13 Julho 2022
Nenhuma intenção de se afastar: o pontífice reitera que não quer antecipar sua saída de cena. Mas caso suas condições de saúde o obriguem, ele anuncia: "Vou me dedicar a confessar os fiéis e visitar os doentes”.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 12-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sobre sua demissão, no momento ainda distante, ele volta a falar diretamente. Se renunciasse ao seu pontificado, explica, não se deixaria chamar de "Papa emérito" como fez Ratzinger, não usaria a veste branca, não viveria no Vaticano nem retornaria à sua Argentina natal: Francisco seria um simples "bispo emérito de Roma" e gostaria de encontrar uma igreja na capital onde poder continuar a confessar os fiéis e visitar os doentes.
O Papa concedeu uma longa entrevista em espanhol às jornalistas mexicanas Maria Antonieta Collins e Valentina Alazraki para a TelevisaUnivision e falou sobre seu futuro. Uma regularização da figura do Papa Emérito é esperada já há muito tempo e mesmo que ainda não se vislumbrem novas regras no horizonte, as palavras de Francisco explicam que nada será como Bento quis que fosse para si mesmo.
No fundo, o Papa voltará a ser um simples bispo, um pastor como muitos outros: "Eu sou o bispo de Roma, no caso seria o bispo emérito de Roma", ele mesmo insiste não por acaso. E sobre a regularização jurídica da renúncia encontra o consenso do Cardeal Giuseppe Versaldi, prefeito da Educação Católica: "Seria necessário ordenar juridicamente a hipótese de renúncia, que já não é mais impossível".
A demissão por enquanto não está prevista: “Não tenho intenção de me demitir. De momento não”, explica, referindo-se também a recentes problemas de saúde. Mas, ele ressalta, "a porta está aberta" depois que Bento XVI em 2013 foi o primeiro papa em 600 anos a renunciar.
Mais uma vez Bergoglio fala sobre sua saúde sem esconder nada. Ele conta que "o joelho dói um pouco", que se sente um pouco "diminuído" embora já possa andar, mas que "nunca", em todo caso, lhe ocorreu renunciar, até hoje. No entanto, "caso veja que não posso, ou me causa prejuízo ou sou um obstáculo", aguardo a "ajuda" para tomar a decisão de me retirar.
Bergoglio explica que Bento XVI fez bem em se regularizar como o fez: "A primeira experiência - diz ele - correu bastante bem porque ele é um homem santo e discreto, e lidou bem com isso". "Mas, no futuro, as coisas devem ser mais delineadas, ou mais explícitas". E ainda: “Acho que por ter dado o primeiro passo depois de tantos séculos, ele ganha os 10 pontos. É uma maravilha”. Mas Francisco, ao contrário de Ratzinger, não moraria no Vaticano, "talvez" escolheria a Basílica de San Giovanni in Laterano, tradicional sede do bispo de Roma.
Antes do conclave que o elegeu, Bergoglio havia pensado em se retirar para um belo apartamentinho em Buenos Aires, onde poderia continuar a ouvir confissões em uma igreja próxima e visitar os doentes em um hospital. “Foi isso que pensei para Buenos Aires. Acredito que nesse cenário, se eu sobreviver até a minha demissão – poderia até morrer antes – gostaria de algo assim”.
Que não existem possibilidade imediata de renúncia também é mostrado pela agenda para as próximas semanas. Depois de adiar a viagem à África, o Papa confirmou a do final do mês no Canadá e sua disposição de ir à Rússia e Kiev. No final de agosto ele também irá a L'Aquila para o Perdão e posteriormente a Assis e Matera e depois, mais uma viagem ao Cazaquistão.
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Bergoglio afugenta o fantasma da demissão: “Mas se eu sair, não serei Papa emérito” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU