10 Janeiro 2023
"O aperto do Papa Francisco sobre a missa em latim foi uma imprudência. Sugiro ao Pontífice que seja mais atento a todas as sensibilidades da Igreja, mesmo as mais distantes das suas”. E adverte contra um possível cisma à esquerda na Alemanha, pontuando um forte "não" à bênção dos casais homossexuais: "É contra a palavra de Deus".
O cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, 75 anos, foi aluno de Bento XVI e seu sucessor na direção da Congregação para a Doutrina da Fé. Bergoglio nomeou-o cardeal em 2014, mas em 2017 não renovou seu mandato como prefeito. O cardeal reflete sobre o futuro da Igreja depois de celebrar a Missa da Epifania. Ele afirma que "não somos uma organização política ou meramente humana, mas uma criação de Jesus Cristo" com a tarefa de "atuar pela salvação eterna da humanidade". Ele cita Francisco, que "denuncia com frequência a mundanidade da Igreja", tema que o une ao seu predecessor: Joseph Ratzinger "advertia contra a autossecularização".
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 07-01-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
No recinto católico está se abrindo um cenário de novos embates entre as várias facções, em particular entre os círculos mais conservadores e a galáxia mais progressista, com ofensivas por parte dos opositores ao pontificado. Müller confirma amargamente que “infelizmente existem essas tensões”. Ele convida "a não confundir a fé com esses jogos de poder, consequência da autoestima ou da busca da glória". O Prefeito Emérito do ex-Santo Ofício confidencia que “as contraposições devem acabar. Caso contrário, causamos danos às pessoas".
Sobre o desabafo de monsenhor Georg Gänswein contra o Papa, ele se limita a dizer que leu “nos jornais. Deveríamos conhecer o contexto completo para fazer uma avaliação. Infelizmente, é uma daquelas controvérsias que não são boas para o povo de Deus”. No entanto, ele tem mais medo de outros aspectos. Um deles é a "confusão doutrinária". Temos que retomar o caminho dos grandes concílios ecumênicos. O Papa, todo Papa, deve estar a serviço da unidade da Igreja e da fé revelada”. A primeira missão do Pontífice é "anunciar o Evangelho". E a doutrina da Igreja “não é o programa de um partido político, os políticos muitas vezes mudam de ideia de acordo com o gosto dos eleitores. A Doutrina da Igreja é a expressão da Palavra de Deus, e nós, homens, não podemos completar, corrigir ou modernizar a Palavra de Deus”. Só pode ser explicada "de modo mais claro nos desafios do mundo contemporâneo". Mas não há "possibilidade de mudar a revelação em Jesus Cristo".
O Cardeal Teólogo critica o Bispo de Roma pelo aperto contra a missa em latim introduzida com o Motu Proprio "Traditionis custodes": considera que "o Papa cometeu uma imprudência, porque não levou em conta algumas sensibilidades dentro da Igreja, aquelas dos fiéis aficionados à liturgia antiga". E além disso, “temos mais de 20 ritos da mesma missa: eu teria sido mais tolerante, para não causar problemas que, a meu ver, são supérfluos neste momento, dado que não se trata de temas dogmáticos, e que já temos muitas problemáticas e mais importante. Não foi prudente insistir com intransigência em disciplinar os chamados tradicionalistas”.
Segundo Müller, “teria bastado manter o Motu Proprio de 2007 do Papa Bento XVI, que era mais prudente porque continha todo o panorama eclesial”. E depois dá um conselho a Bergoglio: “Estar mais atento a todas as sensibilidades, mesmo às mais distantes das suas, para tentar manter todos unidos. Escutar a todos, inclusive aqueles que não pensam como ele. Também porque às vezes alguns daqueles que são definidos como inimigos do Papa na realidade não o são”.
Ele é considerado um adversário do Pontífice, sabe-o e quer desmenti-lo: “Não é assim. Não sou inimigo do Papa, fazer sugestões não significa ser hostil. Nas próximas semanas, com a editora Cantagalli, publicarei um livro sobre "o Papa e sua missão", com a teologia do papado.
Para mim, o Papa é o Papa, a autoridade máxima. Ninguém pode dizer que sou inimigo do Papa". Outro espectro paira sobre o futuro dos Palácios Sagrados: os cismas. “Onde há risco de cisão é na Alemanha, com o sínodo dos chamados progressistas. Eles negam a doutrina revelada. Não se trata apenas de pastoral ou reformas litúrgicas, mas da substância da fé”. Francisco já interveio várias vezes para tentar conter esse movimento. Na assembleia alemã há quem queira se abrir para a bênção dos casais homossexuais, mas para Müller isso "não é possível, porque é contra a palavra de Deus. O Senhor só abençoou o casamento entre um homem e uma mulher, esta é a realidade revelada da natureza humana, e não se pode fazer o que se quer".
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Gerhard Ludwig Müller: “Papa deve lembrar os conservadores. Abençoar os homossexuais? É contra Deus” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU