26 Outubro 2020
"A turbulência que perturba a Igreja Católica demonstra a escala e magnitude desse furacão em que o único protagonista forte parece o Papa Bergoglio, porque ele não está tutelando interesses ou buscando saídas de emergência. Ele quer ficar e se opor ao desastre derrubando uma a uma todas as crenças das falsas religiões onde o rosário é mostrado nos comícios contra os refugiados, ou do presidente EUA mostrando a bíblia (do lado errado) em frente à Casa Branca, enquanto sua polícia a cavalo afasta a multidão de um protesto pacífico", escreve Furio Colombo, jornalista e político italiano, foi redator-chefe do jornal L'Unità, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 25-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Jornais e TV são obrigados a abrir com notícias cada vez mais alarmantes sobre a pandemia. É inevitável, porque o risco é grave, está sempre muito próximo, e qualquer um poderia ser o inimigo que traz a infecção para o outro. E nenhum país, nenhum indivíduo poderia se colocar a salvo, como os noticiários diários nos mostra com evidências cruéis.
Mas também o violento confronto nos EUA (que chamamos de "político" e "eleitoral" para tornar o evento compreensível) poderia repentinamente desequilibrar todos os países e todos os cidadãos do mundo, gerando conflitos em cadeia. Enquanto isso, uma divisão perigosa parece prestes a abalar a Igreja Católica. A tentativa é livrar-se de um Papa que vê e descreve, não para a igreja, mas para todos, o que está acontecendo (especialmente o fluxo de lava do falso cristianismo em busca de exclusão, rejeição, fechamento, guerra) porque ele vê os sinais de um Apocalipse que se perfila com toda a violência que séculos de expectativa temerosa (religiosa e não religiosa) deram ao pesadelo da destruição. Os três furacões parecem de fato ligados por um tremor de violentos choques que parecem preceder um terremoto. Quando um presidente estadunidense dá a conhecer e confirma que não aceitará o resultado da votação porque afirma que será falso, reorganiza, às pressas e contra toda razão e tradição, a Suprema Corte de seu país para preparar o apoio mais confiável para a violenta manobra que prepara, é inevitável imaginar um projeto de enfrentamento violento (ou de submissão).
Verifica-se no caso, totalmente inédito na vida estadunidense (e em toda vida democrática) de um líder não reeleito que não pretende mais se expor ao juízo dos cidadãos, estabelece seu quartel geral eleitoral na presidência do país e pretende fazer o desafiante parecer um inútil incômodo.
Se tudo vier a acontecer (é possível devido ao voto do exterior ampliado por correspondência) de acordo com o plano, e com o desdobramento já à vista dos extremistas organizados há tempo, o equilíbrio do maior e mais poderoso país do mundo estaria perdido.
Mas eu disse "voto por correspondência" porque, devido à pandemia do "coronavírus" (uma infecção em expansão ainda não decifrada, ainda não curável), muitos cidadãos não irão às urnas e entregarão votos por correspondência sobre os quais não existe nenhum controle. De fato, nem os cidadãos nem os médicos têm qualquer controle sobre a pandemia que de repente começou a se alastrar no mundo, transformando os sonhos angustiados dos medos da ciência e das profecias das religiões, em uma estranha e incompreensível realidade cotidiana.
Para a pandemia, que permanece sem explicação, as imagens do que acontece aos doentes são a única e tremenda ferramenta de informação de que dispomos. É estranha a relação entre doença, que é necessariamente vivida como uma guerra contra um inimigo incompreensível, e a fragmentação desordenada da política que deveria criar e organizar linhas de defesa e, em vez disso, exibe uma vontade de destruir da mesma qualidade (má e extrema) da doença. Em toda obra de imaginação, neste ponto, se reza. E isso acontece com os crentes, nas formas doutrinárias da relação com Deus e com aqueles que o representam, e com os não crentes, que em todo o caso lançam um pedido de ajuda, mesmo que não saibam por quem seria acolhido.
O terceiro furacão, o ataque áspero e desdenhoso de crentes e cardeais, contra um Papa culpado de difundir e repetir uma linguagem de Deus nunca antes ouvida, nos obriga a nos confrontarmos com um apocalipse misterioso onde o colapso se estende desde as instituições que controlam o mundo até uma igreja que conta muito no mundo, enquanto milhões de as pessoas vivem sua própria agonia solitária, separadas de qualquer instituição e de outras pessoas, até mesmo dos entes queridos.
A turbulência que perturba a Igreja Católica demonstra a escala e magnitude desse furacão em que o único protagonista forte parece o Papa Bergoglio, porque ele não está tutelando interesses ou buscando saídas de emergência. Ele quer ficar e se opor ao desastre derrubando uma a uma todas as crenças das falsas religiões onde o rosário é mostrado nos comícios contra os refugiados, ou do presidente EUA mostrando a bíblia (do lado errado) em frente à Casa Branca, enquanto sua polícia a cavalo afasta a multidão de um protesto pacífico. Portanto, os três furacões são três diferentes faces esquálidas de um tormento que se enreda na imaginação de quem sente um grande perigo, vê desguarnecida a frente de quem o defende (só o Papa Bergoglio? É possível?) e aguarda a chegada muito lenta dos "mocinhos", ciência e política fraterna, como aquela descrita por Francisco em "Fratelli tutti”.
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Os três furacões que assolam o mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU