16 Novembro 2021
Termina uma sessão plenária e, uma hora e meia depois, começa outra. Mas, desta vez, os delegados de quase 200 países sabem que, no documento principal e definitivo da COP26, será feita uma modificação antes da publicação.
A reportagem é de Luisiana Gaita, publicada em Il Fatto Quotidiano, 14-11-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Isso porque a Índia e a China pediram para modificar o texto final do acordo: os esforços de aceleração para a “eliminação gradual” do carvão se tornam esforços menos ambiciosos para a “redução” gradual da energia a carvão. Formulação já fragilizada nos esboços anteriores, pois visa (agora) reduzir apenas aquela que gera emissões que não podem ser eliminadas com tecnologias como a captura e o armazenamento de CO2.
Então, muitos países mostraram a sua decepção, como a Suíça, pela escolha de “diluir” a linguagem sobre os combustíveis fósseis e o carvão, mas afirmaram aceitar o texto mesmo assim. Mais decepcionados, porém, estão os países mais vulneráveis, que não obtiveram compromissos mais concretos sobre o aumento dos financiamentos para a adaptação e pela não criação de uma estrutura ad hoc para financiar as perdas e os danos sofridos por causa das mudanças climáticas.
Os delegados das Ilhas Marshall e das Ilhas Fiji, de fato, expressaram espanto e decepção justamente porque, para eles, o acordo não foi reaberto, embora tenha sido feito para contentar a China e a Índia. O delegado de Antígua e Barbuda fez o mesmo.
Nesse ponto, veio a reação emotiva e inesperada de Alok Sharma que, em certo momento, pediu desculpas pelo andamento do processo: “Lamento profundamente”. Todos os delegados presentes aplaudiram, mas, nesse ponto, estava claro que quem ganhou o braço de ferro foram a China e a Índia.
É preciso se perguntar se, nesse ponto, ainda está ao alcance das mãos o objetivo de permanecer abaixo do limiar de 1,5ºC. Além disso, visando apenas aos subsídios “ineficientes” aos combustíveis fósseis, com mais isenções para as populações vulneráveis, o risco é de que a menção explícita aos combustíveis fósseis pela primeira vez em uma decisão da COP se torne apenas simbólica.
De acordo com o relatório atualizado sobre a lacuna das emissões do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), os atuais NDCs (contribuições nacionalmente determinadas) levarão a um aquecimento global de 2,4°C. As emissões globais em 2030 deverão ser 13,7% a mais do que em 2010, embora devam ser reduzidas em pelo menos 45% para se ter ao alcance das mãos o objetivo de 1,5°C até o fim do século.
Com esse objetivo, os países agora estão sendo convidados a aumentar os seus objetivos de 2030 antes de se reunirem novamente no Egito para a COP27 no fim de 2022.
“O documento final da COP26, que está prestes a ser votado na assembleia plenária, sanciona a vitória dos lobbies das fontes fósseis que era a delegação mais numerosa em Glasgow, mais de 500 pessoas”, comentou o coporta-voz nacional da Europa Verde, Angelo Bonelli, antes da assinatura. “Isso freia a transição ecológica rumo a uma política energética renovável e a eliminação das emissões de CO2, com uma campanha negacionista sobre o clima, que já gastou mais de um bilhão de dólares.”
Nesse ínterim, as petroleiras do mundo receberam em 2020 subsídios públicos de 5,9 trilhões de dólares, segundo o Fundo Monetário Internacional, “e isso explica – acrescenta Bonelli – porque hoje a política global, ou parte dela, é fraca para planejar o fim da dependência das fontes fósseis”.
Estados Unidos e União Europeia, no fim, também se levantaram, bloqueando o pedido de 134 países que representam 85% da população mundial para que fosse instituída uma Glasgow Facility on Loss and Damage, um órgão de entrega formal para fornecer apoio financeiro àqueles países que já estão passando por desastres climáticos.
Os Estados Unidos e a União Europeia não quiseram ser responsabilizados financeiramente pelas suas emissões históricas, embora o acordo final preveja um diálogo de dois anos para discutir as modalidades que poderiam levar à criação de tal instrumento.
No que diz respeito à adaptação, “são gastos no mundo dois trilhões de dólares por ano em armamentos”, continua Bonelli, “mas não encontram 100 bilhões de dólares prometidos aos países pobres nos últimos anos”.
Os países desenvolvidos são agora chamados a dobrar precisamente ao seu apoio à adaptação (dos 20 bilhões por ano de hoje para pelo menos 40 bilhões), embora não tenha sido encontrado um acordo sobre o objetivo de financiamento do clima depois de 2025.
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COP26: texto final sai enfraquecido para agradar a Índia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU