Pedi a uma Inteligência Artificial uma arte sobre o catolicismo de 20 maneiras diferentes. Aqui está o que eu aprendi

15 Julho 2022

 

“Quando não coloquei nenhum filtro no aplicativo, o único resultado discernível na imagem foi o corpo flagelado e triste de Jesus crucificado, inclinando a cabeça como faz no crucifixo que paira sobre todas as Igrejas Católicas. Mas você não pode nem mesmo ver a Cruz, realmente. Não é o foco – nossa atenção repousa diretamente no corpo glorioso e tragicamente humano de nosso supremo sumo sacerdote, que se oferece como sacrifício pelo mundo”, escreve Stephen McNulty, estudante de Ciência Política e Estudos Religiosos na Yale University, em artigo publicado por America, 13-07-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

 

Eis o artigo.

 

A inteligência artificial está ficando assustadoramente boa, e as pessoas estão começando a perceber.

 

A internet está em polvorosa nos últimos meses com obras de arte e imagens surpreendentemente boas geradas por inteligência artificial (IA). A tecnologia percorreu um longo caminho, e uma safra recente de sites surgiu com o objetivo de criar imagens ou desenhos gerados por IA a partir de qualquer entrada enviada pelo usuário.

 

Eles se tornaram sucessos instantâneos na internet, e por que não se tornariam? Eu posso digitar “pato sentado em uma cadeira de escritório comendo waffles”, por exemplo, e voltar com uma foto de, bem, um pato sentado em uma cadeira de escritório comendo waffles. Isso evoca uma certa admiração mesmo na minha geração de nativos digitais. Há uma novidade infinita em tudo isso – passei horas nesses sites pedindo ao sempre misterioso algoritmo que criasse diferentes criações, cada uma mais esotérica e estranha que a outra. Como uma criança de sete anos impressionada com os truques de um mágico, eu digo: “Faça de novo, faça de novo”, e a IA obedece.

 

Depois de um tempo, porém, eu queria mais. Claro, a IA pode gerar uma imagem de um “pato sentado em uma cadeira de escritório comendo waffles”. É bastante fácil reconhecer as partes constituintes e misturá-las de uma maneira que faça sentido. O que acontece, porém, se eu colocar um conceito abstrato? O que o algoritmo tem a dizer sobre o capitalismo? O que ela tem a oferecer para a justiça? E o amor?

 

E o catolicismo?

 

Então, passei uma noite muito divertida executando o termo “catolicismo” em todos os filtros do “Dream by Wombo”, um gerador de imagens de IA que tenta criar obras de arte em diferentes estilos com base no pedido do usuário. Um filtro cria arte no estilo Ukiyo-e da arte japonesa. Outro tenta replicar trabalhos em aquarela. No total, existem 22 estilos diferentes nos quais eu poderia traduzir a compreensão da IA sobre nossa fé.

 


Imagem sobre catolicismo gerada por inteligência artificial. Autor: Dream by Wondo. Fonte: America Magazine

 

A nível estético, os resultados foram impressionantes. Algumas das imagens eram incrivelmente bonitas, mesmo que eu não conseguisse entender exatamente o que estava acontecendo. Mas acho que muitos também são tematicamente reveladores.

 

A primeira coisa que se destacou foi a intensa variedade de focos que essas imagens tinham. Alguns filtros, como os Ghibli, Provenance e Aquarela, aprimoraram a complexidade da arquitetura católica. Essa classe de pinturas associava o catolicismo a alguns de seus ícones culturais mais reconhecidos e sua ênfase única na comunicação da fé através do belo. De fato, essa maneira de conceber a “estética” católica tem muito peso na cultura popular, tanto entre aqueles que cresceram na Igreja quanto entre uma crescente subcultura da internet interessada em uma certa beleza católica contracultural.

 


Imagem sobre catolicismo gerada por inteligência artificial. Autor: Dream by Wondo. Fonte: America Magazine

 

Outro tema recorrente é uma atenção especial à Mãe Santíssima. Embora muitas vezes difícil de distinguir em algumas imagens, Maria faz um bom número de aparições em todos os filtros. Há uma deslumbrante “Blacklight Mary” (filtro de luz negra) – que poderia estar nos lembrando de usar máscaras? –, a vaga impressão de uma Maria Vibrante, que espera por nós em todas as cores do arco-íris no Reino dos Céus, e até mesmo uma Maria Steampunk ligeiramente perturbadora, que estende seus braços biônicos para abraçar toda a humanidade.

 

Como a devoção à Mãe Santíssima é tão distintamente católica, faz sentido que ela fizesse algumas “aparições” no algoritmo. Mais uma vez, a IA foi atraída para um dos aspectos “mais estranhos” de nossa fé, um que muitos outros cristãos não entendem. Ele entusiasticamente canaliza a longa tradição da arte mariana ao longo da história católica, muitas vezes com alusões diretas a motivos específicos da tradição artística católica. O mais notável para mim foi o tema Moonwalker, que criou o que parece bastante com pinturas tradicionais das muitas aparições de Maria ao redor do mundo.

 

“A Jesus por Maria”, como dizem.

 


Imagem sobre catolicismo gerada por inteligência artificial. Autor: Dream by Wondo. Fonte: America Magazine

 

Outros resultados são instrutivos por si só. Pegue o filtro notavelmente assustador e preocupante “Morte”, que lança qualquer entrada em tons de vermelho e preto. Nela, o rosto de uma figura de Cristo brilha sobre uma catedral que me lembra a de São Pedro em Roma. Ele comunica ao mesmo tempo duas mensagens radicalmente diferentes. A primeira, talvez, é que Cristo olha com tristeza para as muitas falhas da Igreja institucional ao longo dos anos. A segunda, porém, é igualmente instrutiva – tem-se a impressão de que Jesus está cuidando de sua Igreja, guiando-a e protegendo-a.

 

Eu poderia continuar infinitamente. Algumas figuras empregam os estilos dos catolicismos orientais, outras retratam a Cidade Santa de Jerusalém. Alguns filtros nos atraem para o que parece ser a Eucaristia, enquanto outros apontam para a Cruz brilhando no Céu iluminado. Havia simplesmente tantos ângulos diferentes que o algoritmo tomou.

 

Mas o mais impressionante de todos? Quando não coloquei nenhum filtro, o único resultado discernível na imagem foi o corpo flagelado e triste de Jesus crucificado, inclinando a cabeça como faz no crucifixo que paira sobre todas as Igrejas Católicas. Mas você não pode nem mesmo ver a Cruz, realmente. Não é o foco – nossa atenção repousa diretamente no corpo glorioso e tragicamente humano de nosso supremo sumo sacerdote, que se oferece como sacrifício pelo mundo. Como deveria ser: “De fato, se causo tristeza para vocês, quem me dará alegria? Somente vocês, a quem entristeci” (2 Coríntios 2, 2).

 


Imagem sobre catolicismo gerada por inteligência artificial. Autor: Dream by Wondo. Fonte: America Magazine

 

Então, o que concluímos dessa estranha coleção de impressões artificiais? Não tenho certeza. Algumas dessas imagens parecem testes de Rorschach. Posso, no entanto, dizer que depois de 22 rodadas de espera para carregar as imagens com filtros, saí do exercício agradecido, até alegre, porque a tradição católica se apoia em uma fé de dois mil anos profundamente bela tanto no senso estético quanto teológico

 

Mal posso esperar para ver como são as catedrais no Reino dos Céus, e espero com gratidão encontrar a Mãe Santíssima em uma Nova Jerusalém. Mais importante, porém, desejo tocar meu dedos nas feridas do Senhor Ressuscitado e acreditar porque vi.

 

Até então, porém, participo de uma fé suficientemente majestosa, de qualquer ângulo ou filtro possível, para eu acreditar sem ter visto. E se essas IAs acabarem desenvolvendo sentimentos, como tem sido tão frequentemente teorizado, tenho certeza de que entenderão exatamente o que quero dizer.

 

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