18 Mai 2020
Dom Heiner Wilmer criticou a fixação pela Eucaristia, neste período de confinamento, como uma visão limitada da fé cristã.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por La Croix International, 14-05-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Christa Pongratz-Lippitt escreve de Viena, onde vive e trabalha como repórter e comentarista sobre temas católicos para publicações de língua alemã.
Os católicos da Diocese de Hildesheim, no norte da Alemanha, poderão realizar celebrações litúrgicas públicas novamente a partir deste sábado, 16 de maio, mas o seu líder espiritual diocesano, Dom Heiner Wilmer, está pedindo que não comecem imediatamente com a realização de missas. Dom Heiner Wilmer solicita que, primeiro, sejam feitas Celebrações da Palavra em pequenos grupos por um determinado tempo até que a ameaça do coronavírus esteja afastada.
“Espero que nos reunamos e tenhamos novas experiências com formas renovadas e outras já familiarizadas de oração. Estou convencido de que essas formas novas nos levarão e nos fortalecerão assim como fizeram nas últimas semanas”, disse o Wilmer, bispo de 59 anos à frente da Diocese de Hildesheim há pouco menos de 24 meses.
“Aos poucos e com muito cuidado, podemos voltar a celebrar a Eucaristia a nosso próprio critério”, acrescentou ele em uma carta enviada na semana passada aos católicos de sua jurisdição.
Ex-superior-geral dos Padres do Sagrado Coração (dehonianos), Wilmer sublinhou a necessidade de extrema cautela no planejamento de todo e qualquer encontro religioso ou celebração.
Hildesheim é uma das últimas 27 dioceses católicas da Alemanha a encerrar o confinamento (“lockdown”) litúrgico em vigor desde 16 de março.
Missas com transmissão ao vivo e “fixação pela Eucaristia”
Durante esse tempo, Wilmer virou motivo de manchetes quando expressou a sua inquietação com respeito às missas transmitidas ao vivo e com o que chamou de “fixação pela Eucaristia”.
“As pessoas têm se comportado como se a sua religiosidade fosse desmoronar caso não vão à missa ou não recebam a comunhão”, disse no mês passado em entrevistas publicadas no sítio eletrônico Deutschlandfunk.de e no jornal Kölner Stadt-Anzeiger, de Colônia.
O religioso ressaltou que sempre houve momentos na história cristã em que as pessoas não puderam celebrar a Eucaristia e que, mesmo assim, a crença em Deus não cessou.
“Não acho bom que neste momento as missas sejam transmitidas das capelas e salas de estar, pois isso mostra o quão pobre (na fé) nos tornamos”, disse ele.
O bispo diocesano deixou claro que não estava subestimando a importância da Eucaristia.
“É claro que ela é importante, mas a reação de alguns dos fiéis (à crise do coronavírus) é superestimar a Eucaristia (e se comportar como se) não houvesse nada mais”, disse.
“Segundo o Concílio Vaticano II, o Senhor não se faz presente apenas na Eucaristia, mas também nas Escrituras e na Bíblia. Devemos levar a sério as palavras de Cristo: ‘onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”, lembrou o religioso.
Ele disse que não se opõe à oração conjunta “pela internet e com a ajuda dos meios modernos de comunicação”, e sim a celebrações eucarísticas.
Wilmer disse achar também que os católicos têm sentido a falta de estar juntos e adorar em comunidade.
“Ninguém crê sozinho. Nossa fé é comunitária. Alguém ou outras pessoas estão comigo na caminhada. Precisamos uns dos outros. Nós, seres humanos, somos ordenados em direção aos nossos semelhantes, e é isso o que nos tiraram neste momento”, explicou.
Ele disse ainda que acreditava que as igrejas vazias que vemos hoje sejam, talvez, a antecipação de um futuro não muito distante.
“Esta situação é possivelmente um reflexo de algo com o qual deveríamos estar lidando com muito mais rapidez do que estamos preparados a admitir”, disse o bispo.
O prelado criticou também os católicos que insistem que o coronavírus é uma mensagem divina ou que a água benta tem propriedades curativas.
“Para mim, a fé sem razão é suspeita”, disse Wilmer.
Ele também convidou os fiéis a abandonarem noções estáticas e preconcebidas de Deus.
“Colocamos Deus em uma caixinha, amarramos uma fita vermelha em volta dela e daí pensamos: ‘É isso. Isso mesmo. É assim que Deus é. Eis a minha imagem d’Ele’. Desse tipo assim isso não serve”, refletiu.
“A crise atual mostra que a vida é imprevisível e, acima de tudo, que Deus permanece um mistério. Ele não é alguém que possamos aplacar com sacrifícios”, acrescentou.
O bispo alemão novo disse que passou este período de confinamento por Covid-19 fazendo o melhor que pôde para estar perto do povo, apesar do distanciamento social necessário.
Isso incluiu manter contato próximo com as pessoas via telefone, Skype e WhatsApp.
Ao refletir sobre os últimos meses, falou: “Nunca foi tão importante ficarmos a sós”.
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Bispo alemão pede por encontros bíblicos reduzidos antes de retomada das missas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU