11 Outubro 2022
O diaconato feminino foi uma das reflexões presentes no Sínodo para a Amazônia, que realizou sua Assembleia Sinodal em outubro de 2019. Nos últimos três anos, uma comissão criada pelo Papa Francisco vem examinando estas questões em profundidade, questionando em que consiste o diaconato das mulheres, segundo a Ir. Círia Catarina Mees, algo presente nas primeiras comunidades cristãs, e quem o exerce hoje.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
De uma perspectiva teológica, Serena Noceti refletiu sobre o processo do Sínodo para a Amazônia, onde o tema do diaconato feminino foi "objeto de um debate sereno e apaixonado", sendo considerado um "tema particularmente urgente para uma Igreja com rosto amazônico". Neste sentido, a teóloga italiana destaca que, em seu discurso final na Assembleia Sinodal, o Papa Francisco "propôs a retomada dos trabalhos da Comissão de Estudo sobre o diaconato das mulheres com a inserção de novos membros e a experiência da Igreja Pan-Amazônica".
Segundo Noceti, isto já estava presente na preparação do Concílio Vaticano II, onde dois bispos apelaram para "o restabelecimento do ministério das diaconisas, que existiu nos primeiros séculos". Uma dessas chamadas veio do Vicariato de San Ramon, na Amazônia peruana, onde seu bispo de então, Leon de Uriarte Bengoa, via o serviço das diaconisas como "necessário para a proclamação da Palavra de Deus e para levar a comunhão a comunidades distantes do centro paroquial".
Hoje, o pedido deriva de "uma liderança feminina reconhecida e exercida por centenas de mulheres em toda a Amazônia, e apoiada por centenas de estudos", diz a teóloga italiana. Neste sentido, ela analisa os passos dados nas últimas décadas e o chamado que, mais uma vez vindo da Amazônia, "urge a teologia a pensar na novidade". A partir de algumas perguntas, ela reflete sobre os passos que serão dados a partir da reflexão teológica e da "experiência de muitas mulheres da Amazônia que já vivem um serviço pastoral em uma perspectiva diaconal".
De uma perspectiva prática, da Diocese do Xingu, na Amazônia brasileira, Dorismeire Almeida de Vasconcellos relata sua experiência com indígenas, ribeirinhos, quilombolas, comunidades tradicionais, camponeses, mulheres e jovens, que ela define como "sem vez e sem voz". Povos com os quais a leiga consagrada da Ordem Franciscana Secular diz compartilhar "alegrias, tristezas, angústias e esperanças" de diferentes maneiras.
Isto em "um território onde 90% das 607 comunidades eclesiais de base são coordenadas e acompanhadas por mulheres. É nós mulheres que estamos lá, depois da labuta diária do trabalho, rezando o terço, fazendo círculos bíblicos, novenas, culto da Palavra, preparando os comunitários na prática a viver os compromissos batismais, a partilha da Eucaristia, o compromisso com a missão, no serviço, no anúncio, no diálogo e no testemunho fé e vida, visitando enfermos e famílias em vulnerabilidade, resolvendo os problemas socioambientais e de sustentabilidade das comunidades, para garantir vida plena a todos e todas em seus territórios".
A auditora sinodal lembrou que em sua diocese, com um território de mais de 361.000 quilômetros quadrados e 247.000 católicos, há 21 sacerdotes, 37 religiosas e 5 religiosos. Daí a importância do trabalho das mulheres, afirmando, seguindo as palavras do Papa Francisco na Exortação Querida Amazônia, que sem as mulheres "a Igreja do Xingu já teria desmoronado".
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Diaconato feminino: “Um assunto urgente para uma Igreja com rosto amazônico” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU