22 Março 2021
Estava o Papa Francisco aludindo à recente declaração da Congregação para a Doutrina da Fé que dizia que os padres não poderiam abençoar uniões homossexuais porque “Deus não abençoa o pecado”, quando falou no Angelus de hoje, 21 de março? Fontes em Roma informam à America que acreditam que ele estava, mas preferem ficar no anonimato porque não estão autorizados a comentar o assunto.
A reportagem é de Gerard O’Connell, publicada por America, 21-03-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
As fontes destacam que no comentário do Evangelho do Dia, o qual contava que alguns gregos queriam “ver Jesus”, o Papa Francisco disse que muitas pessoas hoje também querem ver, encontrar e conhecer Jesus e então “nós cristãos e nossas comunidades” temos “a grande responsabilidade” de tornar isso possível pelo “testemunho de uma vida que se doa no serviço. Uma vida que toma sobre si o estilo de Deus: proximidade, compaixão, ternura e se doa no serviço”.
Francisco explicou que “trata-se de plantar sementes de amor, não com palavras que voam para longe, mas com exemplos concretos, simples e corajosos; não com condenações teóricas, mas com gestos de amor”. Ele acrescentou que “então o Senhor, com sua graça, nos faz dar frutos, mesmo quando o terreno é árido por causa de incompreensões, dificuldades ou perseguições ou pretensões de moralismos clericais: este é um terreno árido. Precisamente, então na provação e na solidão, enquanto a semente morre, é o momento no qual a vida brota, para produzir frutos maduros em seu próprio tempo”.
Ele disse que “neste entrelaçamento de morte e vida que nós podemos vivenciar a alegria e a verdadeira fecundidade do amor, a qual sempre, eu repito, é dada no estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura”.
De acordo com as três fontes, foi significativo que Francisco tenha chamado os cristãos e Igreja para dar testemunho de Jesus “não com condenações teóricas, mas com gestos de amor” e que ele falou sobre “incompreensões, dificuldades ou perseguições ou pretensões de moralismos clericais” como “terreno árido”.
Eles apontam que muitas pessoas leram o documento da Doutrina da Fé como um julgamento ou condenação e viram que está marcado por muito “legalismo e clericalismo”, distante do espírito pastoral de Francisco, mesmo que o documento tenha aspectos positivos. As fontes sugerem que com o discurso de hoje, o Papa Francisco tenha tentado se distanciar da declaração da Doutrina da Fé – na qual ele deu “assentimento para sua publicação” antes da visita ao Iraque.
Outra fonte vaticana, que pediu para não ser nomeada porque ele não está autorizado a comentar publicamente, disse, “as três palavras – proximidade, compaixão e ternura – que o Papa Francisco repete falam para o coração de todo pai e mãe, de todo pai e mãe espiritual”. Ele disse, “eles são a verdadeira bênção da Igreja e são pastores para toda pessoa, para toda situação”. Ainda, ele acrescentou: “Eles são a verdadeira medida do verdadeiro magisterium quando iluminam as consciências e guiam os fiéis. Todo responsum e a doutrina devem chegar a essa medida”.
Dada a polêmica criada depois da publicação da declaração da Doutrina da Fé, fontes em Roma disseram à America que eles não ficariam surpresos se o papa retornasse à questão de forma mais explícita no futuro.
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Fontes do Vaticano suspeitam que o Papa Francisco se distanciou, na Oração do Angelus, da declaração da Doutrina da Fé sobre uniões homossexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU