15 Julho 2021
“Construindo uma Ponte”, do padre jesuíta James Martin foi traduzido para o coreano, sendo o primeiro livro sobre católicos LGBTQIA+ na Coreia.
A reportagem é de Beth Mueller Stewart, publicada por New Ways Ministry, 14-07-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O jornal Korean Times noticiou que o padre Sim Jong-hyeok, jesuíta, presidente da Universidade Sogang, traduziu “Building a Bridge: How the Catholic Church and the LGBT community can enter into a relationship of respect, compassion and sensivity” (“Construindo uma ponte: como a Igreja Católica e a comunidade LGBT podem entrar em uma relação de respeito, compaixão e sensibilidade”, em tradução livre), porque viu que os coreanos LGBTQ sofriam discriminações e queriam exercer ministérios pastorais na Igreja com recurso de aconselhamento LGBTQ.
No processo de tradução, Sim percebeu que a tradução oficial ao coreano do Catecismo da Igreja Católica tem alguns erros, e ele sugeriu novos termos, como explica:
“A Igreja coreana traduziu a linha original do Catecismo ‘respeito, compaixão e sensibilidade’, que é uma importante diretriz na construção de uma relação com grupos sexuais minoritários, como ‘respeito, pena e gentileza’. Eu fiz uma correção a essa parte no livro. Eu assumo que o catecismo coreano, aparentemente, não levou em consideração a existência de grupos minoritários quando foi traduzido”.
“Parece que a tradução incorreta do termo está de certa forma relacionada à falta de compreensão da Igreja Católica sobre a homossexualidade no passado. Presumo que muitos ficariam desconfortáveis com a tendência ‘desordenada’ e é por isso que a tradução original tinha algumas palavras (aleatórias) como ‘pena’ e ‘gentileza’ em vez de ‘compaixão’ e ‘respeito’”, acrescentou.
Além disso, Sim observou que, embora a compreensão das pessoas sobre a sexualidade tenha mudado, o Catecismo não mudou com o tempo. Ele acredita que o Catecismo precisa ser revisto para refletir os tempos e ajudar a criar uma comunidade católica mais receptiva à diversidade. Ele comentou:
“O Catecismo pode ser muito anacrônico, pois as pessoas hoje em dia têm pensamentos diferentes sobre o amor. Tem ensinado que a principal razão para os atos sexuais é a procriação. Mas agora as pessoas pensam de forma diferente que atos sexuais entre marido e mulher são uma expressão de amor. Além disso, existem muitas pessoas que têm sentimentos homossexuais ao nosso redor. Ouvi dizer que dois em cada dez são LGBT. A Igreja também admite que não há um número desprezível de pessoas mostrando tendências homossexuais, mas ainda afirma que é uma 'desordem', fazendo essas pessoas ficarem tristes e Deus cometer um erro”.
“Em muitos casos, as pessoas com tendências à homossexualidade nascem física e clinicamente assim. Não é uma doença e, portanto, não é algo que precisa ser curado. Se pessoas com tendências homossexuais são um erro, então, isso é culpar Deus por criar uma existência errada”, afirmou Sim.
Ao longo do processo de escrita, Sim consultou coreanos LGBTQIA+, que sugeriram mudar o arco-íris na capa do livro de sete cores para seis, tornando-o o símbolo da comunidade.
Depois de estudar teologia nos Estados Unidos na Escola de Teologia Weston (que agora é Escola de Teologia e Pastoral Boston College) e em Roma na Pontifícia Universidade Gregoriana, Sim percebeu o quão fechada a cultura coreana e a Igreja podem ser, especialmente em termos de diversidade e inclusão de minorias. Ele comentou:
“Claro, basicamente acho que sou menos preconceituoso em quaisquer ocasiões do que outras. Mas estudar nos EUA, que tinha uma atmosfera mais aberta do que a Coreia, me ajudou a construir conhecimento sobre a homossexualidade. Fiquei surpreso com o fato de que os estadunidenses, quatro em cada dez, eram canhotos. Nunca vi isso na sociedade coreana. Concluí que na cultura coreana existe um certo aspecto que consideramos anormal qualquer tipo de minoria. Como a sociedade força a pessoa canhota a usar a mão 'direita' na sociedade, presumi que algo semelhante se aplicava à homossexualidade”.
No geral, o padre Sim recebeu feedback positivo sobre a tradução. Pessoas LGTBQ e suas famílias enviaram e-mails para agradecê-lo. Ele observou: “um disse que eles não entendiam totalmente a posição oficial da igreja e não sabiam o que fazer. Mas o livro se tornou uma boa diretriz sobre o que fazer ao conhecer pessoas homossexuais durante um ministério”.
Comentando sobre esta história, o diretor-associado do New Ways Ministry, Robert Shine, disse:
“‘Construindo uma ponte’ surgiu a partir de uma mensagem do padre Martin no prêmio New Ways Ministry's Bridge Building, em 2016. Desde então, ele foi traduzido para vários idiomas, ajudando a estimular conversas em todo o mundo sobre como a Igreja pode incluir mais as pessoas LGBTQ. Mas como o problema de tradução do padre Sim aponta, a conversa precisa ir mais a fundo. Existem problemas quando os líderes da Igreja não são precisos em sua linguagem. Isso causou danos, já que a palavra ‘pena’ é bastante negativa e está longe de ser ‘compaixão’. E há também a outra linguagem prejudicial do Catecismo. A história do padre Sim destaca o poder da linguagem tanto para prejudicar quanto para curar. A realidade é que deve haver um ajuste de contas com a linguagem usada se a Igreja quiser realmente avançar nas questões LGBTQ”.
No dia 21 de julho de 2021, às 10h, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU realiza a conferência A Inclusão eclesial de casais do mesmo sexo. Reflexões em diálogo com experiências contemporâneas, a ser ministrada pelo MS Francis DeBernardo, da New Ways Ministry – EUA. A atividade integra o evento A Igreja e a união de pessoas do mesmo sexo. O Responsum em debate.
A Inclusão eclesial de casais do mesmo sexo. Reflexões em diálogo com experiências contemporâneas
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Tradução coreana do livro de James Martin destaca as dificuldades da linguagem da Igreja sobre o tema LGBTQ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU