24 Mai 2021
A 38ª Assembleia Geral do Conselho Episcopal Latino-Americano - CELAM, realizada virtualmente desde a última terça-feira, 18 de maio, encerrou na sexta-feira, 21 de maio. Nas suas observações finais, o seu presidente, Dom Miguel Cabrejos, salientou a paixão de evangelizar, algo muito presente na reflexão do Papa Francisco, como um elemento importante que deve estar presente na Igreja latino-americana.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Seguindo o esquema presente em cada uma das sessões, Dom Rogelio Cabrera conduziu a oração de abertura, na qual, com base na figura de Pedro, refletiu sobre a importância do amor na vida de todos os batizados e da própria Igreja.
O dia começou com a notícia anunciada pela Santa Sé a 21 de maio, a convocação do novo Sínodo dos Bispos, que tem como tema "Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão", a que se referiu Dom Miguel Cabrejos, que apresentou os pontos mais importantes, sublinhando a importância de ouvir todos os batizados. É, segundo o presidente do CELAM, "um Sínodo com uma metodologia sem precedentes", onde podemos dizer que podemos ver muitas marcas presentes na Igreja da América Latina e do Caribe. Neste sentido, o presidente do episcopado peruano salientou que este Sínodo será o quarto eixo do CELAM, que apoiará o desenvolvimento do próximo Sínodo a nível continental.
A Assembleia aprovou a convocação de uma assembleia extraordinária entre os dias 20 e 21 de julho para estudar a questão econômica e a renovação dos estatutos. Não podemos esquecer que a reforma dos Estatutos do CELAM, em vigor desde 2009, foi confiada à presidência em Tegucigalpa, algo que está sendo realizado com a ajuda de uma comissão jurídica, composta por dez pessoas, que iniciou os seus trabalhos em Novembro de 2020, coordenada pelo Padre Marcelo Gidi, que fez uma apresentação dos trabalhos da comissão.
Assembleia do CELAM | Foto: Luis Miguel Modino
A reforma dos Estatutos quer ser um processo que procura caminhar na eclesialidade, comunhão, colegialidade e sinodalidade, ser um gerador de processos, propostas e articulações eclesiais e sociais, levado a cabo através de serviços ágeis e simplificados, com estruturas descentralizadas, procurando lançar as bases de uma Igreja sinodal, passando de uma colegialidade episcopal para uma colegialidade sinodal.
O Padre Gidi apresentou à assembleia os princípios orientadores desta reforma, que se baseia na natureza episcopal e quer caminhar na direção dos desafios evangelizadores do continente: renovação da evangelização, compromisso missionário participativo renovado e enfrentar os desafios. Tudo isto se baseia em princípios orientadores eclesiológicos: dinâmica missionária, comunhão, colegialidade, corresponsabilidade episcopal, sinodalidade e participação efetiva no batismo, e princípios organizacionais: episcopado, decisão-consulta, agilidade, simplificação, descentralização, transparência e responsabilidade, e transversalidade. Foram dados alguns passos, mas ainda há um caminho a percorrer, passos que serão dados no âmbito do processo de renovação e reestruturação do CELAM.
Após o diálogo sobre a reforma dos estatutos, Dom Rogelio Cabrera apresentou uma reflexão sobre os assuntos económicos do CELAM, salientando que está levando a cabo uma profissionalização da Área de Administração e Finanças a fim de Renovação e Reestruturação Pastoral do CELAM. O Conselho de Assuntos Económicos fez uma apresentação do estado das contas da entidade, após a qual o Padre David Jasso mostrou os passos que estão sendo dados no sentido da construção de um modelo de Gestão Administrativa-Financeira do CELAM, que procura profissionalizar, institucionalizar e prestar contas de uma forma transparente.
A 38ª Assembleia Geral do CELAM escreveu três mensagens, ao Papa Francisco, às Conferências Episcopais da América Latina e do Caribe, e ao Povo de Deus, nas quais são recolhidos os elementos presentes na reflexão ao longo dos quatro dias. O conteúdo, que será dado a conhecer uma vez realizadas as reflexões finais, mostra o que o CELAM experimentou nos últimos anos, fruto de uma intensa caminhada de discernimento, na chave da sinodalidade. Reflete também a realidade vivida pelos povos do continente, profundamente marcada pela pandemia da Covid-19, face à qual o CELAM deseja oferecer uma palavra de esperança.
Depois de decidir que a próxima Assembleia Geral do CELAM terá lugar em Porto Rico, onde a 38ª Assembleia Geral estava prevista para este ano, foi apresentada uma síntese dos quatro dias da assembleia. Dom Elkin Fernando Álvarez, Dom Paulo Cezar Costa e Dom Alfonso Miranda, recolheram os diálogos realizados entre os bispos participantes, destacando os pontos fundamentais presentes na reflexão dos prelados.
O CELAM terminou a sua assembleia pedindo ao Espírito Santo, nas palavras do Cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga, que nos ensinasse o discernimento, fazendo uso de todos os dons com que nos dotou desde o nascimento. O cardeal pediu que nos deixemos recriar, e assim encontrar a beleza das origens, que nos deixemos impregnar com o cheiro das ovelhas para depois espalhar na nossa América Latina o bom cheiro de Cristo, que assumamos que podemos escolher Deus porque desde e para sempre fomos escolhidos no Filho pelo Pai na efusão do Espírito. O Arcebispo de Tegucigalpa fez um apelo para continuar o processo de conversão resolutamente missionária que a Igreja tem vivido no continente e pediu a iluminação do Espírito na preparação da Assembleia Eclesial.
Na conferência de imprensa final, Dom Miguel Cabrejos, recordando as suas palavras finais da Assembleia, agradeceu a participação de todos os que participaram na Assembleia e o voto de confiança para continuar no caminho da renovação e reestruturação, apresentando os 5 eixos pastorais presentes na vida do CELAM: Renovação e Reestruturação, a Conferência Eclesial da Amazônia - CEAMA, apoiar o processo de escuta da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, colaborar na preparação do Sínodo sobre a Sinodalidade, e a conclusão da nova sede do CELAM.
Foi uma assembleia na qual, nas palavras de Dom Rogelio Cabrera, "caminhamos ao ritmo do Papa Francisco", que insistiu que "o CELAM está em comunhão teológica e pastoral com a Igreja universal", algo vivido na assembleia. O presidente do Conselho para os Assuntos Econômicos, afirmou que, no CELAM, "estamos conscientes de que os recursos, eles vêm dos bolsos dos fiéis", destacando três critérios para a utilização desses recursos: solidariedade, transparência, austeridade.
Partindo da ideia de que "é o Espírito que continua exortando a Igreja do continente por caminhos de renovação", a Irmã Liliana Franco sublinhou que estamos perante um processo que "tem o seu abrigo na sinodalidade e as suas raízes nessa certeza de que todos nós somos Povo de Deus". A presidenta da CLAR diz ter vivido a assembleia com "a sensação de que nenhum medo pode paralisar a ação do Espírito", insistindo que "no espírito sinodal, as identidades não se dissolvem, nem as vocações", e sim que "no espírito sinodal cada vocação alcança a sua plenitude", tendo claro que de cada vocação somos "todos convocados para aquele mais da comunhão eclesial".
A Irmã vê a necessidade de que isto se exprima em opções, caminhar juntos, atitudes, abertura e escuta, e meios, participação real e ativa. Na sua opinião, "isto tornar-nos-á mais credíveis, facilitará mais no hoje do continente a ação evangelizadora e transformadora da Igreja para torná-la mais encarnada e mais participativa". Destacou também a atmosfera fraterna, que confirma "o valor dos processos e da construção coletiva", vendo a continuidade do processo de renovação como um sim dos bispos à vida, o que nos permite não ficar "no lugar da inércia, das repetições", muitas vezes fruto de ideologias.
Um sim que "alarga o olhar, exige ver com os outros, torna possível continuar a caminhar ao ritmo do Espírito, com uma consciência de processo e sinodalidade". A presidenta dos religiosos da América Latina e do Caribe afirmou que "temos pastores que não se deixam paralisar pelo medo e que ousam a tão necessária transformação". Nesta caminhada, destacou o apelo recebido pela vida religiosa a ser místicos, profetas e missionários, sublinhando "a importância de contribuir com o nosso grão de areia na construção da Igreja".
Em referência ao Sínodo convocado pelo Papa Francisco, Dom Miguel Cabrejos salientou que o CELAM foi chamado a colaborar no mesmo de uma forma especial, para que a preparação possa ser organizada a nível continental. Neste sentido, a Irmã Liliana disse que sentia que "a sinodalidade não está sendo transversal na Igreja, mas sim sendo vertebral". Segundo a Irmã, "algo novo nasceu hoje, e nasceu na Secretaria do Sínodo dos Bispos", sublinhando "a importância do método nos processos sinodais, e que no método temos de dar prioridade à escuta”. É um processo de dois anos em que as Igrejas de base, as Igrejas diocesanas, cada continente e a nível universal terão uma voz principal, o que mostra que "levámos muito a sério que a sinodalidade é a forma de ser e estar na Igreja neste momento", o que requer um método que favoreça a escuta, a participação e a tomada de decisões.
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Encerrou a 38ª Assembleia do CELAM, um sinal de que “caminhamos ao ritmo do Papa Francisco” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU