08 Outubro 2016
"A homofobia se choca sobretudo contra o mandamento do amor ao próximo. Nem no Antigo nem no Novo Testamento o conceito de próximo está limitado a um determinado grupo, nação ou a um determinado gênero. Mesmo no cristianismo das origens, são superadas, através do conceito de ‘próximo’, formas de segregação e relações hierárquicas profundamente enraizadas na sociedade, que podem se orgulhar de uma legitimação ideológica, bem como de uma longa tradição."
A opinião é do jesuíta alemão Klaus Mertes, diretor-chefe da revista acadêmica Theologie.geschichte. Desde 2011, é diretor do colégio de St. Blasien, em Berlim. O artigo foi publicado na revista Theologie.geschichte, Bd. 11, 2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mertes continua: "Para a Igreja, vale a revolucionária afirmação: ‘Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há mais homem nem mulher, porque todos vocês são um em Cristo Jesus’ (Gl 3, 28). Com base em expressões das línguas modernas, pode-se integrar: ‘Não há mais homossexual ou heterossexual...’".
Pode-se falar de "homofobia", propriamente, apenas desde que existe o conceito de "homossexualidade". Por sua vez, ele deriva da ciência médica do século XIX e indica uma orientação duradoura ou mesmo uma inclinação a pessoas do mesmo sexo, qualquer que seja a sua origem. O comportamento sexual dos seres humanos, para esse propósito, é distinguido em categorias claras (como é típico para a ciência moderna). Tal classificação é desconhecida para o tradição neotestamentária e para o primeiro cristianismo, assim como para a primeira literatura judaica.
Na acepção atual, homofobia indica "uma rejeição ou uma hostilidade social voltada a mulheres e homens homossexuais". Nas ciências sociais a homofobia está associada a fenômenos como racismo, xenofobia ou sexismo no conceito único de "hostilidade contra grupos específicos de pessoas e, consequentemente, não depende de uma anomalia patológica [...] O conceito de homofobia se refere ao medo como causa originária do comportamento de rejeição [...] O medo é um modelo reconhecido para explicar o comportamento agressivo ou de rejeição por parte não só de jovens, mas também de adultos contra os homossexuais, isto é, não medo dessas pessoas, mas um medo profundo, muitas vezes inconsciente de algumas partes reprimidas da própria personalidade. No entanto, nesse caso, não se trata de um distúrbio fóbico em sentido clínico e psicológico" [1].
A homofobia se choca sobretudo contra o mandamento do amor ao próximo. Nem no Antigo nem no Novo Testamento o conceito de próximo está limitado a um determinado grupo, nação ou a um determinado gênero. Mesmo no cristianismo das origens, são superadas, através do conceito de "próximo", formas de segregação e relações hierárquicas profundamente enraizadas na sociedade, que podem se orgulhar de uma legitimação ideológica, bem como de uma longa tradição. Para a Igreja, vale a revolucionária afirmação: "Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há mais homem nem mulher, porque todos vocês são um em Cristo Jesus" (Gl 3, 28). Com base em expressões das línguas modernas, pode-se integrar: "Não há mais homossexual ou heterossexual...".
O fato de a Igreja não conseguir se decidir por reivindicar direitos humanos fundamentais para as pessoas homossexuais; o fato de que ela, ao contrário, tolera que até mesmo altos representantes do clero invoquem compreensão para tradições culturais em que as pessoas homossexuais são ameaçadas de morte está em contradição com o Evangelho.
A homofobia impede um olhar histórico-crítico sobre as passagens bíblicas pertinentes e sobre os textos tematicamente afins ao ambiente não judaico em que nasceram o Antigo e o Novo Testamento, colocados no seu contexto histórico específico. Ela está relacionada com uma exegese bíblica fundamentalista. Não é de se admirar, consequentemente, que haja uma atração recíproca entre grupos homofóbicos e grupos antimodernos. Na medida em que os textos do Antigo e do Novo Testamento são lidos como afirmações sobre a homossexualidade no sentido moderno da palavra, produzem-se mal-entendidos repletos de consequências, legitimados, ao mesmo tempo, pela referência à autoridade da Escritura. Mas, nesse campo, é amplamente reconhecido pela Igreja Católica, desde o Concílio Vaticano II, o método histórico-crítico: e não simplesmente como um dos muitos métodos possíveis para interpretar as Escrituras, mas sim como "o" método apropriado para pôr em relação as afirmações da Escritura com os conhecimentos modernos. Sem uma hermenêutica histórico-crítica, a Igreja perde a faculdade de se pronunciar.
Em todos os caso, não há qualquer motivo razoável para subtrair os textos bíblicos sobre a "homossexualidade" de uma leitura histórico-crítica. A tentativa de abrir, aqui, uma exceção já pertence aos sintomas da homofobia. E mais: justamente nesse caso, posições homofóbicas se ligam ao impulso de rejeitar a modernidade, de modo comparável às resistências dos criacionistas contra a teoria da evolução.
São os pontos cegos e as contradições performativas que permitem reconhecer os preconceitos, também aqueles de tipo homofóbico. O Catecismo da Igreja Católica oferece alguns exemplos disso, ele que, nos números 2.357-2.359, trata de "castidade e homossexualidade".
Tais parágrafos pertencem ao título anterior, "As ofensas à castidade" (números 2.351-2.356). Essa divisão corresponde a um clássico impulso homofóbico, para o qual a homossexualidade é uma ofensa à castidade não só no momento em que é praticada em "atos homossexuais". Essa divisão insinua que os anseios e os desejos dos homossexuais, assim como a "saída do armário", já são atos contrários à castidade [2]. Isso repercute de maneira dolorosa até hoje na experiência cotidiana das pessoas homossexuais na Igreja.
A questão da homossexualidade deveria ser tratada sob o título "direitos humanos" e não ser atribuída ao âmbito da "castidade".
O Catecismo da Igreja Católica, por um lado, no número 2.358, profere uma proibição de discriminação contra os homossexuais [3]. Tal proibição de discriminação, por outro lado, torna-se contraditória, pois, estranhamente, perde-se entre afirmações discriminatórias sobre a homossexualidade [4].
Apenas a formulação, ou seja, de que se deveria acolher os homossexuais com "respeito, compaixão e delicadeza" (n. 2.358), fere pela sua condescendência. O fato de a homossexualidade ser uma cruz que os homossexuais deveriam "unir ao sacrifício da cruz do Senhor" (n. 2.358), esconde as causas reais dos sofrimentos dos homossexuais. A cruz não consiste na orientação homossexual, mas na rejeição e na hostilidade devidas à homofobia.
A homofobia impede que os homossexuais até mesmo rezem com as palavras do Salmo: "Dou-te graças, porque me fizeste como um prodígio" [5]. Ela recorre a uma "devoção da cruz", que, por sua vez, é invasiva e prejudicial. "Se alguém quiser vir após mim (…) tome a sua cruz e me siga" (Mc 8, 34). Mas o que é a "minha" cruz em comparação com a "tua" não pode ser definido de fora, muito menos por um grupo inteiro de seres humanos. Tais ataques, que chegam à violência espiritual, foram sofridos por muitas pessoas homossexuais na Igreja Católica: uma "cruz" lhes foi imposta com palavras devotas pelo ambiente homofóbico e, portanto, elas foram, além disso, induzidas ao erro também no plano teológico e espiritual.
Abertamente discriminatório é o Catecismo quando define a homossexualidade como "depravação grave" e remete, como justificação bíblica, Gn 19, 1-29. Na história dos homens de Sodoma, trata-se de violência sexual, não de homossexualidade. A confusão entre homossexualidade e violência sexual permite captar os preconceitos homofóbicos dos autores dessa passagem. Ela provém da sensação de uma (suposta) ameaça. Também não é necessário interpretar Gn 19, 1-29 de modo histórico-crítico para reconhecer a evidente confusão de que são vítimas os autores do trecho. Aqui pode-se notar um ponto cego.
Além disso, o Catecismo refere-se às passagens pertinentes em Paulo: Rm 1, 24-27, e 1Co 6, 10 (assim como 1Tm 1, 10). Sobre essas e outras passagens citadas, como justificativa, está se desdobrando há muitos anos um amplo debate exegético: a condenação de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo em Lv 18, 22 (do qual Paulo retoma, em parte, a terminologia, embora em outro contexto) pode ser atribuída aos conceitos de pureza [6] ou à situação de uma minoria oprimida que queria exortar os seus membros à fecundidade e, portanto, à sobrevivência [7].
O conceito (que deriva da tradição greco-helenística) de parà physin ("contra a natureza") indica normalmente uma relação sexual que exclui a fecundidade, também no caso do coito heterossexual. Tal orientação sexual estável não é o pressuposto de Paulo: caso contrário, ele não poderia dizer em 1Co 6, 10: "Antigamente, vocês 'eram' (!) efeminados (arsenoi, papel passivo) e tinham relações com homens (arsenokoites, papel ativo, cf. Lv 18, 22)". Em Rm 1, 24, a paixão sexual parà physin é adotada como imagem para a confusão entre o Criador e a criatura junto aos povos não judeus. O tema da passagem é a questão sobre a necessidade da justificação para todos os povos. Se tomarmos a sério a imagem, Paulo descreve aqui as relações sexuais parà physin como forma de confusão. Também desse ponto de vista, portanto, fica excluída a homossexualidade em sentido moderno.
Também se poderia dizer inversamente: o próprio Paulo vive parà physin, porque não é casado (cf. 1Co 7). A ênfase realmente nova que o cristianismo das origens colocou sobre a sexualidade foi a valorização do celibato ou da continência sexual. Ela envolvia um tema de liberdade: a sexualidade humana não está a serviço do crescimento da polis [8]. O dever da fecundidade, afirmado e praticado na cultura grega, é posto em discussão pelos cristãos e os levou, gradualmente, a uma exaltação espiritual da continência, contra a qual os Concílios tiveram que defender o valor e a liberdade do matrimônio.
Em todas as diversas abordagens, no entanto, os estudos históricos sobre a Bíblia defendem, de modo unânime, que nem o Antigo nem o Novo Testamento conhecem o conceito de "homossexualidade" em sentido moderno. Acrescenta-se outro fato, não menos significativo: nas sociedades antigas, a sexualidade estava "ligada indissociavelmente com as relações de poder e de dominação que estruturavam as sociedades da época (…) por um lado, estavam os homens livres como parceiros sexuais ativos; de outro, mulheres, escravos, escravas e crianças como parceiros sexuais passivos" [9]. Segue-se daí que a norma era estabelecida não pela diferença entre hetero e homossexualidade, mas pela diferença entre ativo e passivo, insertivo e receptivo, livre e dependente. Um homem grego livre pode penetrar mulheres, escravos, escravas e crianças, mas não outro homem grego livre. Diante desse cenário, até mesmo as afirmações paulinas sobre a homossexualidade, especialmente Gl 3, 28, podem reivindicar um significado emancipatório. Em todo o caso, é aconselhável ler Rm 1, 24 e 1Co 6, 10 em relação a Gl 3, 28.
No Banquete de Platão, Aristófanes conta um mito sobre a origem do amor: os seres humanos originalmente tinham a forma de uma bola, bolas masculinas, bolas femininas e bolas andróginas. A perfeição da forma esférica os induziu à soberba, razão pela qual Zeus os puniu dividindo as bolas em duas metades. "Cada um de nós, portanto, é o pedaço de um único ser humano, já que nós estamos, justamente, divididos, como os linguados se tornam dois a partir de um. Ora, portanto, cada metade sempre busca a sua outra metade (…) as mulheres que derivam de um de ser completamente feminino não se interessam muito pelos homens, mas se voltam às mulheres (…) aqueles que, em vez disso, são metade de um ser completamente masculino vão em busca do masculino; enquanto são rapazes, eles amam os homens, como metade do ser masculino. Deitar-se com os homens e abraçá-los os delicia, e estes são os melhores entre os rapazes e os jovens, porque são os mais viris por natureza. É verdade, alguns os chamam de despudorados, mas é injusto. De fato, eles não agem assim por falta de pudor, mas porque amam o semelhante com coragem e audácia viril. Grande prova disso é o fato de que, uma vez formados completamente, tais homens se dedicam preferivelmente à política. Mas quando se tornam maduros, amam os rapazes; por natureza, não têm nenhum impulso ao casamento e à procriação, mas são obrigados a isso pelas normas sociais; por si mesmos, seria suficiente viver juntos sem se casar" [10].
Gottfried Bach [11], partindo da teologia bíblica da criação, submete o mito platônico à crítica de que, em Platão, o eros seria a consequência de uma punição e seria, assim, julgado de forma negativa; o eros, portanto, estaria "podre". Parece-me, ao menos, igualmente digno de reflexão o fato de que o texto de Platão expressa o valor mais elevado do eros homossexual masculino em relação ao eros lésbico e também em relação ao eros entre homem e mulher que deriva da bola andrógina (aqui capto um nexo com a exigência do movimento feminino de distinguir da homofobia uma lesbofobia, à qual também contribuem homens homossexuais e que também possui uma atratividade própria quando se liga à autocomplacência e a cumplicidade masculinas). Para Platão, os homens ligados entre si por cumplicidades de grupo são obrigados à fecundidade por meio da lei. A polis precisa, para a sua sobrevivência, de reprodução, novos homens, cujos "melhores" possam ser iniciados como meninos na sociedade dos homens por meio de relações genitais homossexuais. Isso implica uma ideia puramente utilitarista da fecundidade e uma relação meramente instrumental com as mulheres. O objetivo principal do vínculo entre os homens, em vez disso, é "lidar com os assuntos do Estado" – uma autocomplacência elitista típica das sociedades masculinas, conectada com a ambição ao poder [12].
O texto de Platão toca dois pilares da mentalidade cristã. Em primeiro lugar, o seu mito documenta e legitima uma ordem social dominada pelos homens. Nesse sentido, ele possui um aspecto univocamente depreciativo em relação às mulheres, ginofobo, e, portanto, contradiz a letra e o espírito de Gl 3, 28. Aristóteles também vê o feminino como passivo "por natureza" e o masculino como ativo "por natureza": ele pressupõe, portanto, relações de superioridade e inferioridade entre masculino e feminino. Essa imagem da mulher, do mesmo modo, foi recebida há muito de modo tão problemático na história do cristianismo.
Em segundo lugar, o texto legitima a pederastia, portanto, amor genital e homossexual em relações assimétricas. Hoje, depois da descoberta dos abusos sexuais na Igreja Católica, nas escolas e em outras instituições, sabemos melhor do que alguns anos atrás que aqui é escancarada a porta para o abuso sexual de pessoas que devem ser protegidas. Nas relações de abuso por parte dos educadores protestantes, motivos platônicos desempenhavam um papel importante para a legitimação das suas ações. Dentro da Igreja Católica não havia, certamente, uma referência explícita à tradição platônica, ainda mais que a moral sexual católica condena claramente todo ato sexual fora do casamento entre homem e mulher. No entanto, no fato em si mesmo, precisamente as relações de abuso entre clérigos e jovens têm o sabor da cumplicidade masculina. Muitos meninos abusados relatam que a sensação de se sentirem admitidos em um grupo selecionado era um fator importante de atração para a sua relação com os autores dos abusos e que ela estava ligada a uma "responsabilidade comum" por manifestações litúrgicas, sociais e de outros tipos.
Desde que foi concluída a investigação sobre o "Vatileaks", promovida em 2012 pelo Papa Bento XVI, circulam na Igreja Católica rumores sobre "redes homossexuais" na Cúria e na hierarquia. O Papa Francisco retomou a expressão em um diálogo com os superiores das ordens religiosas femininas e masculinas na América do Sul e falou de um "lobby gay" no Vaticano. Na viagem de volta da sua visita à Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, ele esclareceu o sentido da sua afirmação, isto é, que, no caso dos "lobbies gays", o problema é o "lobby", não a homossexualidade. "Se alguém é homossexual e busca a Deus com boa vontade, quem sou eu para julgar?", acrescentou [13].
Não é por acaso que o ano de 2010 reabriu o debate sobre as "redes gays" dentro e em torno do clero da Igreja Católica. A própria hierarquia é responsável por isso em grande medida. Justamente no início do ano 2010, o cardeal Bertone, com as suas teses sobre uma conexão entre homossexualidade e abuso sexual, adotou uma estratégia argumentativa homofóbica, que, na hierarquia católica, por muitos anos, representou a resposta estratégica aos escândalos pelos abusos: "Se vocês afastarem os homossexuais do clero, não teremos mais abusos sexuais", ou, para usar as palavras do falecido arcebispo de Fulda sobre os dois modos a ele conhecidos para abandonar o sacerdócio, "uns acabam diante do oficial de estado civil, outros diante do Ministério Público".
No congresso "Rumo à cura e à renovação" (Universidade Gregoriana, fevereiro de 2012), a tese do nexo entre homossexualidade e abusos sexuais foi refutada por meio de dados estatísticos. Um estudo da Conferência Episcopal dos Estados Unidos sobre as causas e os contextos do abuso sexual por parte de sacerdotes católicos, citado no congresso, constata expressamente: os dados clínicos não confirmam a hipótese de que sacerdotes de identidade homossexual abusam sexualmente de menores mais do que sacerdotes de orientação heterossexual [14]. Os números apresentados no contexto por Stephen Rossetti [15] também falam claramente: mais de 95% de todos os autores de abusos sexuais são do sexo masculino. A maioria das vítimas de violência sexual são mulheres e meninas. A maioria dos autores de abusos são heterossexuais. No caso dos abusos cometidos por sacerdotes, o maior grupo de vítimas inclui jovens na pós-puberdade [16].
A última constatação não implica que haja uma particular predisposição dos sacerdotes homossexuais à violência sexual. No máximo, permite concluir que há um número significativamente alto de homens homossexuais no clero da Igreja Católica. Mas isso, de fato, não é novidade. Só que até agora ninguém podia falar a respeito sem correr riscos. Quando o teólogo pastoral Augusta Hanspeter Hainz, em 1996 – pela primeira vez em um contexto público de língua alemã –, estimou em 20% o número dos sacerdotes homossexuais na Igreja Católica, ele foi repreendido por ter ofendido o clero. Hoje, as estimativas são muito mais altas.
Admitindo-se que, de fato, haja um número significativamente alto de assédios e violências sexuais por parte de sacerdotes homossexuais – em comparação com o percentual de assédios e violências sexuais em outros grupos profissionais –, também não bastaria isso para provar uma ligação particular entre homossexualidade e abuso. Em vez disso, se chegaria à conclusão de que, no clero, há um número significativamente alto de homens homossexuais que não têm uma relação madura com a sua sexualidade. Provavelmente, é assim. Mas isso depende, por sua vez, também das estruturas eclesiásticas, que têm uma atitude homofóbica. Nos últimos anos, a hierarquia repetidamente afirmou a incompatibilidade entre homossexualidade e sacerdócio, mais recentemente, de novo, o próprio Papa Bento XVI no seu livro-entrevista "Luz do mundo": "A homossexualidade não é compatível com o ministério sacerdotal" [17].
Mas só é possível chegar à maturidade sexual – mesmo e precisamente na vida celibatária – quando se pode falar na primeira pessoa do singular sobre a própria sexualidade, os próprios sonhos, desejos e anseios. No caso de candidatos homossexuais ao sacerdócio, isso já não pode acontecer precisamente por causa do fato de que eles, desse modo, colocariam em risco a sua ordenação sacerdotal. Deparamo-nos aqui com uma causa estrutural que torna muito difícil, justamente para os sacerdotes homossexuais, chegar a uma relação madura com a própria sexualidade – e isso também produz um efeito prejudicial para sacerdotes heterossexuais e o seu amadurecimento psicossexual. A obrigação de calar, de fato, por um lado, constitui uma injustiça dentro do clero para os sacerdotes homossexuais; por outro, não é permitido que os sacerdotes heterossexuais conheçam os seus coirmãos homossexuais e destruam os seus medos, ligados principalmente com uma orientação sexual estranha para eles.
No campo da cultura, é conhecido o termo "homossocialidade". Nas ordens religiosas masculinas, existem apenas homens; nas femininas, apenas mulheres; nas escolas para rapazes, apenas rapazes; nas escolas para meninas, apenas meninas; na igreja, na parte esquerda da nave, sentam-se apenas mulheres; na parte direita, apenas homens, e assim por diante. Ninguém chegaria à ideia de deduzir a orientação sexual dos membros desses grupos com base na sua composição. A homossocialidade existe em múltiplas formas em todas as culturas e em todas as fases da vida humana. Um constante jogo de proximidade e distância, mesmo em situações de grupo, pertence à convivência entre os sexos.
A homossocialidade, por outro lado, se torna um problema quando se entrelaça com o poder e fecha ou limita o acesso às posições de poder. A homossocialidade masculina se torna cumplicidade masculina quando se fecha ao outro sexo e se torna um fim em si mesmo. Os grupos homossociais tendem à "cumplicidade" e são particularmente atraentes, justamente porque estão estruturados de maneira homossocial. No caso do clero da Igreja Católica, isso significa: se o ministério sacerdotal é atraente, especialmente porque envolve a companhia de homens apenas, a estrutura homossocial do clero se reduz a cumplicidade masculina.
Com a cumplicidade masculina, o clero também desenvolve um aspecto misógino. Emana uma atmosfera proibida para as mulheres. A exclusividade o torna atraente para alguns; para outros (especialmente para as mulheres), problemático. A homofobia abre uma porta a seu despeito: quem é tomado por desprezo homofóbico não pode, de fato, falar de "lobby gay" na Igreja, sem tocar também, ao mesmo tempo, a questão feminina. Como disse o Papa Francisco, o problema não é o fato de que alguns sejam homossexuais no lobby, mas o fato de que o lobby seja, justamente, um lobby.
O grupo masculino, na verdade, não é homossexual, mas homofóbico. Ocupa-se – e nisso se revela o aspecto da cumplicidade – com a atribuição de cargos e posições: "Os amigos dos amigos do papa se tornam bispos", escreveu um jornalista, acertando o alvo, depois de ter fracassado a escandalosa tentativa do lobby de impor na diocese austríaca de Linz como bispo auxiliar um prelado que tinha se apresentado, dentre outras coisas, com o seguinte comentário sobre o furacão Katrina em Nova Orleans em 2005: "O furacão Katrina destruiu não só todas as boates e os bordéis, mas também todas as cinco (!) clínicas de aborto. Vocês sabiam que as associações homossexuais tinham organizado uma parada de 125.000 homossexuais dentro de dois dias no bairro francês? Como se entende lentamente apenas agora, as condições amorais nesta cidade são indescritíveis. A notável multiplicação de catástrofes naturais é apenas uma consequência da poluição ambiental por causa do homem ou, ao contrário, consequência de uma poluição espiritual? No futuro, deveremos refletir intensamente sobre esse ponto" [18].
No dia 31 de janeiro de 2009, o Papa Bento XVI nomeou o autor desse texto, o pároco Gerhard Wagner, como bispo auxiliar de Linz. Por causa do veemente protesto de muitos católicos, incluindo a grande maioria do clero de Linz e da Conferência Episcopal Austríaca, no dia 16 de fevereiro de 2009, Wagner pediu que o papa revogasse a sua nomeação. Assim, foi evitado que ele se tornasse bispo auxiliar de Linz.
A homofobia desempenha um papel ativo na confusão dos conceitos de "homossexual" e "lobby": desvia a atenção de si mesma. Como a homofobia, especialmente em grupos masculinos, tende a esconder não só as tendências homossexuais pessoais, mas também as ambições pessoais e o desejo de poder, ela oferece a mais forte resistência a um discurso crítico interno. Reflexões diferenciadas sobre o tema da homossexualidade ou também sobre o tema do poder, portanto, despertam a suspeita de traição. Esta também, de fato, é uma característica dos grupos masculinos: ao fechamento ao exterior corresponde um alto dever de lealdade em relação ao interior.
Na sessão plenária do Sínodo sobre a família (Roma, 2014), um casal australiano de cônjuges católicos contou sobre a sua experiência real de família, da qual também faz parte um filho homossexual unido a um companheiro. A sua intervenção foi investida de uma crítica veemente, dirigida menos ao conteúdo da mensagem e mais ao fato de ter se pretendido que o Sínodo ouvisse o relato. Eis aqui o rosto da homofobia. Ela não admite o debate. Esse é o seu problema. Porque o debate é como a pasta de dentes que não se consegue mais colocar de volta no tubo. A homofobia vive o debate como uma ameaça e o rejeita, em vez de prestar ouvidos e de argumentar.
O episódio de Roma, porém, também mostra o poder da palavra pessoal. O debate não é despertado "falando de algo" na terceira pessoa do singular, mas falando na primeira pessoa do singular ou plural. A contribuição mais importante para a demolição da homofobia, portanto, é o debate iniciado por um discurso em primeira pessoa. Ao mesmo tempo, é também o mais arriscado, porque nunca devemos perder de vista a proteção das potenciais vítimas. Também por isso, ele não pode e não deve ser simplesmente delegado apenas às pessoas envolvidas. A homofobia é desmascarada falando na primeira pessoa. Esse "falar" deriva normalmente de uma necessidade, do fato de estar envolvido, em nenhum caso de uma tendência ao exibicionismo, como muitas vezes e de bom grado os homofóbicos acusam (veja-se a reprimenda de "falta de vergonha"). Em última análise, é justamente a violência da homofobia que leva as pessoas envolvidas a falarem, o que representa, depois, para os homofóbicos, o medo por excelência.
A homofobia continua atolada em suas próprias contradições. Ela é perigosa, porque, a qualquer momento, como uma fera perseguida, pode atacar sem nenhum respeito, para se salvar. Aqueles que são impulsionados pela homofobia consideram-se vítimas, mesmo se forem carrascos. Livrar-se dela é tão difícil pois, na base da cegueira homofóbica, há uma diferença de percepção que só pode ser resolvida através de uma metanoia radical (Mc 1, 13) no conhecimento e na compreensão de si mesmo. O poder diante do qual a homofobia capitula é a verdade das coisas, expressada na primeira pessoa do singular. O "Eu" que pronuncia a si mesmo é o pequeno Davi que derruba o Golias encouraçado em muito ressentimento, ideologia e racionalizações verborrágicas.
[1] Veja-se o verbete "homofobia" na Wikipédia, https://de.wikipedia.org/wiki/Homophobie (consultado pela última vez no dia 20 de junho de 2016).
[2] Sobre este ponto, ver Ralf Klein, "Ich danke dir, dass du mich so wunderbar gestaltet hast" [Dou-te graças, porque me fizeste como um prodígio], in: Werksstatt schwule Theologie, n. 3/2002, pp. 236 ss.
[3] Pelo menos aqui deveriam ser mencionados e incluídos também os transexuais, para os quais, obviamente, vale o mesmo que para os homossexuais.
[4] É evidente que mesmo aquelas vozes que, no último Sínodo sobre a família (Roma, 2015), se expressaram em favor da eliminação da proibição de discriminação caem nas mesmas contradições do texto.
[5] Klein, ibid.
[6] Sobre esse ponto, ver Peter Winzeler, "Was sagt die Bibel zur Homosexualität" [O que diz a Bíblia sobre a homossexualidade], in Neue Wege, 3/1996, Zurique, 1996, pp. 279ss.
[7] Sobre esse ponto, ver Thomas Hieke, "Kennt und verurteilt das Alte Testament Homosexualität?" [O Antigo Testamento conhece e condena a homossexualidade?], in Stephan Goertz (org.), "Wer bin ich zu verurteilen?", Friburgo, 2015, p. 1952.
[8] Sobre esse ponto, ver Peter Brown, "Die Keuschheit der Engel" [A castidade dos anjos], Munique, 1991.
[9] Wolfgang Stegemann, "Homosexualität – ein modernes Konzept" [A homossexualidade: um conceito moderno], in Zeitschrift für Neues Testament 1 (1998), aqui p. 62.
[10] Platão, Simpósio, 191 e 192b.
[11] "Der beschädigte Eros – Mann und Frau im Christentum" [O eros podre: homem e mulher no cristianismo], Friburgo, 1989.
[12] Cf. Ansgar Wucherpfennig, "O Novo Testamento e a homossexualidade", esboço para uma conferência não publicado, junho de 2016, Frankfurt. Devo a esse texto novas intuições.
[13] Cf. Süddeutsche Zeitung, 30 de julho de 2013.
[14] United States Conference of Catholic Bishop s/John Jay College Research Team, The Causes and Context of Sexual Abuse of Minors by Catholic Priests in the United States, 1950-2002, Washington, D.C., maio de 2011, http://www.usccb.org/issuesandaction/childandyouthprotection/TheCausesandContextofSexualAbuseofMinorsbyCatholicPriestsintheUnitedStates1950-2010.pdf.
[15] Stephen Rosetti, "Aprender com os erros". Conferência no Congresso "Rumo à cura e à renovação", Roma, 7 de fevereiro de 2012.
[16] Cf. Mary HallayWitte, Bettina Janssen (orgs.), "Schweigebruch – vom sexuellen Missbrauch zur institutionellen Prävention" [Romper o silêncio: do abuso sexual à prevenção institucional], Friburgo, 2016.
[17] Bento XVI, Luz do mundo: um diálogo com Peter Seewald, Friburgo, 2010, p. 181.
[18] Boletim Paroquial da Igreja de St. Jakob, Windischgarten, n. 137, novembro de 2005, p.10.
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Sobre a homofobia na Igreja Católica. Artigo de Klaus Mertes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU