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07 Abril 2020

"A cela do mosteiro pode se tornar a cela do prisioneiro. É por isso que nos sentimos mais próximos do que nunca daqueles que são forçados a viver em um alojamento, em um espaço pequeno, no anonimato das cidades e em uma solidão que não pertence à vocação humana".

O comentário é do monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, publicado por La Repubblica, 06-04-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o texto.

Precisamente porque a pandemia não olha na cara de ninguém e gera medo em todos, até em nós, monges, que embora tenhamos uma "vida diferente", sofremos e esperamos como os outros, com sentimentos, emoções e atitudes moldadas pelo nosso modo de viver. Continua sendo verdade que nós, monges, deveríamos ser treinados para observar essas restrições. De fato, passamos a maior parte das horas e dias vivendo em uma cela, em uma condição de solidão e silêncio; e quando estamos juntos para a oração, as refeições ou a comunicação fraterna, desfrutamos do sóbrio consolo de estarmos próximos uns dos outros.

Nós conhecemos especialmente a dificuldade de ficar sozinho, em um silêncio que não é vazio, mas permite a escuta, exercício do pensamento, a leitura, a oração. Todo mundo conhece o lema monástico "ora, lege et labora", que é "ore, leia e trabalhe". Sim, estar em uma cela significa uma luta corpo a corpo com os maus pensamentos, com os impulsos animalescos que nos habitam, com os abismos infernais do desespero e com o tédio, a acídia, ou seja, a aversão pela vida interior. A cela do mosteiro pode se tornar a cela do prisioneiro. É por isso que nos sentimos mais próximos do que nunca daqueles que são forçados a viver em um alojamento, em um espaço pequeno, no anonimato das cidades e em uma solidão que não pertence à vocação humana.

Agora que passam a faltar muitos empregos na comunidade, especialmente aqueles ligados à hospitalidade, que está suspensa, há mais tempo para orar. E muitos hóspedes esperam de nós especificamente esse serviço de oração, de intercessão, que aumentou neste período trágico. Mas a nós, monges, não basta orar. Fazemos isso com assiduidade e convicção, mas não é o objetivo de nossa vida.

A oração continua sendo um meio, um instrumento para aumentar a caridade humana mútua: o único fim da vida de todo cristão é de fato o amor ao próximo.

Por outro lado, a vida monástica sempre teve como elemento essencial a hospitalidade ao pobre, ao viajante e ao que está em busca. Se faltam os hóspedes, não há possibilidade de exercer o serviço ao outro; ser visitados pelo próprio Cristo, como escreve a Regra de Bento ecoando o Evangelho; do encontro de rostos e da beleza dos abraços. Se faltam os hóspedes, falta algo essencial à nossa vida monástica cenobítica.

Nestes dias nos sentimos impotentes: não podemos sair do mosteiro, não temos o ministro dos presbíteros, chamados a estar no meio do rebanho para acompanhar todos e confirmar na fé e na esperança.

Podemos nos engajar em formas de ajuda econômica, pelo menos para aqueles que sofrem de escassez ou mesmo fome, e com os meios de comunicação possíveis, devemos manter vivas as relações e alcançar as pessoas sozinhas, frágeis, deficientes e idosas que vivem estes dias com dificuldade e angústia. Mas como nos sentimos impotentes, e todos frágeis, no mesmo barco!

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