11 Agosto 2022
“Os cristãos devem viver na esperança de si mesmos, uns dos outros e do poder salvífico de Deus. Não é opcional. Podemos levar parte dessa energia para nossas vidas políticas, mesmo diante de uma crise climática?”, escreve Stephen McNulty, estudante de Ciência Política e Estudos Religiosos na Yale University, em artigo publicado por America, 10-08-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Nesta semana, Joe Biden é esperado para assinar a lei de maior compromisso dos EUA para lutar contra a mudança climática. Como resultado, estima-se que, a partir de 2030, as emissões de carbono do país caiam mais de 40% em relação aos níveis de 2005 – colocando o país próximo de alcançar as metas do Acordo Climático de Paris.
Francamente, isso é atordoante. Muitos de nós, especialmente jovens, tem sido condicionados a crer que alguma coisa como essa nunca aconteceria. Nós acreditávamos que qualquer lei sobre o clima morreria aos pés de Joe Manchin, que nossos legisladores septuagenários eram desesperançosos que simplesmente não se importam o suficiente, e que a vida como nós conhecemos começaria a acabar ainda no nosso tempo. Eu conheço muitos colegas que simplesmente desistiram de ter esperança por um momento como esse.
Eu não penso que os americanos idosos entendam completamente quão prevalente e quão devastadores são esses sentimentos. Muitos na minha geração cresceram com uma espécie de medo paralisante da catástrofe climática que até psicólogos cunharam um termo para isso – “eco-ansiedade”.
Um grupo de pesquisadores, incluindo o professor Britt Way, de Stanford, tentou quantificar a “eco-ansiedade” entre os jovens em 2021 por uma pesquisa de 10 mil deles através de 10 países. Os resultados? 75% disse que o futuro era “assustador”. 56% disseram que eles tinham o sentimento de que a “humanidade está condenada”. Mais impressionante, 40% eram “hesitantes” em ter filhos devido as mudanças climáticas.
Esse nível de angústia e niilismo não é normal, atingiu toda uma geração que assistiu a revezes em sequência sobre a legislação do clima. Está fora de sincronia com a realidade, no entanto. A crise climática é um problema solucionável, e a comunidade internacional já abordou com sucesso as questões ambientais antes. Lembra daquela vez em que a camada de ozônio estava encolhendo? A maioria dos jovens não – e isso porque em 1987, aprovamos o Protocolo de Montreal e banimos os clorofluorcarbonos (CFCs) responsáveis pela destruição da camada de ozônio. Agora, nosso ozônio está se recuperando e será curado até 2060.
Essa não é a única história de sucesso. No final do século XX, cientistas e ativistas ambientais tocaram em voz alta o alarme sobre a chuva ácida. Em resposta, após uma longa luta legislativa que durou várias décadas, o Congresso aprovou a Lei do Ar Limpo, que incluía medidas específicas para combater a crise. Desde então, as emissões de dióxido de enxofre caíram vertiginosamente, assim como os principais indicadores de chuva ácida nos Estados Unidos.
Olhar para trás, para a longa história de esforços climáticos bem-sucedidos, pode nos ensinar algo sobre o caminho que temos pela frente e, mais importante, como superar a negação climática. Acho, no entanto, que estamos presos a uma visão antiquada de como essa negação realmente se parece.
Como muitos apontaram, o negacionismo climático vem em etapas. O primeiro estágio é “a mudança climática não existe”. Depois, é “a mudança climática existe, mas os humanos não a causaram”. Nesse ponto, chegamos a “OK, os humanos causaram as mudanças climáticas, mas não será tão ruim assim”. Depois de atravessar esse obstáculo, você chega a “a mudança climática será ruim, mas não há nada que possamos fazer a respeito”. Então vem o estágio final do negacionismo: “Os humanos causaram as mudanças climáticas. Será terrível e poderíamos ter impedido, mas estamos sem tempo. Estamos condenados”.
Esse tipo de pensamento é perigoso. Não estamos sem tempo e a causa não está condenada. Se esta semana nos mostrou alguma coisa, é que uma ação climática significativa é possível, e todas as evidências disponíveis nos levam a acreditar que nossas ações terão um impacto substancial na crise climática. Há motivos para ter esperança.
Há algo profundamente cristão nessa percepção. As tradições judaica e cristã, afinal, têm uma longa história de otimismo político e espiritual que remonta à escravidão de Israel no Egito e atravessa o cativeiro babilônico e o desafio empático do Livro do Apocalipse ao Império Romano (“Caiu a grande Babilônia!”). A história do povo judeu e dos fiéis cristãos é uma história de esperança desafiadora contra todas as probabilidades.
Essa esperança também é importante em um nível pessoal. Lembro-me de Judas. O apóstolo é famoso por sua traição a Jesus, mas sempre fiquei mais impressionado com o que acontece depois: ele percebe o quanto estava errado e perde a esperança. Judas passa a acreditar que seu próprio pecado foi maior do que a infinita bondade de Deus. Tomás de Aquino identificou esse “desespero” como uma forma de “blasfêmia contra o Espírito Santo”, o famoso “pecado imperdoável”.
Seria errado (até mesmo desesperador) presumir que alguém está fechado ao perdão divino. No entanto, Tomé comunica algo mais aqui – que ser cristão é viver na esperança, e desistir da esperança é desistir de tudo.
Por uma questão de fé, os cristãos devem viver na esperança de si mesmos, uns dos outros e do poder salvífico de Deus. Não é opcional.
Podemos levar parte dessa energia para nossas vidas políticas, mesmo diante de uma crise climática? Minha geração pode redescobrir a virtude da esperança – não apenas em Deus, mas uns nos outros?
Eu certamente espero que sim.
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Se nós queremos salvar o mundo da mudança climática, a esperança não é opcional - Instituto Humanitas Unisinos - IHU