Ex-presidenta da Irlanda critica o ensino católico sobre a homossexualidade com palavras duras

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24 Julho 2020

Recentemente, a ex-presidenta da Irlanda, Mary McAleese, denunciou o magistério da Igreja Católica sobre a homossexualidade, dizendo que ele “empodera o valentão homofóbico” e que é o ensino da Igreja, e não a homossexualidade, que é “intrinsecamente mau”.

A reportagem é de Madeline Foley, publicada por New Ways Ministry, 23-07-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

O sítio eletrônico Novena News publicou que McAleese, que presidiu o país de 1997 a 2011, participava de um podcast intitulado “Dive Into Pride” durante a parada do Orgulho, de Dublin, quando fez essas declarações.

McAleese é doutora em direito canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma. Hoje, atua como chanceler da Trinity College, em Dublin.

Ela criticou especificamente a linguagem empregada na descrição da homossexualidade no Catecismo da Igreja, dizendo:

“A igreja descreve os atos homossexuais como intrinsecamente maus. Eu consideraria os ensinamentos da Igreja desordenados e intrinsecamente maus. Por que intrinsecamente maus? Porque conduz à homofobia”.

Ao enfatizar a necessidade de a Igreja desenvolver seus ensinos em diálogo com o conhecimento científico atualizado, notou:

“O ensino da Igreja sobre homossexualidade é ignorante, não está de acordo com a ciência, é triste dizer. Ele nunca esteve sob o olhar das novas ciências e não é apenas uma pena, é pior que isso.

“Vejamos a linguagem empregada: ‘homossexualidade desordenada”. Quem quer acreditar que sua natureza, dada por Deus, é desordenada? Que os atos homossexuais, a maneira como expressam seu amor em um relacionamento afetivo, por exemplo... saber que estas coisas são consideradas intrinsecamente más. Creio que não”.

McAleese também descreveu como o ensino da Igreja pode se tornar prejudicial quando usado para reforçar a homofobia:

“Por sua natureza, essa linguagem do mal e da desordem penetra-se no pensamento e empodera o homofóbico, empodera o valentão homofóbico. Essa linguagem permite a pessoa ser homofóbica e eu acho que a Igreja precisa responder a isso”.

O jornal The Ireland informou que McAleese também criticou o Papa Francisco e o Vaticano, observando que outros cardeais e bispos europeus têm se envolvido em diálogos muito mais progressistas em se tratando de questões LGBTQs. Ela declarou:

“Certos bispos, principalmente na Alemanha, e certos cardeais estão sendo uns verdadeiros defensores a esse respeito. Vejo neles os rebentos de um futuro debate franco. Mas vamos falar do Papa Francisco.

“Muitos vão dizer: ‘Ah, não foi maravilhoso quando ele [o papa] disse: quem sou eu para julgar?’ Eu não fiquei impressionada nesse dia, fiquei é com raiva porque ele, sim, julga. Ele é o juiz supremo da Igreja. Ele é o legislador, é o juiz. Se há algo errado com a lei, a única forma de mudar na Igreja é se ele a mudar.

“Ele é quem preside a legislação que emprega essas frases terríveis: ‘intrinsecamente mau’, ‘intrinsecamente desordenado’”.

McAleese tem um histórico de defesa da igualdade LGBTQ e de críticas à homofobia na Igreja. Recentemente, ela criticou a censura excludente nos materiais preparatórios para o Encontro Mundial das Famílias, de 2018, ocorrido em Dublin.

Mãe de um filho gay, ela apoiou a igualdade no casamento e, em 2015, afirmou que o ensino católico sobre homossexualidade está errado e que a linguagem da Igreja sobre lésbicas e gays pode conduzir à homofobia.

Em 2015, a ex-presidenta falou em um congresso internacional sobre questões católicas LGBTs, promovido pela Rede Global de Católicos Arco-Íris. McAleese também foi consultora jurídica da Campanha pela Reforma da Lei Homossexual que conseguiu descriminalizar a homossexualidade na Irlanda, em 1993.

A disposição de Mary McAleese a ser honesta sobre a homofobia na Igreja é inspiradora, principalmente pelo seu perfil de pessoa pública e especialista em direito canônico. Para que proteja verdadeiramente a dignidade de todas as pessoas, McAleese nos lembra, a Igreja deve abandonar o seu ensino prejudicial sobre a homossexualidade, o qual ajuda a reforçar a homofobia.

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