26 Setembro 2022
A terra queima e está em ruínas, não basta fazer uma maquiagem, retocar aqui e ali, é preciso mudar imediatamente o modelo de desenvolvimento, arrumar o sistema que mata, sem esperar a próxima cúpula internacional. As prioridades para a humanidade são a ecologia, uma economia de paz e o trabalho digno, para todos e bem remunerado, caso contrário a pessoa não se torna verdadeiramente adulta e aumentam as desigualdades. É também por isso que o Papa ontem em Assis, aonde voou de helicóptero para participar do evento Economia de Francisco, pediu aos jovens que "façam barulho", dizendo que conta "com vocês". O Pontífice na cidade de Francisco, o "Santo Poverello", encontra mil jovens empresários de cem países.
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada em La Stampa, 25-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O discurso de Jorge Mario Bergoglio é uma miniencíclica sobre economia, trabalho, transição ecológica, direitos, em continuidade com as duas cartas papais Laudato si' e Fratelli tutti. E em sintonia com os temas e as denúncias dos movimentos dos jovens contra as mudanças climáticas – a começar pelas Fridays for Future de Greta Thunberg – que o Papa repetidamente afirmou apreciar.
O Bispo de Roma lança um grito de alarme desesperado: não há mais tempo disponível, a terra queima e as ideias não são suficientes, as escolhas concretas são urgentemente necessárias. E é preciso contar com as novas gerações porque “não soubemos cuidar do planeta e não estamos cuidando da paz”.
Em vez disso "vocês", diz ele dirigindo-se ao público do Teatro Lyrick, "são chamados a se tornarem artesãos e construtores da casa comum, que está caindo em ruínas". Trata-se de transformar “uma economia que mata em uma economia da vida, de paz”, como está escrito no primeiro ponto do “Pacto” que o Papa Francisco assina com os jovens economistas.
O pontífice pede para colocar o trabalho de volta no centro. E renova a advertência contra uma certa “escravidão das mulheres: ela não pode ser mãe porque, assim que a barriga começa a aparecer, é demitida; as mulheres grávidas nem sempre têm permissão para trabalhar”.
Para conter os desastres climáticos, o Papa Bergoglio não confia nas cúpulas dos poderosos do mundo, “podem não servir”, mas sim na mudança radical dos estilos de vida, que também pode significar sacrifícios, custar em termos de luxos ou confortos. É um caminho inevitável segundo o Papa: “Crescemos às custas da terra. Muitas vezes a saqueamos para aumentar o nosso bem-estar, e nem mesmo o bem-estar de todos, mas de um pequeno grupo. Este é o momento de uma nova coragem para abandonar as fontes de energia fóssil, para acelerar o desenvolvimento de fontes de impacto zero ou positivo”. É crucial "aceitar o princípio ético universal – que, contudo, não agrada – de que os danos devem ser reparados". Não seria justo que "nossos filhos, nossos netos pagassem a conta". No entanto, as emergências ambientais não devem ser o álibi para não se empenhar contra as "injustiças sociais e políticas".
O Papa também se debruça sobre um nó existencial das sociedades em que parece que se tem tudo, mas no final sofre-se de tristeza. Ele explica: “o consumismo atual tenta preencher o vazio das relações humanas com mercadorias cada vez mais sofisticadas – as solidões são um grande negócio! – mas, assim, gera uma carestia de felicidade”. Para o Pontífice, o primeiro “capital de toda sociedade é aquele espiritual, porque nos dá as razões para nos levantarmos todos os dias e ir trabalhar, e gera aquela alegria de viver que também é necessária para a economia”.
Um fenômeno, a "falta de sentido", que atinge também os jovens: "Vejam a porcentagem de suicídios de jovens, como aumentou: e não se publicam todos, escondem-se os números".
Em Assis, portanto, o papa entrega uma tarefa precisa e potencialmente decisiva: "coisas grandes podem ser realizadas, até ter esperança" de renovar "um sistema enorme e complexo como a economia mundial" e melhorar a existência dos povos.
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