20 Mai 2020
A Semana de Laudato Si' foi assumida pela Igreja do Brasil como uma prioridade, participando das celebrações que serão realizadas em diferentes partes do mundo. Nesta reflexão, a Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem um papel de destaque, preparando uma nota intitulada: “Ecologia Integral: um caminho de vida e de cura para um planeta doente. Lições e desafios da encíclica Laudato Si’ depois de 5 anos de sua publicação”.
A nota é de Luis Miguel Modino.
Não podemos esquecer que esta semana de Laudato Si' está sendo celebrada em um momento que “deixará uma marca definitiva na história da humanidade e do planeta Terra”, como afirma a carta assinada por Dom Sebastião Lima Duarte, bispo da Diocese de Caxias – MA, e Presidente da Comissão Especial de Ecologia e Mineração Integral da CNBB, e Dom Vicente de Paula Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte – MG, e Secretário da Comissão acima mencionada. Vivemos um tem em que "aconteceu o que parecia impossível, parar a maquinaria produtiva", algo que não é visto como um simples acidente e que causará sérias conseqüências no curto e no médio prazo, principalmente para os mais pobres.
A nota lê o legado da encíclica, destacando seus pontos fundamentais, que ajudam a entender o que está acontecendo hoje em nossa casa comum, onde "tudo está interligado". A partir daí, ele denuncia a raiz humana da crise, opondo-se à necessidade de assumir a ecologia integral e a conversão ecológica como base de uma nova cultura que tem como fundamento o bem comum e a solidariedade, buscando mudar a cultura do consumismo pela proposta de “bem viver". Nesta perspectiva, destaca-se a importância de Querida Amazônia, como uma continuidade de Laudato Si'.
A Comissão de Ecologia Integral e Mineração da CNBB quer nos fazer entender que o mundo está adoecido, como consequência de três crises: aquecimento global, redução da biodiversidade, abuso de pesticidas pelo agronegócio. No Brasil, isso é especialmente notável na Amazônia, próxima ao ponto de não retorno, o que não impede os planos perversos do lobby ruralista com o apoio do governo. Vivemos uma séria ameaça, causada pela dinâmica da produção-acumulação-desperdício. Nesta perspectiva, recorda-se que "ainda há tempo, Francisco nos diz, mas agora é a hora!"
A proposta que nos é apresentada é entrar no caminho da conversão, pois a parada obrigatória da humanidade teve conseqüências muito positivas para o planeta. Não podemos esquecer, de acordo com a nota, que "a velocidade humana ultrapassa a velocidade da natureza e a Terra pede uma quarentena, um sossego, um momento de paz para poder refazer suas forças", porque, como insiste o Papa Francisco, "essa economia mata". Assim, surge uma disputa entre ciência, ambientalistas, religiosos, ativistas sociais e o mundo da economia política.
Diante disso, é cada vez mais necessária uma aliança coletiva, que Laudato Si' expressa com o nome de ecologia integral, que exige "uma economia com alma", que alguns vêem refletida na chamada "Economia de Francisco e Clara, baseada no feminino, no cíclico, na acolhida, no cuidado e no afeto”. Isso deve nos levar a escolher a “sobriedade feliz”, insistindo que “na post-pandemia, não podemos permitir que, mais uma vez, a política se submeta à economia”. A alternativa vem de “fortalecer a iniciativa e o papel das comunidades”.
Também são apontados elementos para a vida da Igreja, que devem promover uma “continuidade fluida entre a formação, a ação e a celebração cristã", bem como uma catequese que possibilite " uma descoberta emocionada da responsabilidade de cuidadores da Casa Comum” e juventudes que possam, com o apoio de todos, “assumirem com criatividade a missão de pensar e construir iniciativas de promoção e defesa da vida em todas suas instâncias”.
Estamos celebrando cinco anos da Laudato Si’, encíclica de Papa Francisco que aborda a dimensão socioambiental da fé e da evangelização. Com a encíclica, a Igreja Universal entra no século XXI assumindo, de forma apaixonada e comprometida, a defesa integral e integrada da criação: propõe a conversão ecológica no relacionamento da humanidade com os demais seres criados. A Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), participa das celebrações sobre a Laudato Si’, que serão realizadas em diversas partes do mundo. Queremos celebrar, valorizar e aprender os caminhos que a Laudato Si’ nos indica hoje, em comunhão com a Igreja, com a Terra e com os pobres da terra.
O ano de 2020 deixará uma marca definitiva na história da humanidade e do planeta Terra. A pandemia do Covid 19, que dizimou tantas vidas humanas, afetou todos os ritmos e as dinâmicas de produção, consumo, acumulação e desperdício que marcaram a economia-mundo nos últimos séculos. Aconteceu o que parecia impossível, parar a maquinaria produtiva. Mas a pandemia não é um simples acidente de percurso na história socioambiental do nosso mundo globalizado. Ela é o resultado de um conjunto de opções feitas ao longo dos últimos anos, que vulnerabilizam os corpos humanos, com alimentos cada vez mais processados e dependentes do uso intensivo de agrotóxicos e pesticidas, conectadas a um modo de produção e consumo que desmata, polui e aquece o planeta, que também empobrece uma parte crescente da humanidade.
Os últimos 40 anos foram de aprofundamento da desigualdade relativa e mesmo, crescentemente, absoluta. Os pobres não ficaram apenas mais pobres em relação aos ricos, mas também em relação a eles mesmos no passado. O combate à fome, que vinha diminuindo-a ate 2014, perdeu sua força por três anos consecutivos (2017-2019), está agora de volta ao nível de 2011. Com isso, o drama da fome deve aumentar tremendamente nos próximos meses, em função da crise econômica que se avizinha. Relendo a Laudato Si’ em tempos pandêmicos, percebemos toda sua intensidade profética. Como nos alertou o Papa Francisco: “É impossível sermos saudáveis em um planeta doente”.
Na encíclica, o Papa Francisco convoca o mundo inteiro para reflexões e ações sobre o tema da Ecologia Integral: “com efeito, sabemos que toda a criação, até o presente, está gemendo como que em dores de parto” (Rm 8, 22).
Partindo de uma impactante visão da realidade, que aborda o que está acontecendo com nossa casa comum: poluição, mudanças climáticas, questão da água, grave perda da biodiversidade, revela que “hoje, a análise dos problemas ambientais é inseparável da análise dos contextos humanos, familiares, laborais, urbanos, e da relação de cada pessoa consigo mesma, que gera um modo específico de se relacionar com os outros e com o meio ambiente” (LS, 141).
No Evangelho da Criação, Deus, que tudo criou por amor, deu ao ser humano a importante vocação de ser o guardião da criação. Lembrando que “tudo está interligado. Por isso, exige-se uma preocupação pelo meio ambiente, unida ao amor sincero pelos seres humanos e a um compromisso constante com os problemas da sociedade” (LS, 91). Se faz necessário abordar o tema da criação desde sua estreita relação com a pessoa de Jesus Cristo, porque “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois é nele que foram criadas todas as coisas, no céu e na terra, os seres visíveis e os invisíveis” (Cl 1, 15-16).
A crise ecológica tem uma raiz humana, manifestada no risco de irresponsabilidade diante da falta de padrões éticos que regulam o desenvolvimento. Assim, a nova cultura ecológica deve construir um paradigma diferente do atual modelo capitalista neoliberal, baseado nos avanços da biotecnologia, da informática e da biogenética, que impõe sobre as culturas uma engenharia criminosa, erguida sobre um modelo extrativista predatório.
A ecologia integral nos ensina que tudo está interligado na casa comum. De modo que “não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise sócio-ambiental” (LS, n. 139). É urgente uma conversão ecológica que seja capaz de construir uma nova cultura, pautada na vida integral dos seres humanos e do meio ambiente. Para isso, o princípio do bem comum e da solidariedade torna-se o horizonte de construção de uma nova civilização. Trata-se de um longo processo que deve contar com a colaboração de lideranças políticas e religiosas de todo mundo, envolvendo uma conversão tanto individual quanto coletiva.
Se fazem necessárias linhas de orientação e de ação para mudar a cultura pautada no consumismo, a partir de diálogos no plano da política internacional, nacional e local, promovendo uma economia que contribua para a defesa da dignidade da vida. Também aí, as religiões têm importante contribuição e devem aprofundar seu debate com as ciências e as artes.
No plano da educação e espiritualidade ecológica, o Papa volta a nos lembrar a urgência de passarmos de uma cultura baseada no consumismo para um estilo de vida orientada pelo princípio do “bem viver”. Para tanto, a conversão ecológica deve envolver instâncias como educação e a família, apontando para o mistério da Trindade enquanto mistério de comunhão que nos criou para a fraternidade. “Na verdade, a pessoa humana cresce, amadurece e santifica-se tanto mais, quanto mais se relaciona, sai de si mesma para viver em comunhão com Deus, com os outros e com todas as criaturas. Assim assume na própria existência aquele dinamismo trinitário que Deus imprimiu nela desde a sua criação. Tudo está interligado, e isto convida-nos a maturar uma espiritualidade da solidariedade global que brota do mistério da Trindade” (LS, n. 240). O Papa Francisco conclui sua encíclica exaltando Maria como Mãe e Rainha de todas as coisas criadas.
O documento Querida Amazônia, sobre o grande trabalho do Sínodo, reflete a continuidade e a urgência de levar a sério a Laudato Si’, não somente em âmbito eclesial, mas de igual modo nas responsabilidades políticas de todas as nações para com o mundo que vivemos.
No ano de 2020, segundo muitos cientistas, confluem três crises estruturais, que se reforçam mutuamente e criam o que vem sendo chamado de “tempestade perfeita”. Assim, a pandemia se soma a um tecido econômico profundamente adoecido, de concentração de riqueza para poucos e com um enorme potencial predatório. Um sistema ecocida e suicida, com corpos frágeis e vulneráveis.
A primeira crise é a do aquecimento global. Os níveis de redução de emissão de gases de efeito estufa, a que os países se comprometeram em Paris em 2015, ano de publicação da Encíclica, jamais foram cumpridos. Estamos muito próximos ao ponto que os cientistas definem como uma “mudança climática desenfreada”, um quadro com uma imprevisibilidade imensa, onde os pobres pagarão o mais alto preço por uma realidade que eles não ajudaram a criar. Lembremos que os 10 % mais ricos do planeta emitem mais de 75% dos gases de efeito estufa!
Aliada a esta, vivemos uma dramática crise da redução de biodiversidade em todo o planeta. As taxas de extinção de espécies são tão altas, que os cientistas afirmam que vivemos a “sexta grande extinção”. Neste contexto, com os biomas cada vez mais deteriorados, aumentam os riscos de que doenças de origem animal, zoonoses, se transformem em pandemias como a que atravessamos agora, ou ainda mais graves.
A terceira crise é o adoecimento coletivo dos organismos, intoxicados pelos agrotóxicos e venenos do agronegócio. Vandana Shiva afirma que o paradigma da agricultura industrial nasceu da “ilusão que as plantas e os animais são máquinas para fabricar matérias primas que se convertem em combustíveis para nossos corpos, que também são máquinas”.
Uma dieta crescentemente carnívora, com aumento extensivo da criação de gado e da produção de ração animal, é a causa mais forte do desmatamento no País. A Amazônia está chegando muito rapidamente ao ponto de não retorno, além do qual será impossível impedir sua savanização!
Apesar destas ameaças, os planos do lobby ruralista são perversos: apresentam-se ao Governo propostas e projetos de lei para uma reforma agrária a favor da concentração de terras e da legalização de “propriedades” conseguidas através da ocupação ilegal de terras públicas, especialmente na Amazônia, frequentemente através da prática comum de incendiar e cercar áreas de floresta.
Se “tudo está interligado”, também está tudo ameaçado pela mesma dinâmica de produção- acumulação-desperdício. Os grandes donos do mundo já estão planejando a volta a um normal que, se estiver entregue a sua lógica, será ainda mais devastador que antes.
A saída da “complexa crise socioambiental” em que estamos imersos não será simples nem, necessariamente, positiva. Temos a obrigação moral, ética e espiritual, de disputar o futuro, não permitindo que a lógica extrativista, presente no coração de todo este sistema, que se tornou “normal” até aqui, volte a funcionar com toda a sua voracidade.
Os fatos demonstram que, até agora, esta lógica extrativista se impôs sobre o bem-estar das comunidades: mesmo tendo acontecido em 2015 o crime ambiental de Mariana, com a morte de 19 pessoas e a contaminação da bacia do Rio Doce, o modelo mineiro não foi colocado em discussão, nem corrigido. Seguiu, com maior violência criminal, o desabamento da barragem da Mina do Feijão, em Brumadinho, matando 272 pessoas e prejudicando o ecossistema da bacia do Rio São Francisco.
Mesmo assim, o Governo parece apontar a perspectiva de retomada do vigor econômico flexibilizando ainda mais as leis ambientais e liberando a mineração nas terras indígenas!
Seja em relação ao minério, ao petróleo, à água ou às florestas, é urgente passarmos a uma forma de vida pós-extrativista, inclusive pela profecia de uma Igreja que ouse retirar seus investimentos financeiros de todo tipo de extrativismo predatório! Precisamos re-aprender a respeitar as dinâmicas metabólicas do planeta, o ritmo e os ciclos das águas, das estações, da vida.
O Papa é claro ao dizer que precisamos de uma “revolução cultural” e a nos indicar que a dinâmica de conversão é exigente e profunda. Como pessoas e como Igreja, precisamos dar passos decisivos. “Ainda há tempo, nos diz Francisco, mas o tempo é agora!”
Nesses tempos de pandemia do Coronavírus, a humanidade foi obrigada a reduzir ou até cancelar grande parte de suas atividades econômicas e sociais: fábricas, comércio, transportes (inclusive aviões), lazer, enfim, todo tipo de aglomeração ou evento que proporcione transmissão do vírus. O que se vê por todo o planeta chega a ser surpreendente: o ar ficou mais limpo em várias partes do mundo; águas de rios estão mais claras; o silêncio reina em grandes cidades; animais selvagens adentram livremente pelas ruas das cidades; ursos pescam salmões em rios onde há décadas não pescavam; até os sismógrafos captam uma menor vibração do planeta Terra.
Essa parada da humanidade, diminuindo rapidamente a “rapidación” da sociedade, da qual fala o Papa Francisco (LS, 18), não veio por uma opção consciente, mas pela imposição mortal de um vírus para o qual ainda não existe remédio ou vacina, a não ser adotar o isolamento social.
Essa “nova normalidade” deveria ser o cotidiano permanente da humanidade. Ela indica que a velocidade humana ultrapassa a velocidade da natureza e a Terra pede uma quarentena, um sossego, um momento de paz para poder refazer suas forças. "Essa economia mata”, insiste Papa Francisco (EG, 53).
Vários setores da ciência, ambientalistas, religiosos, militantes sociais já previam esses acontecimentos pela lógica dos fatos, mas não eram ouvidos ou considerados. O mundo da economia política não pode considerar essa realidade sem ter que mudar para uma nova economia.
O Papa nos chama para uma nova economia, “uma economia com alma”, que muda radicalmente a relação da humanidade com a Mãe Terra, numa conversão ecológica que nos implique pessoal, familiar, comunitária e espiritualmente.
Alguns a chamam de “Economia de Francisco e de Clara”, que assume uma compreensão circular dos processos produtivos e de consumo: “baseada no feminino, no cíclico, na acolhida, no cuidado e no afeto, pressupõe uma transição radical nos modos e nas formas de produção linear, masculinizada, que impôs uma visão de progresso baseada na extração” (Articulação Brasileira da Economia de Francisco).
Podemos optar pela “sobriedade feliz”, que nos libere do culto à materialidade e da obsessão do consumo, vivendo com abundância de qualidade de vida, começando por nosso bairro, pela cidade onde moramos, pelo país que pertencemos, até chegar a uma consciência global. Biologicamente somos todos interligados, como seres humanos, com todos os seres vivos e não vivos da Terra.
No contexto extremamente frágil e desafiador do post-pandemia, não podemos permitir que, mais uma vez, a política se submeta à economia. Trata-se de redefinir o progresso, com estratégias de mudança de longo prazo, investimentos públicos nos bens comuns da saúde, da educação, da preservação dos biomas, das energias limpas.
Precisamos fortalecer a iniciativa e o protagonismo das comunidades, porque “a instância local pode fazer a diferença” (LS 179), como há tempo acontece nas lutas concretas da economia solidária e da agroecologia, na defesa dos territórios indígenas e comunidades tradicionais, na recuperação de rios e nascentes, na captação da água de chuva para beber e produzir, na preservação dos biomas e sua biodiversidade, na garantia de saneamento básico nas cidades...
Finalmente, celebrar a Laudato Si’ significa trazer suas denúncias, sonhos, intuições e propostas para o cotidiano da vida litúrgica e pastoral de nossa Igreja, numa continuidade fluida entre a formação, a ação e a celebração cristã.
A catequese e a iniciação à vida cristã podem se tornar uma descoberta emocionada da responsabilidade de cuidadores da Casa Comum, onde o Criador nos chama a vivenciar a “fraternidade universal”, em harmonia com todas as criaturas por Ele criadas e por Ele amadas. As juventudes, daqui em diante, estão desafiadas e devem ser apoiadas a assumirem com criatividade a missão de pensar e construir iniciativas de promoção e defesa da vida em todas suas instâncias. As celebrações da Palavra e da Eucaristia se abririam a uma dimensão cósmica de comunhão com todas as criaturas, de escuta reverencial da voz e do grito da Terra e de seus povos, de resposta apaixonada à missão, para que tudo tenha vida abundante.
“Caminhemos cantando; que as nossas lutas e a nossa preocupação por este planeta não nos tirem a alegria da esperança” (LS 244).
Em maio de 2020,
Dom Sebastião Lima Duarte
Bispo da Diocese de Caxias – MA
Presidente da Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração - CNBB
Dom Vicente de Paula Ferreira
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte
Secretário da Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração - CNBB
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