14 Setembro 2021
“O medo de viver é o desconforto mais secreto dos nossos filhos: viver o encontro com o aberto não como um oxigênio necessário, mas como um fator de angústia e de desestabilização. Portanto, a Escola deve permanecer aberta especialmente para aqueles que se revelaram mais frágeis e assustados. É uma de suas funções culturais e civis mais importantes: salvaguardar a inclusão. Esta é outra possível declinação do seu ser aberta. Ser inclusiva não significa desanimar ou não reconhecer o mérito, mas ser garantia para aqueles que caem ou que correm mais devagar”, escreve Massimo Recalcati, psicanalista italiano e professor das Universidades de Pavia e de Verona, em artigo publicado por La Stampa, 13-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O ano escolar que começa hoje (na Itália) para muitos jovens é marcado por uma verdadeira reabertura. Por um lado, a abertura, como já salientei em várias ocasiões, é uma definição da Escola como tal. Qual é o propósito da escola senão abrir as cabeças, os corpos, a vida de nossos filhos? A que serve senão possibilitar o pensamento crítico, fazer comunidade, expor-se à surpresa do encontro? Por outro lado, porém, a pandemia que impôs forçosamente o fechamento da Escola por motivos sanitários, torna ainda mais significativa essa abertura já registrada no DNA da Escola. Constatamos, neste tempo traumatizado, não sem um certo assombro, que a Escola foi finalmente sentida pelos nossos filhos como uma falta. É um mecanismo psicológico conhecido: nada como a privação de algo que era dado como certo pode valorizar sua existência.
Para muitos de nossos filhos, mesmo para aqueles para os quais era vivida como um fardo, o fechamento da Escola foi percebido como uma restrição injusta em suas vidas. Retornar à escola significa, portanto, em primeiro lugar, retornar a viver plenamente. Este simples fato deveria ser, por si só, uma bússola indispensável para compreender a importância decisiva da Escola para o futuro do nosso país. A comunidade escolar na sua composição plural e na sua existência real não é uma empresa, não deve gerar lucros imediatos, não é o resultado de uma tecnologia aplicada, não pode ser reduzida a um lugar estéril de transmissão de informações e de competências. Existe um substrato cultural mais fundamental da escola que a torna um lugar único no processo de formação da vida. O encontro com a cultura não é apenas o encontro com diferentes saberes, mas é o encontro com a língua antes da democracia. Qual língua? Aquela que exclui a existência de uma única língua. A democracia é, de fato, em seu fundamento, encontro e contaminação com a pluralidade das línguas. Não haveria escola aberta se houvesse apenas uma única língua. Não é por acaso que quando as Escolas transmitem dogmas invioláveis, uma única língua enrijecida em seu código sem vida, fomentam o terror e o fanatismo impossibilitando a formação.
Na Escola, a pluralidade das línguas não só é protegida pelo trabalho dos professores, mas informa também o seu ser uma comunidade. Isso é o que mais faltou aos nossos filhos: a possibilidade de encontrar com seus pares. A vida do grupo constitui uma separação necessária da vida da família. Se a vida do filho fica encasulada na língua de sua família de origem, não há formação, não há encontro possível com a pluralidade aberta das outras línguas. A vida em grupo, a vida viva da comunidade da Escola, apoia esse processo de forma decisiva: torna possível a passagem da língua materna às outras línguas do mundo.
A covid, por outro lado, fortaleceu os laços familiares privando os nossos filhos do oxigênio de que precisam para a vida fora da família. Não é por acaso que um sintoma como o das crises de pânico, que tem na sensação de falta de ar uma de suas manifestações mais eloquentes, apareceu como sintoma recorrente e emblemático em muitos jovens desse período. As medidas de segurança protegeram a vida, mas também a adoeceram. Não é por acaso que muitos jovens têm dificuldade em voltar à escola, em recomeçar a viver. Sua prisão, necessária para a defesa da saúde, se transformou em um refúgio.
A reabertura da Escola também leva esses garotos com maiores dificuldades a se unirem aos seus colegas. O medo de viver é, de fato, um dos sintomas mais inquietantes da juventude hipermoderna que a covid potencializou. É o contraponto ao impulso hiperativo e ao consumo sem limites de toda experiência que caracteriza a face hegemônica do desconforto juvenil contemporâneo. O medo de viver é o desconforto mais secreto dos nossos filhos: viver o encontro com o aberto não como um oxigênio necessário, mas como um fator de angústia e de desestabilização. Portanto, a Escola deve permanecer aberta especialmente para aqueles que se revelaram mais frágeis e assustados. É uma de suas funções culturais e civis mais importantes: salvaguardar a inclusão. Esta é outra possível declinação do seu ser aberta.
Ser inclusiva não significa desanimar ou não reconhecer o mérito, mas ser garantia para aqueles que caem ou que correm mais devagar.
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O medo de viver dos nossos filhos se cura na escola. Artigo de Massimo Recalcati - Instituto Humanitas Unisinos - IHU