E que é necessário que as vocações femininas sejam examinadas da mesma forma que as masculinas.
É um grande passo para a Igreja alemã e para nós mulheres “chamadas” que isso seja incluído no texto. Agora podemos dizer que nós, mulheres, temos muitos bispos que nos apoiam. Igualmente importante é que, no processo sinodal global, está se tornando claro que o tema da ordenação das mulheres é viral em muitos países, não apenas aqui.
O que você deseja para sua vocação?
Gostaria de ser ordenada para poder servir as pessoas também através dos sacramentos e transmitir a elas a proximidade de Deus, mas não sei se algum dia poderei ver meu sonho realizado. Naturalmente, o sacerdócio como é entendido atualmente também deveria mudar para as mulheres que não são celibatárias como eu, mas têm família e filhos ou são queer (não heterossexuais).
Também nos interessa fortalecer a dimensão diaconal do sacerdócio. Isso significa que pretendemos acompanhar as pessoas não apenas com uma ação sacramental de curto prazo. Em hipótese alguma queremos perpetuar o clericalismo. Queremos poder celebrar os sacramentos para que também nós mulheres nos sintamos chamadas a ser sacerdotes. Sentimos que Deus o quer!
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Mulheres padre: "Deus o quer" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU