06 Abril 2022
Outra noite se foi. O grito das sirenes antiaéreas em um ouvido, o fragor das explosões no outro.
Há quatro dias, desde que Odessa está sob o fogo dos mísseis dos navios russos, parados a poucos quilômetros da costa, também para o bispo Stanislav Syrokoradiuk o despertar adquiriu ainda mais um sentido de bênção. Na cidade em terraços sobre o mar Negro, agora se vive em suspenso, ele também está se acostumando, tanto que no palácio episcopal ninguém mais corre para se abrigar debaixo das escadas, ainda que pouco sirvam como defesa. Em Odessa, como no resto da Ucrânia, se resiste, os capacitados e alistados com armas, que se tornaram necessárias até mesmo aos olhos deste franciscano de 66 anos imbuído daquele orgulho nacional que está mantendo à tona um povo há mais de quarenta dias com os russos dentro de casa.
"Claro que a resistência armada não é a única solução contra a invasão, há também a oração - especifica o bispo Syrokoradjuk, assim que ele encontra um minuto de tão esperada paz para responder às nossas perguntas -. Não sou a favor do exército como tal, mas apoio a luta justa pela independência da Ucrânia e isso está sendo garantido pelos nossos soldados. A ameaça à vida do nosso país exige que nos defendamos”.
A entrevista com Stanislav Sirokoradjuk é de Giovanni Panettiere, publicada por Qn, 05-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Papa anunciou que está trabalhando em uma viagem a Kiev: o que você pensa?
No momento não está na agenda. Ainda não há nada oficial, por enquanto as prioridades a enfrentar são outras.
Mas você acredita que Bergoglio está fazendo todos os esforços para buscar a paz?
Com orações e apelos, o Papa está fazendo todo o possível para parar esta guerra.
Ele deveria condenar Putin mais explicitamente?
Cada coisa deve ser chamada pelo seu nome, como o mundo inteiro está fazendo hoje. Por que o Pontífice também não poderia fazê-lo? A raiz do mal deve agora ser chamada pelo seu nome.
Bergoglio está certo em dizer que esta guerra estava se preparando há muito tempo?
Sim eu concordo. Todos sabiam dos preparativos, tinham conhecimento, mas ninguém fez nada para impedir seriamente o conflito.
Não há contradição entre a linha do Pontífice, para que se silenciem as armas, e o apoio à resistência armada?
O Papa sempre invoca uma solução pacífica para os problemas, não só de hoje. Se ele tivesse sido ouvido, não teria havido invasão russa da Ucrânia.
Como está a situação agora em Odessa?
Nos últimos quatro dias, a cidade, especialmente à noite, está sob os tiros dos navios de guerra de Moscou. Infraestruturas sensíveis também foram atingidas aqui, assim como toda a Ucrânia. Mísseis caíram a poucos quilômetros do palácio episcopal.
Você tem medo de morrer sob as bombas?
Todo mundo tem, é natural.
Muitos italianos acreditam que se Kiev se rendesse, a paz será alcançada mais facilmente.
Se eu estivesse no seu lugar, teria o mesmo pensamento. Mas a ameaça à vida da Ucrânia hoje exige que nos defendamos.
Você não acha que assim será uma Via Crucis?
Já é e foi imposta pelo novo Hitler, Putin.
O patriarca ortodoxo de Moscou espera encontrar o Papa até o final do ano: Bergoglio deveria recusar o convite?
Não há diferença entre Kirill e Putin e está claro como eles devem ser tratados. Esta, porém, é a minha opinião. O Papa sabe melhor como e o que fazer. Temos confiança.
Quando essa guerra vai acabar?
Quando a Ucrânia vencer. Certamente vencerá, porque um exército tão bestial como o exército russo não pode levar a melhor.
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“O papa não pode hesitar sobre Putin. Devemos nos defender a todo custo”. Entrevista com o bispo de Odessa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU