27 Mai 2020
"Os locais de culto poderão estar fechados, mas nossa igreja entendida como comunidade não o é. Nunca foi fechada, mas permaneceu aberta. Tentamos (e continuamos a fazê-lo) transportar nossa vida comunitária, as nossas relações fraternas, os laços na sociedade como um tesouro através desse período de distanciamento forçado, de modo a não permitir momentos de isolamento, de solidão e de desconforto tivessem a melhor", escreve Anne Zell, em artigo publicado por Riforma – semanal das igrejas evangélicas batistas metodistas e valdenses, 27-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Respirar finalmente. A plenos pulmões.
Sentindo-se revigorados e renovados. Que o vento de Deus possa soprar em nossas cidades sufocadas, e que possamos nos abrir a novos ares e às inspirações que isso nos trará! Por muitos dias, por longas semanas, foi como se estivéssemos sem fôlego, aqui em Brescia, na Lombardia em particular, e em muitos lugares.
Com respiração suspensa a cada sirene de ambulância.
Relegados para nossas casas (sortudos e sortudas quem a possui), que nem para todos e todas era refúgio seguro, mas às vezes justamente um lugar de convivência sufocante. Sem fôlego e sem palavras diante de tantos lutos. Este Pentecostes ainda será marcado pela presença do Covid-19, esse vírus que ataca o trato respiratório, que custou a vida da porção mais fragilizada da população e que limita há meses a nossa cotidianidade e a nossa convivência. Não poderemos nos convocar, “a multidão em procissão” (Salmo 42, 4), este ano, como é habitual, por exemplo, em Brescia, para celebrar a "festa dos povos", que reúne no Pentecostes não apenas os cristãos de diferentes culturas, idiomas e confissões, mas também de convidados de outras comunidades religiosas.
Como a Páscoa, como para os muçulmanos nestes últimos dias, a festa do final do Ramadã Eid-al Fitr, o Pentecostes ainda será uma festa condicionada pela obrigação do distanciamento social. Mas isso não impedirá o Espírito de diálogo, Espírito que nos ajuda a entender além de nossas diversidades, cultivar ainda mais a amizade e, aliás, tornarmo-nos ainda mais conscientes da importância de nossos diálogos que são um dom que não deve ser dado como certo, mas pelo qual “orar ao Altíssimo, para que nos faça permanecer unidos em servir a paz”, como ressalta o imã Amin em sua resposta aos cumprimentos para a festa da comunidade que representa. Este ano, no Pentecostes, festa dos "primórdios da igreja", muitos de nossos locais de culto ainda estarão fechados. Porque celebrar na situação atual a comunhão, dom do Espírito, realmente significa renunciar, não se encontrar ainda pessoalmente, para não pôr em risco a saúde dos mais frágeis.
Os locais de culto poderão estar fechados, mas nossa igreja entendida como comunidade não o é. Nunca foi fechada, mas permaneceu aberta. Tentamos (e continuamos a fazê-lo) transportar nossa vida comunitária, as nossas relações fraternas, os laços na sociedade como um tesouro através desse período de distanciamento forçado, de modo a não permitir momentos de isolamento, de solidão e de desconforto tivessem a melhor.
O Espírito sopra onde quer. Sua força inovadora não pode ser limitada ou interrompida; assim, em todo culto, estudo bíblico ou debate nas diferentes plataformas virtuais, no Facebook ou Youtube, em cada telefonema, através do éter e em rede, o Espírito percorre novas formas de cruzar muros e colmatar distâncias e levar a Palavra de consolação, encorajamento e nova vida a quem estiver ouvindo.
Comemoramos o Pentecostes este ano mais conscientes da fragilidade e limitação da vida, mais conscientes também da importância da reciprocidade, da solidariedade e a união da família humana. Invocaremos ao Espírito que saiba como impedir-nos de retornar à vida de sempre, mas que possa nos tornar ousados e confiantes em sua força renovadora, aliás, recriadora (Salmo 104, 30).
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Pentecostes, sopro vital em nome do diálogo e além do isolamento forçado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU