07 Agosto 2020
"À medida que mais pessoas retornam às missas, eu fico na espera de que as paróquias e os padres lembrem-se daqueles de nós que desejariam desesperadamente poder estar aí, em pessoa. Espero que saibam que aqueles que ficarem em casa querem sentir como se a presença deles, na comunidade de fé, ainda importa e que esta ausência nos bancos está sendo sentida", escreve Christian Mocek, coordenador do setor de doações do Saint Meinrad Archabbey, mosteiro e faculdade de teologia beneditino. Ele mora em Nova Albany, no estado americano de Indiana, com sua esposa e filho. O artigo é publicado por National Catholic Reporter, 06-08-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Quando as missas formam canceladas por causa da pandemia, minha família e eu passamos a assistir, aos domingos, as celebrações via internet. Tentamos muito continuar com o nosso ritual semanal de rezas e adoração. Como outras tantas famílias, montamos um pequeno altar em casa. Acendíamos uma vela. Arranjamos uma estátua de Maria. Nos colocávamos de pé. De joelho. Cantávamos. Nós tentamos.
Nossas paróquias tentaram também. Padres que nunca tinham ouvido sobre “lives no Facebook” rapidamente apreenderam a fazer transmissões ao vivo. Trouxeram tripés e experimentaram ângulos diferentes com suas câmeras. Uns contaram com os paroquianos e seus conhecimentos na área de imagem e vídeo. Todos buscaram dar o seu melhor nestes tempos difíceis.
Conheço um bom número de padres, então o meu Facebook ficou inundado com missas transmitidas ao vivo já nos primeiros dias de pandemia. Diariamente, eu entrava no aplicativo ou no navegador de internet, vendo diversos padres a celebrar a missa em igrejas vazias. Via eles receberem a Comunhão, dar lições e conduzir todos os rituais associados às orações. Estes padres estavam dando o melhor que podiam.
Com o passar das semanas, a experiência de assistir à missa on-line ficou mais difícil para minha família. Por vezes eu perdia as leituras ou a homilia porque tinha que dar atenção à criança pequena que temos em casa. No fim, a missa parecia mais um esporte diante do qual eu era um espectador, do que uma experiência religiosa.
O que, para nós, ficou claro após semanas assistindo missas na internet foi que a experiência se reduzia a ver alguém rezar. Nós, sentados na sala de estar, não estávamos tendo uma experiência sacramental. Estávamos assistindo alguém que estava tendo algo desse tipo. Pelo menos para nós, estes momentos foram frustrantes, mais do que animadores. Então, deixamos de assistir missas virtuais e foi assim durante meses.
Depois de refletir a respeito, cheguei à percepção de que o problema não tinha a ver com a transmissão ao vivo da missa. Sei de muitos que gostam dessa experiência e que é ela que tem ajudado tais pessoas na prática da fé nestes tempos de isolamento. Para mim, é um ministério importante e que deve continuar.
O problema que vejo com a missa virtual é que ela tem sido a única forma de ministério disponível tenho tido em nível paroquial. E porque é a única forma de ministério, é também uma forma inteiramente inadequada.
Tenho visto certa criatividade e engenhosidade no ministério durante estes tempos difíceis. Vi paróquias e padres que mantiveram uma rotina de oração transmitidas todas as noites, orações semanais do rosário, estudos bíblicos virtuais semanais. Vi paróquias organizando palestras on-line e outras formas de aprendizagem. Sei de padres e diáconos que telefonam aos paroquianos para conversar e conferir se está tudo bem.
Acho que temos aqui um bom começo para aquele novo tipo de comunidade que as paróquias estão construindo. Porque, na verdade, estamos passando por um processo de construção de um novo tipo de comunidade. Não haverá uma volta às coisas como eram antes. Como poderia haver? O mundo mudou e nós também.
E, seguindo em frente, este tipo de engenhosidade e criatividade é o que peço aos padres e às paróquias. Em suma: como posso rezar com vocês? Porque eu já me cansei de assisti-los rezar. Sabemos que esta pandemia está longe de acabar e que existem muitas famílias, como a minha, que não vão ver uma igreja por dentro em meses.
Muitos temem voltar a frequentar os templos religiosos por causa dos riscos, e são exatamente esses os que mais precisam da paróquia, hoje mais do que nunca.
Então, as nossas paróquias devem pensar formas de como criar experiências de cultos virtuais e em pessoa, experiências que sejam comunitárias e significativas. Quais recursos podemos enviar aos paroquianos como apoio à oração em família? Como podemos apoiar as famílias novas, os idosos, os laços familiares na experiência de fé? O que precisamos fazer para conectar as pessoas em uma época na qual essas coisas estão escassas?
À medida que mais pessoas retornam às missas, eu fico na espera de que as paróquias e os padres lembrem-se daqueles de nós que desejariam desesperadamente poder estar aí, em pessoa. Espero que saibam que aqueles que ficarem em casa querem sentir como se a presença deles, na comunidade de fé, ainda importa e que esta ausência nos bancos está sendo sentida.
Na medida em que o tempo passa, lembremos que o ministério virtual não deve ser somente uma missa com transmissão ao vivo. Espero que ampliemos e continuemos as coisas boas iniciadas nestes tempos. Espero que saibamos que as coisas serão diferentes e devem ser diferentes.
Se não lembrarmos, pelo menos saberemos quais serão as consequências. Haverá bancos vazios e igrejas vazias porque, quando a crise chegou, a única coisa que muitos sabiam fazer era se esconder por trás do altar.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Prezados padres e paróquias: Eu quero rezar com vocês, não assisti-los rezar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU