12 Março 2021
“O país está morrendo”, segundo a Conferência de Religiosos Haitianos, e “o presidente Moïse deve respeitar a vontade do povo”.
A reportagem é publicada por Vatican News, 10-03-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Pouco mais de um mês após os bispos haitianos soarem o alarme sobre a situação “explosiva” e insustentável no país, a Conferência dos Religiosos Haitianos (CRH) fez uma dura acusação contra o presidente Jovenel Moïse, que segue firmemente no poder apesar de a sociedade civil há muito tempo estar pedindo por sua renúncia, também depois dos escândalos e episódios de corrupção, e a expiração do seu mandato.
O presidente governa por decreto há mais de um ano
Moïse, que pretendia iniciar uma questionada reforma da Constituição, governa por decreto há mais de um ano, já que não há parlamento e as eleições legislativas, inicialmente marcadas para janeiro de 2020, foram adiadas para setembro de 2021, juntamente com as eleições presidenciais.
Ao mesmo tempo, a população haitiana, já atingida pela pobreza e doenças, vê seu futuro cada vez mais incerto, agora ameaçado pela pandemia de covid-19.
Pobreza, inflação, falta de comida e combustível
60% da população vive abaixo da linha da pobreza, a inflação é muito alta e faltam alimentos e combustível. Soma-se a isso a violência perpetrada por esquadrões da morte que espalham o terror por toda parte, em um contexto de “impunidade quase total”, como denunciam os próprios bispos em sua carta pastoral de 2 de fevereiro. No Haiti, de fato, a insegurança e os sequestros estão na ordem do dia. Ninguém está seguro, criando assim um medo geral entre a população.
Perspectiva sombria
Segundo os religiosos haitianos, um mês depois, o “panorama sombrio” descrito pelos Bispos em sua Carta continua piorando cada vez mais:
“Nenhuma decisão séria foi tomada para aliviar o sofrimento das pessoas ou protegê-las das agressões”.
Essa é a queixa contida em uma carta aberta dirigida ao presidente Moïse. “A única coisa que parece lhe pressionar é cumprir seu suposto mandato a todo custo, desafiando as legítimas demandas de toda a população”, escrevem.
“Emerge a pergunta: que sentido tem se agarrar ao poder, inclusive de forma ilegítima ou ilegal, quando mais da metade da população vive em condições de insegurança alimentar crônica? Por que querer a todo custo prorrogar ou revogar uma aparência de mandato sem poder garantir a seguridade da vida e a propriedade, a livre circulação de pessoas? De que serve um presidente ou um governo incapaz de frear o trem da morte que diariamente semeia o luto entre a população?”, cobram na missiva.
Convite de João Paulo II
Recordando o convite feito por João Paulo II para mudar o país, por ocasião de sua Viagem Apostólica ao Haiti em 1983, os religiosos haitianos lamentam como, 38 anos depois, essa mudança tenha sido um giro de 180 graus. E eles escrevem:
“O país está morrendo, a população está sob o jugo, a insegurança se espalha, os mais pobres não aguentam mais, a população está desorganizada e à beira do desespero, o país não é mais governado. Somos testemunhas e vítimas de muitos crimes, muitas injustiças e desigualdades”.
Para a Igreja, a responsabilidade desta “descida ao inferno” recai inteiramente no presidente Moïse, que tem “o dever de dar respostas rápidas e concretas às demandas do povo, começando pelo respeito às leis do país”, concluem.
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Haiti. Alerta dos religiosos diante da situação explosiva no país, da qual responsabilizam o presidente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU